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Ex-presidente do Flamengo e delegada compõem chapa para a Prefeitura do Rio

A deputada estadual Martha Rocha (PDT), ex-chefe de Polícia Civil do Rio e pré-candidata à prefeitura - Ricardo Borges/UOL
A deputada estadual Martha Rocha (PDT), ex-chefe de Polícia Civil do Rio e pré-candidata à prefeitura Imagem: Ricardo Borges/UOL

Igor Mello e Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

17/06/2020 12h24

O PDT oficializou na manhã de hoje a pré-candidatura da delegada Martha Rocha —deputada estadual e ex-chefe de Polícia do Rio— à Prefeitura do Rio. O ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello (Rede Sustentabilidade) completa a chapa que também terá o apoio do PSB. Ainda não se sabe qual dos dois vai "encabeçar" a disputa —a decisão será tomada mais à frente, com base em pesquisas de opinião feitas pela coligação.

A oficialização da chapa faz parte de um movimento articulado pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT) para criar uma alternativa de centro-esquerda, interpretada como uma forma de isolar o PT, com foco na eleição de 2022. Recentemente, Ciro fez acenos à ex-ministra Marina Silva, fundadora e principal nome da Rede.

A chapa Martha Rocha - Bandeira de Mello tem potencial de chegar ao segundo turno, segundo a última pesquisa para a Prefeitura do Rio feita pelo Datafolha, em dezembro de 2019. Na ocasião, Martha e Bandeira estavam empatados com o prefeito Marcelo Crivella no terceiro lugar —ela com 7% das intenções de voto, ele com 6%.

Além disso, Martha e Bandeira podem herdar parte do eleitorado do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), que desistiu da disputa por não conseguir unificar o campo progressista em torno de seu nome. Na mesma pesquisa, Freixo tinha 18% das intenções de voto, empatado tecnicamente na liderança com o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que tinha 22%.

Martha Rocha é vista como uma política moderada entre seus pares na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Católica, a ex-delegada de 61 anos teve uma carreira de destaque na Polícia Civil, sendo a primeira mulher a comandar a corporação no Rio. Entre suas iniciativas, está a criação da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), que hoje tem 14 unidades no estado do Rio.

Martha está em seu segundo mandato como deputada e, nesse período, ocupou postos importantes, como a presidência da Comissão de Segurança Pública e do Conselho de Ética da Alerj.

Já Eduardo Bandeira de Mello é funcionário de carreira do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas ganhou notoriedade ao ser eleito presidente do Flamengo, em 2013. Em suas duas gestões à frente do clube, Bandeira foi elogiado por sanear as dívidas do Flamengo e criar condições financeiras para que o clube voltasse a disputar títulos importantes.

No entanto, recebeu críticas por obter poucos resultados em campo —em seus seis anos de presidência, o Flamengo venceu uma Copa do Brasil (2013) e dois campeonatos cariocas (2014 e 2017).

O ex-dirigente também foi indiciado pela Polícia Civil como um dos responsáveis pelo incêndio no Ninho do Urubu, que matou dez adolescentes das categorias de base do Flamengo em fevereiro de 2019.

Entretanto, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) devolveu o procedimento à delegacia responsável para que inconsistências na investigação fossem sanadas.

Bandeira de Mello chegou a ser cotado para ser o vice de Marina Silva na disputa presidencial de 2018. Na ocasião, ele ironizou a possibilidade de ocupar esse tipo de função em disputas eleitorais — o que acontece agora.

"Vice é coisa de Vasco", afirmou em entrevista o jornal O Estado de S. Paulo, provocando o rival do Flamengo.

Martha e Bandeira participaram na manhã desta quarta de uma reunião virtual transmitida pelas redes sociais para o lançamento da candidatura.

Participaram do encontro os presidentes do PDT (Carlos Lupi) e do PSB (Carlos Siqueira), além do porta-voz da Rede Sustentabilidade (Pedro Ivo). O deputado federal Alessandro Molon, principal liderança do PSB no Rio, também esteve presente.

Martha era vice dos sonhos de Paes de Freixo

O perfil moderado na Alerj e o histórico de serviços prestados à Polícia Civil fizeram de Martha Rocha uma espécie de "vice ideal" para as principais pré-candidaturas colocadas no Rio de Janeiro. Até janeiro desse ano, ela era cotada para ser vice-candidata nas chapas encabeçadas por Marcelo Freixo e Eduardo Paes.

Adversários políticos, os dois entendiam que ela poderia atrair votos de parte do eleitorado de centro-esquerda, além de defensores do militarismo. Além disso, os dois expressaram a vontade de ter uma mulher representada em suas coligações. Os convites, no entanto, sempre esbarraram na vontade de Martha ser a cabeça de chapa.

A vontade dela ter candidatura própria, aliás, foi fator decisivo para que Freixo desistisse da candidatura. Na interpretação dele, não teria sentido lutar por uma eleição que tivesse vários partidos de esquerda disputando votos. Além de não conseguir construir uma aliança com o PDT, o deputado ainda se deparou com resistências internas no partido que não chegou a uma unanimidade em relação a uma aliança com o PT.

"Eles achavam que eu seria uma ótima vice"

UOL - Ainda não há a definição de quem será o "cabeça de chapa" nessa candidatura. A senhora e o Bandeira de Mello já expressaram essa vontade, mas agora admitem ser vice. Como está sendo isso?

Martha Rocha - Nós criamos uma frente pela cidade do Rio de Janeiro composta por três partidos progressistas. Preciso destacar, nesse processo, a postura íntegra do deputado Alessandro Molon, que não apresentou o seu nome para compor a chapa, embora participe diretamente nessa frente. Ele entendeu a necessidade de construir juntos um programa de governo e uma alternativa ao município.

UOL - A senhora foi cobiçada por Paes e Freixo para compor uma chapa. Inicialmente negou essa possibilidade, diante da vontade de ser a cabeça de chapa. Hoje, admite ser vice. A que se deve essa reviravolta?

Martha Rocha - A maneira com que Paes e Freixo trouxeram a discussão, esse convite, foi sem diálogo. Eles acordaram num belo dia e acharam que eu seria uma ótima vice. Nem comigo, nem com o meu partido, houve uma conversa sobre o possível arranjo eleitoral. Será que poderia ser diferente? Será que eles aceitariam ser meus vices? Nunca houve esse debate. As relações, na nossa coligação, são diferentes. A gente está pensando em construir uma alternativa viável, um programa melhor para a cidade. Mais à frente, discutiremos quem será candidato e quem será o vice.

UOL - Como a senhora enxerga essa coligação com olhos em 2022? Já há esse debate interno no partido?

Nós queremos, sim, que tudo se repita em 2022. Essa aliança é uma proposta para o Brasil, para o Rio de Janeiro.