Topo

Senador com dinheiro na cueca emprega Leo Índio, sobrinho de Bolsonaro

Leo Índio, sobrinho de Bolsonaro (à esq.), e o senador Chico Rodrigues - Reprodução/instagram
Leo Índio, sobrinho de Bolsonaro (à esq.), e o senador Chico Rodrigues Imagem: Reprodução/instagram

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

15/10/2020 10h42

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado ontem (14) com R$ 30 mil dentro da cueca em uma operação da Polícia Federal em Roraima, emprega em seu gabinete Leonardo Rodrigues de Jesus, o Leo Índio, sobrinho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O subordinado ocupa o cargo de assessor parlamentar e tem salário de aproximadamente R$ 23 mil mensais.

Léo Índio se tornou uma figura pública após a vitória de Bolsonaro na eleição de 2018 devido às redes sociais. O funcionário do Senado costumava aparecer constantemente em fotos ao lado do primo, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República.

Com a ascensão de Bolsonaro à Presidência, Léo Índio se tornou uma figurinha carimbada nos corredores do Palácio do Planalto, ainda que não tivesse um cargo.

Somente nos primeiros 45 dias de mandato do presidente, ele esteve no Planalto 45 vezes. Além disso, chegou a viajar na comitiva oficial que se deslocou a Brumadinho, em Minas Gerais, à época da tragédia do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão (janeiro de 2019).

Em 2019, depois de questionamentos a respeito de sua função no governo, Léo Índio foi nomeado para o gabinete de Rodrigues.

O UOL não conseguiu contato com Léo Índio para comentar o caso. Quando assumiu o cargo no gabinete do senador, ele escreveu em uma rede social que admirava Chico Rodrigues.

"Pertenço à família do presidente, como já foi veiculado algumas vezes pela imprensa, razão pela qual constantemente suporto julgamentos e diversos tipos de ataque, e farei questão de trabalhar para mostrar o quão injustos são", escreveu à época.

O senador declarou em nota que tem "um passado limpo e uma vida decente" e afirmou nunca ter se envolvido em escândalos. Já Bolsonaro declarou não ter "nada a ver com isso".

Há algumas semanas recebi o convite do Senador Chico Rodrigues, a quem admiro há bastante tempo, para compor sua equipe de trabalho. Nossa convivência foi estreitada desde os primórdios da campanha de Jair Bolsonaro à presidência, quando o senador pôde constatar algumas das minhas características e a convergência de nossas ideias. Pertenço à família do Presidente, como já foi veiculado algumas vezes pela imprensa, razão pela qual constantemente suporto julgamentos e diversos tipos de ataque, e farei questão de trabalhar para mostrar o quão injustos são. Sempre acreditei na meritocracia e no valor do trabalho, verdadeiro fiador das liberdades individuais. A boa política, entretanto, é indissociável de mim desde a infância. Minhas características profissionais são fruto de duas décadas de trabalho árduo e de preciosas lições aprendidas em família. Assim herdei o apreço pela honestidade e o amor pela Pátria, valores que compartilho também com quase sessenta milhões de brasileiros que confiaram seu voto em meu tio, Jair. O Senador Chico Rodrigues, assim como eu, é parte dessa multidão que confia no projeto do nosso Presidente e, a partir de hoje, juntos, não mediremos esforços para honrar a missão de servir ao País, especialmente ao Estado de Roraima. Agradeço ao Senador pela confiança em mim depositada, sentimento que quero ser digno de despertar em todos que apoiam minha família. #brasil #roraima ??

Uma publicação compartilhada por Léo Índio (@leo.indio.br) em

"União estável"

Em vídeo antigo publicado nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que teria "quase uma união estável" com o senador Chico Rodrigues. As imagens foram resgatadas por perfis no Twitter após a repercussão do caso envolvendo o senador, mas não é possível saber a data exata do registro.

"É quase uma união estável, hein, Chico", diz Bolsonaro no vídeo, referindo-se ao longo tempo em que os dois foram deputados federais. Eles permaneceram juntos na Câmara entre 1991 e 2011. Antes de ser eleito presidente, Bolsonaro exerceu sete mandatos como deputado em Brasília.

Vice-líder do governo, Rodrigues confirma no vídeo o longo período de amizade dos dois e chama Bolsonaro de um "amigo de 20 anos de Câmara dos Deputados".

O presidente diz ter "quase uma união estável" com o senador Chico Rodrigues, que retribui falando sobre o "resgate da moralidade" trazido por Bolsonaro. pic.twitter.com/eXVDn149YT

-- Exilado (@exilado) October 15, 2020

O senador ainda elogia a trajetória recente do atual presidente à época.

"Ficamos muito felizes com essa sua caminhada, pelo seu patriotismo, pela sua luta em defesa do Brasil, dos princípios e dos valores da família", diz Rodrigues, que ainda cita Bolsonaro como um exemplo republicano.

"Você está absorvendo todo esse sentimento do brasileiro de uma retomada da moralidade, de práticas republicanas, para que possamos dar exemplo para essa juventude que será o futuro do nosso país", afirma o senador.

Proximidade com Bolsonaro

Como vice-líder do governo, Rodrigues tem encontros frequentes com o presidente. Na semana passada, inclusive, o senador almoçou com Bolsonaro e depois gravou um vídeo ao seu lado, prometendo o apoio do governo federal para iniciar as obras do Linhão de Tucuruí, uma linha de energia que levaria a produção da Hidrelétrica de Tucuruí (PA) para a região mais ao norte do Rio Amazonas.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.