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Promotora do caso Marielle fez campanha para Bolsonaro nas últimas eleições

Promotora Carmem Eliza Bastos - Reprodução/Instagram
Promotora Carmem Eliza Bastos Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

31/10/2019 11h13

Resumo da notícia

  • Promotora Carmen Eliza Bastos fez campanha para Bolsonaro nas últimas eleições
  • Foto compartilhada nas redes sociais mostra ela vestindo camiseta com o rosto de Bolsonaro
  • "Há anos que não me sinto tão emocionada", escreveu em um post no dia da posse
  • Em entrevista ontem, da qual ela participou, o MP negou versão na qual Bolsonaro era citado

Uma das promotoras do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que participou de entrevista à imprensa ontem sobre o Caso Marielle Franco foi entusiasta da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República no ano passado. Imagens que circulam nas redes sociais na manhã de hoje mostram o envolvimento de Carmen Eliza Bastos com a campanha. "Há anos que não me sinto tão emocionada", escreveu em 1º de janeiro, dia da posse do presidente.

Na coletiva de ontem, o MP-RJ negou versão apresentada por um porteiro do condomínio onde o presidente mantém duas casas e afirmou que não foi Bolsonaro o responsável por autorizar a entrada de Élcio de Queiroz, um dos acusados de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, no residencial Vivendas da Barra. A reportagem questionou o MP-RJ se o órgão vê uma possível falta de isenção da promotora para atuar no caso, uma vez que Bolsonaro foi citado em depoimento, mas ainda não teve resposta. O UOL também procurou a promotora por meio da assessoria do MP e aguarda um posicionamento.

As imagens foram divulgadas pelo jornalista Leandro Demori, editor-chefe do site The Intercept Brasil, em sua conta no Twitter.

Carmen Eliza também foi fotografada ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), responsável por destruir uma placa feita em homenagem a Marielle, durante a corrida eleitoral.

A promotora posa ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), responsável pela destruição de uma homenagem à Marielle - Reprodução/Internet - Reprodução/Internet
A promotora posa ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), responsável pela destruição de uma homenagem à Marielle
Imagem: Reprodução/Internet

Carmen Eliza Bastos é uma das fundadoras do Movimento de Combate à Impunidade, criada por juízes e promotores. Em sua descrição, em uma rede social, o movimento afirma que "cansados de ver a impunidade que impera e que traz enorme desânimo aos cidadãos do Brasil, Juízes e Membros do MP se uniram para debater e reagir". Um dos principais objetivos do Movimento é discutir temas como a liberação de criminosos em audiência de custódia.

Entre os principais casos no qual ela atuou nos últimos anos, está o do pedreiro Amarildo de Souza, que foi torturado e morto por policiais militares em 2013. O corpo dele nunca foi encontrado.

Na coletiva de ontem, a promotora Simone Sibilio, que coordena o Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), disse que perícia mostrou que o responsável por autorizar a entrada de Élcio Queiroz foi o outro acusado do crime, o policial reformado Ronnie Lessa, que tem casa na mesma rua de Bolsonaro no residencial.

Na terça-feira (29), a TV Globo revelou que um porteiro do condomínio teria confirmado em dois depoimentos que foi o "seu Jair" quem autorizou a entrada de Élcio de Queiroz em 14 de março de 2018, data dos assassinatos.

Em entrevista ontem, a Promotoria contradisse o funcionário do condomínio e informou que os depoimentos dele serão investigados —esse inquérito corre sob sigilo. De acordo com o MP, a prova de que não foi Bolsonaro o responsável por autorizar a entrada de Élcio é uma gravação do sistema de interfones do condomínio. A perícia feita pelo MP encontrou apenas uma gravação no momento da chegada do acusado ao Vivendas da Barra. No áudio, é Ronnie Lessa que autoriza o acesso do aliado.

A reportagem do Jornal Nacional mostrou que às 17h10 do dia do crime o porteiro registrou no livro de visitantes o nome Élcio, o carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa que o visitante iria, a de número 58 (casa de Jair Bolsonaro). O porteiro disse à polícia que ligou para a casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar e que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do "Seu Jair".

30.out.2019 - As promotoras de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio, Letícia Emili Alqueres Petriz, Simone Sibílio e Carmen Eliza Bastos de Carvalho dão informações sobre a investigação do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes - Fernando Frazão/Agência Brasil - Fernando Frazão/Agência Brasil
As promotoras de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio, Letícia Emili Alqueres Petriz, Simone Sibílio e Carmen Eliza Bastos de Carvalho dão informações sobre a investigação do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

O porteiro explicou, conforme a reportagem, que acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que o veículo tinha ido para a casa onde morava Lessa. O porteiro disse, em depoimento, que ligou de novo para a casa 58, e que o homem identificado por ele como "Seu Jair" teria dito que sabia para onde Élcio estava indo.

Segundo Simone, houve busca e apreensão na guarita de entrada, quando foi apreendido o livro físico que registra as entradas no local. O documento registra que Élcio pediu autorização para ir à casa 58, onde vive Bolsonaro.

"Quem atende não é a pessoa com prerrogativa de função [Jair Bolsonaro]. Se ele [o porteiro] se equivocou, se esqueceu, se ele mentiu, isso será apurado. O que podemos dizer é que não há compatibilidade entre os depoimentos do porteiro e a prova pericial. A pessoa que autoriza a entrada é Ronnie Lessa. Qualquer informação que difere disso é equivocada", disse a promotora.

Mais cedo, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC) havia publicado um vídeo em seu perfil no Twitter em que também contradiz o depoimento do porteiro. Na gravação, Carlos exibe supostos registros internos do condomínio, com uma série de arquivos de áudio, no dia do crime. O vereador mostra um áudio que, segundo ele, foi registrado às 17h13 para a casa 65, onde vivia Ronnie Lessa. No arquivo, o porteiro anuncia a chegada do "senhor Élcio" e recebe como resposta "tá, pode liberar aí".

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