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Moro diz que não é "senhor da razão" nem "motivador de multidões"

A fala de Moro soou como uma resposta às críticas que costuma sofrer - Marcelo Chello/CJPRESS/Estadão Conteúdo
A fala de Moro soou como uma resposta às críticas que costuma sofrer Imagem: Marcelo Chello/CJPRESS/Estadão Conteúdo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

24/10/2017 14h04

O juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na Justiça Federal do Paraná, disse nesta terça-feira (24) durante evento em São Paulo não ser "senhor da razão" nem "motivador de multidões".

Participante de um evento sobre a Lava Jato promovido pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e o CDPP (Centro de Debate de Políticas Públicas), Moro foi questionado se uma eventual precipitação das autoridades no combate ao crime poderia levar a ilegalidades. A questão tinha como pano de fundo a conturbada delação da JBS.

"É possível combater a corrupção, e é isso que eu tenho a pretensão de estar fazendo em todos esses processos, com base na lei", disse.

Eventualmente, posso proferir alguma decisão que as pessoas divirjam, mas as minhas razões estão ali. Nunca torço meu entendimento para chegar a uma vontade que eventualmente desejaria. O que não significa que eu seja o senhor da razão nas minhas posições

Sergio Moro, juiz federal

A fala de Moro soou, mesmo que indiretamente, como uma resposta às críticas que costuma sofrer de advogados por sua condução dos processos, principalmente na frequência do uso de prisões preventivas, considerado abusivo por alguns defensores.

O juiz também disse não ser "motivador de multidões" ao responder uma pergunta da plateia sobre como manter a esperança no combate à corrupção sem parecer ingênuo.
"Eu sou um juiz lá com meus processos, no meu trabalho. Não sou um motivador de multidões", disse, bem-humorado.

Apesar da declaração, o apelo popular de Moro é notório. Seu nome já chegou a aparecer em pesquisas eleitorais com certo destaque, e seu rosto era presença frequente em camisas e bonecos usados por manifestantes que protestaram pelo Brasil, entre 2014 e 2016, a favor da Lava Jato e contra os governos do PT. O juiz sempre negou qualquer pretensão política.

Moro continuou a resposta citando, "guardadas as proporções", o movimento abolicionista no Brasil, no fim do século 19, como exemplo de mobilização popular que acabou se saindo vitoriosa apesar de ter enfrentado várias derrotas.

Segundo o juiz, a Lava Jato se inscreve em um processo de "progressiva redução da impunidade", e "não se pode perder a perspectiva de melhora por conta de eventuais revezes momentâneos".

No mesmo evento, Moro também defendeu o uso das prisões preventivas e dos acordos de delação premiada, apesar da controvérsia que geram, para que as investigações avancem e crimes sejam interrompidos.