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Senado quer aprovar amanhã convite para que Guedes explique fala de 'crime'

12.ago.2020 - O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante coletiva de imprensa depois de reunião do Palácio da Alvorada, em Brasília (DF) - Wallace Martins/Estadão Conteúdo
12.ago.2020 - O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante coletiva de imprensa depois de reunião do Palácio da Alvorada, em Brasília (DF) Imagem: Wallace Martins/Estadão Conteúdo

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

24/08/2020 15h24Atualizada em 24/08/2020 15h24

Ressentidos, os senadores devem aprovar amanhã (25) um convite formulado pelo presidente do Congresso e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, explique a fala de que a Casa cometeu um "crime contra o país" após rejeitar um veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O veto que não permitiria a possibilidade de reajuste a determinadas categorias de servidores na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus foi rejeitado pelos senadores, mas mantido pelos deputados federais.

"Pegar o dinheiro da saúde e permitir que se transforme em aumento de salário do funcionalismo é um crime contra o país", declarou Paulo Guedes na quarta-feira (19) passada.

A fala do ministro causou revolta no Senado, inclusive em quem votou pela manutenção do veto conforme a vontade do governo, pois atingiu a independência e o orgulho da Casa como um todo, avaliam.

O próprio Alcolumbre apresentou requerimento de convite para explicações de Guedes. Apesar de o ministro poder rejeitar o convite, o ato que parte do presidente do Congresso e do Senado é visto com mais força institucional. A intenção é que Guedes fale aos senadores ainda nesta semana por meio remoto.

Se não comparecer, um requerimento de convocação do senador Esperidião Amin (PP-SC) deverá ser aprovado. Neste caso, o ministro seria obrigado a prestar explicações.

A próxima sessão do Senado está prevista para amanhã a partir das 16h. Até o momento, Guedes não se retratou aos senadores.

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse ter havido uma "falha grave" do Executivo em apontar um rombo de cerca de R$ 130 bilhões nas contas públicas sem mostrar como a conta foi feita.

"Que valor é esse? A queda do veto não geraria gasto", falou.

Uma suposição dos senadores é que a equipe econômica se baseou em um levantamento de reajustes dados por todos os governadores ao funcionalismo público em governos anteriores, sem restrições de categorias. O veto, porém, abarcaria somente algumas categorias que haviam ficado de fora do congelamento anterior e desde que diretamente envolvidos no combate à pandemia da covid-19, argumentam.

O modo como Guedes falou e como o assunto se espalhou por grupos de redes sociais e aplicativos de mensagens, como que os senadores estariam aprovando um aumento próprio em meio à pandemia, o que não estava em discussão, também causou ressentimento entre os senadores.

"O Senado foi agredido pelo ministro e certamente ele não leu o destaque [trecho do veto em votação]. Se tivesse lido, saberia que não existe possibilidade de dar rombo de R$ 130 bilhões como ele falou. É uma coisa muito grave. Se o Senado não se impor com sua altivez perante uma afirmação leviana como essa, fica muito mal. Guedes devia se desculpar, no mínimo, a nós", disse o líder do PSD na Casa, Otto Alencar (BA).

Parte dos senadores levanta ainda a possibilidade de Guedes ter sido enfático na declaração contra o Senado por interesses econômicos pessoais, mas sem comprovações, apurou a reportagem.

O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que o episódio estará "logo superado" e ressaltou que Guedes faz questão de conversar com os parlamentares sobre todas as matérias do Executivo encaminhadas ao Parlamento.

"Dessa vez não vai ser diferente", defendeu, ao acrescentar que o governo sabe ter pautas importantes pela frente que precisam do apoio do Senado.