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Dirceu critica discurso de Bolsonaro e brinca sobre próprias prisões: "música no Fantástico"

12.nov.2018 - O ex-ministro José Dirceu em noite de autógrafos para o lançamento de sua biografia, em São Paulo - Sandro de Souza/Framephoto/Estadão Conteúdo
12.nov.2018 - O ex-ministro José Dirceu em noite de autógrafos para o lançamento de sua biografia, em São Paulo Imagem: Sandro de Souza/Framephoto/Estadão Conteúdo

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

12/11/2018 22h44

O ex-ministro José Dirceu participou de evento de lançamento de sua biografia em São Paulo, na noite desta segunda-feira (12), e afirmou que o PT precisa se defender da pecha de corrupto colada ao partido nos últimos anos. Senão, segundo Dirceu, "vai ficar difícil" para a legenda. Ao longo do evento, porém, brincou com os presentes e chegou a ironizar suas próprias prisões, dizendo que poderá pedir "música no Fantástico" se for detido mais uma vez.

"Se nós não levantarmos esse problema e não nos defendermos, vai ficar difícil. Precisamos defender o vermelho”, disse nesta noite no lançamento do livro "Zé Dirceu – Memórias – Volume 1", no Tucarena, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Ele chegou ao evento por volta das 19h30, sendo disputado pelos presentes para autógrafos, selfies e abraços.

Dirceu afirmou que o discurso de combate à corrupção foi usado durante a campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), por ter um forte apelo popular e que isso não é novidade na história do Brasil. Ressaltou, porém, que é preciso combater a corrupção e “rever os nossos erros”.

“Nós nunca explicamos para o povo que Getúlio Vargas foi levado ao suicídio por causa das coisas que se passavam embaixo do Palácio do Catete, que o Jânio [Quadros] ia varrer a corrupção do Brasil, parece uma piada! Que o Collor ia acabar com a corrupção no Brasil”, afirmou, completando que na ditadura militar, o discurso era de golpe contra a corrupção, mas que o que se combateu foi a "subversão".

“Eu digo isso não porque não se tem que combater a corrupção, nem que nós não tenhamos que rever os nossos erros, principalmente no sistema de financiamento de campanha eleitoral”, completou.

Dirceu afirmou ainda que as manifestações contrárias a Jair Bolsonaro mostraram que o PT tem força política e social e que, por meio de um trabalho de médio e longo prazo, é preciso reconquistar a força popular.

As manifestações antes das eleições mostraram que nós temos força política e social, o que nos falta é força popular além do voto, além do lulismo, além do petismo, além do voto nos partidos de centro-esquerda. É uma luta de médio e longo prazo
Ex-ministro José Dirceu

“Não adianta pensar a curto prazo, o que nós temos é uma contrarrevolução. Eles têm base social, como na ditadura quando fizeram a marcha com Deus e pela Família. Nós estamos tendo essas faixas de novo, mas agora nós temos as nossas também”, disse.

Piadas com vermelho do PT e prisões

No discurso desta noite, Dirceu fez piada sobre a cor símbolo do seu partido, mencionando indiretamente declaração de Bolsonaro dada durante a campanha eleitoral de que baniria os vermelhos. “Vermelho é a cor dos Republicanos [nos EUA, partido de viés mais conservador]. Isso é ridículo! Azul é a cor dos Democratas”, afirmou.

O ex-ministro, que já foi preso e deixou a cadeia três vezes desde 2012, disse que sempre que se levanta, lembra dos petistas presos, citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-tesoureiro João Vaccari. Mas quebrou o clima com uma brincadeira que arrancou risadas no auditório lotado.

Como eu fiquei preso um ano e quatro meses, depois sete meses e quinze dias, depois mais um mês, daqui a pouco eu já posso pedir música no Fantástico
Ex-ministro José Dirceu (PT)

Dirceu defendeu que o PT retome a campanha “Lula Livre”, pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos e um mês de prisão no caso do tríplex de Guarujá (SP). Para o ex-ministro, Lula foi o “primeiro a ser interditado” e o mesmo pode acontecer com outras pessoas no governo Bolsonaro.

“Nós temos que retomar a campanha pela anulação da condenação do Lula. Sabemos que Lula venceria no primeiro turno, isso é um fato. Não se iludam, ele foi o primeiro a ser interditado. Se nós não revertermos isso outros serão interditados. A natureza do governo que está se constituindo é não aceitar oposição, não aceitar a divergência ”, afirmou.

Dirceu disse ainda que o fato de Sergio Moro ter aceitado o convite de Bolsonaro para comandar o Ministério da Justiça é uma prova de que o ex-presidente é um preso político.

“Como Sergio Moro será o ministro da Justiça e o general Vilas Boas reconheceu que havia um veto ao habeas corpus do Lula, para as entidades internacionais esse assunto está claro: o Lula é um preso político”, disse.

José Dirceu foi condenado a 30 anos e nove meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa em processo no qual foi acusado de ter recebido cerca de R$ 15 milhões em propina da empreiteira Engevix. Os pagamentos teriam ligação com contratos da construtora com a Petrobras obtidos via licitações fraudulentas e, segundo a sentença, foram feitos sob a fachada de consultorias supostamente nunca prestadas por Dirceu.

As 554 páginas do livro de memorias de Dirceu foram escritas durante o período em que ele esteve preso em Pinhais, em Curitiba, e trazem relatos sobre a sua trajetória política, desde a sua militância no movimento estudantil, passando pela luta contra a ditadura militar (1964-1985), até participação no governo do ex-presidente Lula. Os relatos terminam no escândalo do mensalão, em 2005. Os fatos após o referido ano devem compor o segundo volume das memórias do petista.