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Janot: "Não tenho dúvida de que Lula é corrupto. Dilma, não"

Ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot diz que o ex-presidente Lula é corrupto - Antonio Cruz/Agência Brasil e Nelson Almeida/AFP - Montagem UOL
Ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot diz que o ex-presidente Lula é corrupto Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil e Nelson Almeida/AFP - Montagem UOL

Do UOL, em São Paulo

27/09/2019 09h45

Resumo da notícia

  • Em uma série de revelações, Janot disse que foi armado ao STF para matar Gilmar Mendes
  • O caso ocorreu em 2017 e ele disse ainda que cometeria suicídio depois
  • O ex-PGR também afirmou que Lula é corrupto, mas Dilma não é
  • Janot declarou que Aécio Neves ofereceu vaga de vice para não ser denunciado

Em uma série de revelações divulgadas na noite de ontem, como o fato de quase ter matado Gilmar Mendes, Rodrigo Janot, afirmou "não ter dúvida de que Luiz Inácio Lula da Silva é corrupto". O ex-procurador-geral, no entanto, crava que Dilma Rousseff, por outro lado, não segue o colega de partido neste quesito.

A fala de Janot, que denunciou Fernando Collor, Lula, Dilma e Michel Temer quando esteve no cargo de procurador-geral, foi divulgada pela revista Veja.

"É impossível que o Lula não fosse um dos chefes de todo esse esquema. Não tenho dúvida de que ele é corrupto. Da mesma forma que não tenho nenhuma dúvida de que a Dilma não é corrupta. Mas ela tentou atrapalhar as investigações com a história de nomear o Lula como ministro da Casa Civil. A obstrução de Justiça aconteceu, tanto que eu a denunciei. Até agora não surgiu nenhuma prova que envolva a ex-presidente com corrupção", afirmou Janot.

O ex-procurador-geral também falou sobre casos de corrupção envolvendo os ex-presidentes Temer, Collor e José Sarney.

"Temer, sim, é corrupto. Corrupto filmado, fotografado e gravado. No caso da JBS, teve até malinha correndo em São Paulo por ação controlada autorizada pelo Judiciário. Não tem como esconder que aquilo existiu. No caso do Sarney, não dá para dizer categoricamente que o ex-­presidente é corrupto, porque não consegui denunciá-lo, apesar dos áudios em que aparece discutindo, de forma velada, repasses de dinheiro".

"Collor é um caso à parte. Esse cara virou a minha vida do avesso. Ele levantou o histórico de um imóvel meu para ver possíveis inconsistências no imposto de renda, levantou antigos problemas de um irmão meu, já falecido, com a Justiça, procurou vícios em contratações na PGR em busca de irregularidades... O investigado investigou o investigador completamente", disse Janot.

Ele ainda citou uma ameaça de Collor antes de uma sabatina. "Para tentar me constranger, ele avisou antes que se sentaria na primeira cadeira durante a sabatina e minha segurança advertiu que ele poderia ir armado. Adverti o então presidente do Senado, Renan Calheiros, de que a minha segurança estava sob responsabilidade dele. Na hora da sabatina, Collor se sentou na minha frente, como prometera, e ficou repetindo 'filho da p.., vou te pegar, filho da p.., vou te pegar'. Era uma tentativa de me intimidar. A participação dele no esquema da Lava Jato deixou muitas impressões digitais. Ele é um corrupto com certeza".

Pedido de Temer para poupar Cunha

Janot também disse ao portal que, em uma conversa ocorrida em março de 2016, Michel Temer - na época era vice-presidente do Brasil - pediu para ele "parar" uma investigação contra Eduardo Cunha - até então presidente da Câmara.

O encontro aconteceu no Palácio do Jaburu após convite de Temer e reuniu também Henrique Eduardo Alves - que era ministro do Turismo do país - e José Eduardo Cardozo - que ocupava o cargo de ministro da Justiça.

Aécio convidou Janot para ser vice em 2018

Na mesma entrevista ao veículo, Janot revelou que o então senador - e investigado por recebimento de propina - Aécio Neves, outra figura importante no cenário político da época, o convidou para ser vice-presidente de uma chapa na eleição de 2018.

"Certo dia, em 2017, ele sentiu que o clima estava aquecendo com as investigações sobre a Odebrecht e me convidou para ser ministro da Justiça quando ele fosse eleito presidente da República. Eu, claro, declinei. Dias depois, ele voltou e me fez outra proposta: 'Quero pedir desculpa. Acho que o convite não estava à sua altura. Eu acho que você podia ser o meu vice-­presidente. Você escolhe qualquer partido da base, vai ser filiado por ele e vai ser o meu vice-presidente. Isso vai ser um fato mundial. O vice-presidente chama embaixadores, representantes de Estado e vai cozinhar para essas pessoas. E eu sei que você gosta de cozinhar'. É óbvio que era uma tentativa de cooptação", disse.