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José Mariano Beltrame: "Ruim com as UPPs, pior sem elas"

Veja breve histórico sobre 10 anos de gestão de Beltrame no Rio

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No Rio de Janeiro

16/10/2016 14h01Atualizada em 16/10/2016 18h00

"Ruim com elas, pior sem elas": o secretário de Segurança Pública do Estado do Rio que pediu para deixar o cargo, José Mariano Beltrame, diz que a violência não tem solução sem a pacificação das favelas cariocas.

Em entrevista à AFP na favela Dona Marta, zona sul do Rio, Beltrame declara que o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) que ele criou há dez anos significou "um extraordinário benefício para a cidade".

"As UPPs salvaram mais de 21 mil vidas", assegura, referindo-se à queda do número de homicídios no período em que comandou as operações policiais.

Beltrame concedeu esta entrevista em seu último dia no posto antes de ser substituído por seu secretário adjunto, Roberto Sá.

Do alto do Dona Marta, o policial de 59 anos mostra à AFP um muro grafitado que mal escondem os incontáveis impactos de bala de grosso calibre. "É aqui que os traficantes fuzilavam seus inimigos. A situação é ruim, mas era muito pior sem as UPP", garante.

Com 6,5 milhões de habitantes e uma enorme desigualdade social, o Rio enfrenta altos níveis de criminalidade alimentados por grupos de traficantes altamente armados.

"Eu comparo a UPP à anestesia antes de uma grande cirurgia. É a entrada da polícia para permitir depois a entrada da cidadania. Mas os poderes públicos não dão continuidade a isso", explica mais uma vez Beltrame, como o fez ao longo da semana.

Dona Marta foi a primeira favela "pacificada" em 2008, com o objetivo de restabelecer a segurança na cidade antes do Mundial de 2014 e dos Jogos Olímpicos de agosto passado. Outras 39 se seguiram a ela.

Atualmente, a comandante da UPP do Dona Marta, uma favela pequena, é a tenente Tatiana Lima, que tranquiliza aos moradores porque muitos deles temem a violência policial.

Beltrame, membro da polícia federal e católico praticante, pediu para deixar o cargo um dia depois de confrontos entre policiais e traficantes nas favelas Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, que ficam entre Copacabana e Ipanema. O tiroteio semeou pânico nesses dois bairros residenciais e turísticos por natureza. Três suspeitos morreram e cinco pessoas ficaram feridas, sendo três policiais.

"O que se passou no Pavão-Pavãozinho não é culpa da polícia", enfatiza Beltrame, que critica o poder judicial que muitas vezes relaxa a prisão de delinquentes perigosos.

Ele explica que o traficante Samuca foi autorizado pela Justiça a sair da prisão por causa do Dia das Mães e não voltou. Segundo os serviços de inteligência, ele queria "tomar todas as UPPs da zona sul", o que resultou no tiroteio no Pavão-Pavãozinho, onde Samuca foi preso.

UPPs alcançaram seu objetivo

Beltrame explica à AFP que sua saída do cargo estava prevista para depois dos Jogos e nega ter jogado a toalha diante da intensificação da violência ou a grave crise financeira atravessada pelo Estado de Rio, o que ameaça a manutenção das UPPs.

Cerca de 10 mil policiais foram mobilizados nessas comunidades, mas os traficantes buscam retomar o controle há três anos, quando as UPPs passaram por situações incômodas.

Um dos casos mais notórios foi o desaparecimento do pedreiro Amarildo Dias de Souza na favela da Rocinha, em julho de 2013, depois de uma operação policial, em uma ocorrência que se transformou em símbolo da violência policial.

Beltrame responde às críticas afirmando que as UPPs alcançaram seu objetivo: mostrar os bairros que estavam dominados pelo crime organizado e "unir o poder público à sociedade para selar a paz".

"A paz não pode se reduzir às ações policiais", insiste Beltrame, que critica que a segunda etapa do programa das UPPs, que visava a entrada de serviços sociais como creches, escolas e centros de saúde, nunca aconteceu.

Ele afirma que seu sucessor seguirá com o programa das UPPs, admitindo, no entanto, estar "preocupado por causa da situação econômica e política do país e financeira do Rio".