Vitória "fraquinha" de Temer pode não resistir a 2ª denúncia, diz cientista político
O cientista político e professor titular da UnB David Fleischer afirma que a maioria conquistada pelo presidente Michel Temer (PMDB) nesta quarta-feira (2) tende a não se repetir diante de uma eventual nova denúncia feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra ele.
Para Fleischer, a vitória de Temer foi "fraquinha" e a diferença entre os votos a favor e contra o presidente mostra que a coalizão do peemedebista estaria no limite.
A Câmara dos Deputados aprovou, por 263 votos a favor e 227 contra, a suspensão da denúncia feita pela PGR contra Temer por corrupção passiva no esquema de pagamento de propina por executivos da J&F, grupo que controla a JBS.
O caso foi revelado pela delação de executivos do grupo como o empresário Joesley Batista. Temer nega seu envolvimento no caso.
Para o governo, era preciso que a oposição não conseguisse os 342 votos para que a denúncia fosse encaminhada ao STF (Supremo Tribunal Federal). Com os votos da base aliada, a denúncia foi suspensa e só voltará a tramitar quando Temer perder o foro privilegiado.
Para Fleischer, apesar de o governo ter conquistado 263 votos, a diferença de apenas 36 votos para os que votaram pelo prosseguimento da denúncia mostra que o governo tem pouca margem para erro.
"Foi uma vitória muito fraquinha do governo. Depois de tudo o que gastaram com a liberação de emendas e de cargos para os parlamentares, foi uma diferença muito pequena. Não sei se essa diferença vai resistir se houver uma segunda denúncia", afirmou o cientista político.
A menção de Fleischer à liberação de cargos e emendas parlamentares faz referência à acusação feita pela oposição de que o governo Temer teria oferecido benesses em trocas de votos.
Fleischer avalia que o apoio dado a Temer se deveu à crença dos deputados de que o presidente pode beneficiá-los agora e que isso pode ajudá-los a se reeleger em 2018.
O professor diz, contudo, que as informações que deverão surgir a partir das delações premiadas do doleiro Lúcio Funaro, apontado como um dos principais operadores do PMDB, e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) podem "mudar o jogo".
"Tanto a nova denúncia contra Temer quanto essas delações podem mudar o jogo. Devem surgir informações novas que vão colocar os deputados, novamente, na berlinda. Se ele [Temer] tivesse tido uma vitória com cem votos de diferença, tudo bem. Mas foram menos de 40. É uma margem muito pequena", afirmou.
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