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Cabul de luto no dia da Ashura por atentado contra mesquita xiita

12/10/2016 08h34

Cabul, 12 Out 2016 (AFP) - Muito abalada pela morte de 14 fiéis no ataque contra uma mesquita de Cabul, a comunidade xiita denunciou nesta quarta-feira o governo por sua incapacidade de garantir a segurança durante a Ashura, principal comemoração desta ramificação do Islã.

O atentado de terça-feira contra a mesquita de Karte Saji deixou 14 mortos, entre eles uma criança, e 36 feridos, incluindo muitas mulheres e crianças.

"Todos gritavam de terror, alguns homens conseguiram fugir, mas não vi nenhuma mulher sair", disse Sayed Solaima, que perdeu o pai no ataque.

O atentado contra a mesquita de Karte Saji foi lançado por um criminoso solitário que lançou duas granadas e depois disparou à queima-roupa contra as pessoas.

Posteriormente foi registrado um segundo ataque contra outra mesquita xiita situada no mesmo bairro, indicou o porta-voz do ministério do Interior, Sediq Sediqqi.

"Dois terroristas lançaram dois ataques separados contra duas mesquitas, a primeira em Karte Saji e a segunda em Karte Char", afirmou Sediqqi nesta quarta-feira.

"Os dois criminosos foram abatidos pelas forças especiais", acrescentou o porta-voz.

O balanço do segundo ataque não havia sido divulgado até o momento nesta quarta-feira, feriado no Afeganistão pela Ashura.

O atentado não foi reivindicado e os insurgentes talibãs (majoritariamente sunitas) se declararam alheios ao fato.

"Estamos profundamente afetados por este ataque contra civis", afirmou no Twitter o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, que não menciona o segundo ataque.

A comunidade xiita lembra em todo o mundo nesta quarta-feira a morte do imã Hussein, neto do profeta Maomé, assassinado no ano 680, episódio fundador do xiismo.

Para os xiitas afegãos da minoria hazara, esta comemoração carregava duplamente nesta quarta-feira o véu negro do luto.

Os familiares dos feridos permaneciam no hospital, como o pai de uma menina de seis anos, em estado de coma com a cabeça enfaixada.

Em outra sala uma mãe e sua filha, ambas feridas, repousavam abraçadas na mesma maca.

"O criminoso disparava contra todos. Ele me feriu na perna. Por sorte meu filho escapou correndo. Muitas crianças ficaram feridas", conta Saleha.

"Mas, claro, as famílias do presidente e dos ricos vivem no exterior. As pessoas que eles matam todos os dias são a pobre população", explica.

Na mesquita de Karte Saji, os homens lamentam que não existissem medidas de segurança, apesar das ameaças que todos conheciam.

"Depois do ataque vimos as forças de segurança chegarem superequipadas. Se estivessem aqui antes teriam salvado muitas vidas", protesta Hamidullah, de 50 anos, furioso com o governo.

"Vocês deixam os homens, mulheres e crianças serem massacrados e depois querem que as pessoas os apoiem", acrescenta dirigindo-se aos governantes.

"Esta nação está dormindo! É hora de as comunidades se unirem para derrubar este governo", afirma Hamidullah.

A mesma polêmica foi registrada após o atentado contra a minoria hazara de 23 de julho passado em Cabul.

Naquele dia dois suicidas atacaram uma manifestação pacífica deixando 84 mortos e mais de 130 feridos.

O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico (EI), que assinava desta forma seu primeiro grande atentado na capitão afegã.

A celebração da Ashura também ficou ensanguentada em dezembro de 2012. Um atentado contra a mesquita xiita de Murad Jani deixou 80 mortos e 160 feridos.

Na noite de terça-feira, o presidente afegão, Ashraf ghani, condenou o atentado contra Karte Saji, denunciando um "crime contra a humanidade".

"O governo tomará todas as medidas em seu poder para garantir a segurança durante a celebração da Ashura" nesta quarta-feira, acrescentou o comunicado presidencial.

A minoria hazara, três milhões de pessoas que falam persa, foi perseguida durante décadas e milhares de seus integrantes foram assassinados no fim dos anos noventa pela Al-Qaeda e pelos talibãs, em sua maioria pashtuns sunitas.

bur-ach/at.