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Maduro, pressionado por crises, busca alívio na Cúpula dos Não-Alinhados

17/09/2016 16h29

Porlamar, Venezuela, 17 Set 2016 (AFP) - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou neste sábado que seu governo é vítima de um "ofensiva imperialista" e de uma "guerra econômica" para derrotá-lo, durante a Cúpula do Movimento de Países Não-Alinhados (NOAL, na sigla em inglês).

A Venezuela enfrenta "um ataque com métodos de guerra não convencionais (...) em forma de guerra econômica", que "detivemos e que vamos derrotar o quanto antes", afirmou Maduro, no discurso de abertura da cúpula.

O presidente socialista disse que essa "guerra" é parte de "uma ofensiva imperialista para tentar reverter os avanços e conquistas da revolução bolivariana" fundada pelo falecido líder Hugo Chávez (1999-2013) e que se estendeu por toda a América Latina, impondo-se sobre as "oligarquias" tradicionais.

Maduro acusa a oposição venezuelana de planejar um golpe de Estado. Os opositores, contudo, afirmam que Maduro se agarra ao poder com os militares e com o controle dos órgãos de justiça e eleitoral.

A coalizão Mesa de la Unidad Democrática (MUD) está em uma ofensiva para conseguir um referendo revocatório neste ano, que segundo a consultora privada Datanálisis é apoiado por oito em cada dez venezuelanos.

Em meio à crise política e econômica, Maduro busca um alívio nesta XVIIª Cúpula NOAL, celebrada durante dois dias na cidade de Porlamar, em Isla Margarita, onde se reúnem mandatários de países como Irã, Zimbábue, Cuba, Equador, Bolívia, El Salvador, além da Autoridade Palestina.

Maduro recebeu do presidente iraniano Hasan Rohani a presidência por três anos do bloco de 120 países que tenta se reinventar no mundo pós-Guerra Fria.

- Revés internacional -O presidente socialista venezuelano enfrenta um enorme descontentamento popular devido à altíssima inflação e à escassez de produtos básicos, que provocam longas filas nos supermercados para conseguir alimentos a preços subsidiados.

Além disso, perdeu a influência internacional ostentada por seu mentor, Hugo Chávez, diante da queda dos preços do petróleo e do retrocesso da esquerda na região.

Integrante da Opep (Organização de Países Exportadores de Petróleo), este país com as maiores reservas petrolíferas do mundo buscará apoio para sua campanha que busca congelar a produção global de petróleo, uma tentativa de estabilizar os preços do produto.

"Estão os países do Golfo Pérsico, está o Irã, está a Venezuela, Equador. Obviamente vamos usar a reunião para seguir construindo um consenso" antes de uma reunião da Opep marcada para o fim de setembro em Argel, declarou o ministro do Petróleo, Eulogio del Pino.

A oposição assegura que Maduro busca com a reunião dos NOAL simular que não está internacionalmente isolado, referindo-se ao revés internacional sofrido pelo governo às vésperas da Cúpula.

Os quatro países fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) anunciaram que vão assumir de forma colegiada a presidência temporária do bloco que seria da Venezuela.

Para permanecer no Mercosul, a Venezuela deve cumprir com os objetivos econômicos, comerciais e de direitos humanos, embora o bloco não tenha a "intenção" de expulsá-lo, afirmou a chanceler argentina, Susana Malcorra.

"É um golpe político muito forte para a Venezuela", disse à AFP a analista Raquel Gamus, que também considerou que a Cúpula tem "pouco significado". "Isso não dá ao país nenhum tipo de benefícios, só gastos", acrescentou.

A Isla Margarita, chamada de "Pérola do Caribe", sofreu uma forte deterioração pela crise. Mas nos últimos dias, devido à Cúpula, suas ruas foram revitalizadas, não falta água, os hotéis ficaram lotados e as filas nos mercados desapareceram.

Palco de protestos contra o governo recentemente, em Margarita dezenas de pessoas foram detidas há duas semanas, depois que um grupo de moradores protestou contra Maduro com um panelaço durante uma caminhada pelo bairro de Villa Rosa.

Para prevenir distúrbios e garantir a segurança das delegações, 14.000 policiais e militares vigiam nesta semana a ilha, os voos particulares foram proibidos e os aviões comerciais passam por um rígido controle de passageiros.