Sobreviventes do ebola se tornam cuidadores e põem sua imunidade à prova
Amie Subah dedica seus dias a alimentar doentes de ebola, dar-lhes remédios e trocar as fraldas das crianças em um centro de tratamento na Libéria.
Seu recurso mais valioso: como sobrevivente do ebola, ela acredita que agora é imune à doença. Isso significa que Subah não precisa usar as roupas de proteção asfixiantes que restringem as rondas dos médicos a 45 minutos e que ela pode passar horas cuidando dos pacientes protegida apenas pelo uniforme cirúrgico, uma máscara, luvas e botas.
“Não estou preocupada”, disse a parteira de 39 anos em entrevista por telefone, entre um turno e outro. “Sei que não vou contrair o vírus nem se alguém vomitar em mim”.
Subah é um dos 11 sobreviventes que estão trabalhando no hospital Elwa 3 em Monrovia, com o grupo de assistência Médicos Sem Fronteiras. O grupo de médicos, que prestou assistência a quase um terço das 9.000 pessoas infectadas na África Ocidental, nunca registrou nenhum caso de sobreviventes que tenham se contagiado de novo com as cepas dos vírus que os atingiram, disse Athena Viscusi, assistente social da organização que trabalha com os sobreviventes cuidadores.
“Não dizemos que as pessoas são imunes para sempre, porque não temos certeza disso”, disse Viscusi por telefone. “Mas dizemos que elas não vão contrair ebola de novo durante esta epidemia”.
Apesar de outros pesquisadores geralmente concordarem, há poucas provas conclusivas sobre o quanto a imunidade pode durar. Além disso, se o vírus evoluir, como aconteceu mais de 300 vezes ao longo dos anos, não será possível descartar uma perda da imunidade, disse Marie-Paule Kieny, vice-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde para sistemas de saúde e inovação.
Provas científicas
“Pelo que eu sei, nunca houve nenhum caso de alguém que tenha se contagiado, se recuperado e se contagiado de novo”, disse Kieny ontem em uma sessão informativa em Genebra. Mesmo assim, ela acrescentou, “não há provas científicas concretas disso”.
A taxa de sobrevivência durante esta epidemia é de aproximadamente 30 por cento, de acordo com a OMS. É possível que a imunidade derive dos anticorpos produzidos pelo sistema imunológico primordialmente para ajudar as pessoas a sobreviverem. Os anticorpos então se preparam para combater com virulência qualquer ameaça futura do mesmo vírus.
A OMS e outras instituições estão pesquisando se o sangue dos sobreviventes, que poderia conter esses anticorpos, pode ser usado para ajudar a deter a doença na epidemia atual.
A recuperação total do contágio de ebola pode levar muito tempo, disse Joseph McCormick, que esteve envolvido nas três primeiras epidemias de ebola na África em 1976 e dirigiu o laboratório de segurança máxima do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA durante uma década. Como consequência, a maioria dos pacientes perde peso e sente fraqueza.
Destino dos sobreviventes
Não foram identificadas consequências no longo prazo, apesar de alguns pacientes terem sido acompanhados rigorosamente porque as epidemias ocorreram em lugares remotos, disse McCormick, professor e reitor regional da Universidade de Saúde Pública do Texas, em entrevista por telefone. O destino dos sobreviventes ficará mais claro depois da mais recente e ampla epidemia, disse.
Poucas mudanças foram observadas no vírus em morcegos frugívoros, o hospedeiro habitual, o que indica que as pessoas que se recuperaram terão ampla imunidade, disse McCormick. Além disso, as diversas cepas parecem ter uma reação cruzada e, portanto, devem apresentar uma proteção cruzada, o que garantirá uma proteção maior, disse.
Enquanto os cientistas estão testando a questão da imunidade, os sobreviventes estão prestando serviços valiosos em campo.
Eles ajudam a cuidar das pessoas infectadas e transmitem uma mensagem importante de esperança. Subah contou que costuma dizer a seus pacientes que “quanto mais eles beberem líquidos, mais fortes vão ficar”, disse. “E eu digo para eles comerem toda a comida, mesmo quando não tiverem muita fome”.
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