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JBS usou contrato fraudulento para repassar R$ 2,6 mi a Garotinho, aponta investigação

Garotinho foi preso nesta quarta-feira (22) pela Polícia Federal - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Garotinho foi preso nesta quarta-feira (22) pela Polícia Federal Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

22/11/2017 13h55Atualizada em 22/11/2017 15h02

Um contrato fraudulento entre uma empresa e a JBS foi usado para viabilizar a doação de R$ 3 milhões ao ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR), que, assim como sua mulher, a ex-governadora Rosinha Garotinho (PR), foi preso nesta quarta-feira (22). Ao MPE (Ministério Público Eleitoral), o empresário André Luiz da Silva Rodrigues disse que a sua empresa, a Ocean Link Solutions, de Macaé (RJ), esteve envolvido na transação.

A Polícia Federal, que prendeu o casal, e o MPE identificaram "elementos" que apontam que o grupo JBS firmou o contrato fraudulento com a Ocean Link para prestação de serviços na área de informática. O contrato serviria apenas para o repasse irregular de recursos, via caixa 2, para campanhas eleitorais dos ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha. O montante sobre o contrato que teria sido repassado a Garotinho foi de R$ 2,6 milhões.

O delator contou que, em uma reunião determinada pelo ex-governador, alguém da JBS faria contato com seu sócio na empresa para tratar de uma contratação, que utilizou conta bancária e nota fiscal fria.

Segundo o MPE, Rodrigues contou que o negócio foi firmado tempo depois, "restando esclarecido posteriormente que o contrato entre a Ocean Link e a JBS seria simulado com vistas a transferir, mediante conta bancária e nota fiscal fria, R$ 3 milhões de reais que deveriam ser repassados para o réu Anthony Garotinho utilizar em sua campanha eleitoral para o governo do Estado do Rio de Janeiro [em 2014]".

O empresário ainda disse que a organização criminosa de Anthony Garotinho usava armas para viabilizar o esquema de dinheiro ilícito para campanha. Rodrigues afirma que, durante seus trajetos de veículo após fazer saques em dinheiro, recebia ligações de Antônio Carlos Ribeiro, operador do ex-governador e tido como "o braço armado da organização criminosa".

Ex-policial civil, Ribeiro, que “fazia questão de mostrar que estava armado”, também foi preso nesta quarta-feira, é ex-policial civil.

O caso "demonstra de forma clara a imposição do líder da Organização Criminosa, ora réu Anthony Garotinho, através do réu Antônio Carlos Ribeiro da Silva, vulgo Toninho, e que era o braço armado da Organização Criminosa, para que o colaborador obedecesse suas ordens", disse o juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da Justiça de Campos de Goytacazes (RJ), ao autorizar as prisões.

Segundo o juiz, o grupo exerceria um poder intimidativo contra empresários extorquidos e que mantinham contrato de prestação de serviços ou de realização de obras públicas com o município de Campos dos Goytacazes.

Outros réus presos, como Ney Flores Braga --um dos responsáveis pela arrecadação de dinheiro para a campanha de Garotinho em 2014-- e Suledil Bernardino --secretário de Rosinha durante sua gestão na prefeitura de Campos--, tinham o papel de negociar com empresários o pagamento de suas contribuições ilícitas via "caixa 2". Segundo a denúncia, os empresários eram obrigados a fazer a contribuição, mediante ameaça de não receberem seus créditos lícitos.

"A organização criminosa composta pelos réus demonstra inegável poder intimidativo contra os empresários extorquidos, não só pela ameaça de não adimplemento de seus créditos perante o poder público, mas também pela participação armada do ex-policial civil", escreveu o juiz, em sua decisão.

Para Glaucenir, as prisões se justificam porque as testemunhas correm riscos com a liberdade dos réus, "sendo certo que o réu conhecido como Toninho exerce inegável intimidação armada contra as testemunhas e em especial contra o colaborador".

"Assim, de extrema necessidade garantir-se a instrução criminal e sua lisura mediante a proteção das testemunhas e do colaborador, sem o que as provas carreadas aos autos correm risco de não serem judicializadas em momento oportuno", argumentou o magistrado. (Com Estadão Conteúdo)