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PDT, PSB e Rede avançam em frente de esquerda e negam veto ao PT

30.set.2018 - Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) em debate eleitoral - NACHO DOCE/REUTERS
30.set.2018 - Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) em debate eleitoral Imagem: NACHO DOCE/REUTERS

Igor Mello

Do UOL, no Rio

18/06/2020 04h00

Partidos de centro-esquerda críticos ao lulismo, PDT, PSB e Rede Sustentabilidade deram ontem o primeiro passo concreto na formação de uma frente alternativa nas eleições deste ano com o lançamento de uma chapa à Prefeitura do Rio de Janeiro. Apesar da notória rivalidade com Lula —vocalizada sobretudo pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT)—, lideranças dessas legendas dizem que não há veto a alianças com o PT.

PDT e Rede indicaram, respectivamente, a deputada estadual e ex-delegada Martha Rocha e o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello para disputar as eleições no Rio. Embora os dirigentes de ambos os partidos afirmem publicamente que o cabeça de chapa será escolhido somente em julho com base em pesquisas, a tendência é de que Martha seja oficializada como a aposta dessa frente para o cargo.

Em breve, as três legendas —que também conversam com o PV e o Cidadania— devem fechar alianças em outras capitais e grandes cidades. Embora neguem que já existam conversas concretas sobre uma aliança em 2022, os líderes dos três partidos afirmam que o sucesso nas eleições municipais pode pavimentar um caminho conjunto na próxima disputa presidencial —entre as legendas, o nome de Ciro é o mais cotado.

Candidaturas rivalizam com nomes ligados ao lulismo

Em São Paulo, a tendência é de que o grupo se aglutine em torno do nome do ex-governador Marcio Franca (PSB) —que já conta com o apoio do PDT. Os socialistas também devem liderar a frente na disputa pela Prefeitura do Recife, com o deputado federal João Campos —filho do ex-governador Eduardo Campos.

Já em Porto Alegre, as negociações giram em torno do nome da deputada estadual Juliana Brizola (PDT), neta do ex-governador do Rio e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.

As candidaturas rivalizam com nomes ligados ao lulismo em todas essas praças. No Rio, PT e PSOL discutem nomes como o da deputada federal Benedita da Silva (PT) e o do ex-deputado federal Chico Alencar (PSOL). Em São Paulo, os psolistas defendem o nome de Guilherme Boulos, candidato à Presidência na última eleição, enquanto o PT aprovou a pré-candidatura do ex-deputado Jilmar Tatto.

Apesar de seguir caminhos opostos ao do PT em várias das principais capitais brasileiras, os dirigentes de PDT, PSB e Rede dizem que não há veto a alianças com o partido do ex-presidente Lula, nem tentativa de isolá-lo.

"Não temos nada contra o PT. Não vamos ter isolamento de nenhum partido. Ninguém da nossa frente trata esse assunto dessa forma", prega Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB. "O que achamos é que o Lula está equivocado ao sair da prisão e defender candidaturas próprias do PT em todas as capitais. Mas o PT já errou em diversos outros momentos históricos e têm direito de errar agora."

Em entrevista ao UOL em janeiro, Lula disse que o PT teria candidaturas próprias em São Paulo, Recife, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Salvador.

Presidente do PDT e ex-ministro nos governos Lula e Dilma Rousseff, Carlos Lupi também nega haver veto de alianças com o PT, mas provoca: "O problema é que o PT só quer apoio, não quer apoiar".

Desde a eleição de 2018 —quando ficou fora do segundo turno, superado por Fernando Haddad (PT)— Ciro Gomes vem fazendo seguidos ataques a Lula. Em entrevista ao UOL em abril, o ex-ministro afirmou que não tem nenhum tipo de relação com o ex-presidente hoje.

"Eu perdi o respeito por ele completamente. O Lula é um politiqueiro, e boa parte do que estamos vivendo no Brasil devemos a ele. À irresponsabilidade dele, à miudice dele. E ao assombroso apetite pelo poder a qualquer preço que nos levou a isso. Ou algum petista mais moderado acredita que existiria o bolsonarismo boçal e corrupto se não não fosse o lulopetisto boçal e corrupto?", questionou.

Embrião para 2022

Apesar de negarem que as conversas sobre as eleições municipais estejam atreladas a uma chapa única à Presidência, representantes das legendas admitem que há a expectativa de caminharem juntos.

Além de Ciro, nos partidos há outros nomes de projeção nacional —como o da ex-ministra Marina Silva (Rede), candidata à Presidência nas três últimas eleições. No entanto, Ciro aparece na dianteira por ter obtido mais de 13 milhões de votos em 2018.

Porta-voz da Rede Sustentabilidade, Pedro Ivo Batista admite que essa construção está no horizonte dos três partidos.

"Existe hoje uma construção para o bem do Brasil e para a eleição de 2020. Mas, sem dúvida, se for bem-sucedida, vai repercutir em 2022. Isso vai passar por como será essa convivência", diz.

Lupi diz que o momento é o da formulação de um programa comum: "Estamos criando o embrião de uma aliança. Afinando as nossas teses e os projetos para as cidades, para só então ter um projeto para o país", argumenta.

As ações conjuntas dos três partidos também ocorrem na oposição ao governo Bolsonaro. Recentemente, eles contestaram juntos no STF (Supremo Tribunal Federal) trechos da MP 927 —que flexibiliza as regras trabalhistas durante a pandemia do novo coronavírus— e pediram a apreensão do celular do presidente.

Carlos Siqueira aponta que esse papel de oposição ao governo federal é mais importante nesse momento do que pensar na próxima eleição presidencial.

"Temos que estar unidos para lutar pela manutenção de nossa democracia, para termos eleição em 2022", resume.