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Talibãs tomam a terceira cidade afegã Herat e se aproximam de Cabul

12.ago.2021 - Pessoal da força de segurança afegã monta guarda ao longo da estrada em Herat  - AFP
12.ago.2021 - Pessoal da força de segurança afegã monta guarda ao longo da estrada em Herat Imagem: AFP

Em Cabul

12/08/2021 14h01

Depois de semanas de conflitos, Herat - a terceira cidade do Afeganistão - foi tomada hoje pelos talibãs, que pouco antes ocuparam Ghazni, a 150 km da capital, em meio à intensa ofensiva da última semana.

Herat, a grande cidade do oeste, capital da província de mesmo nome, foi totalmente tomada pelos talibãs, segundo informou uma fonte de segurança.

"Tivemos que deixar a cidade para evitar mais destruição", disse à AFP, destacando que foram para uma base militar em um distrito vizinho.

Os talibãs hastearam sua bandeira no topo no quartel policial de Herat, informou um correspondente da AFP, acrescentando que os rebeldes não encontraram resistência.

"O inimigo fugiu. Dezenas de veículos militares, armas e munições caíram nas mãos" dos rebeldes, tuitou o porta-voz do Talibã, Zabihulá Mujahid.

Nas últimas semanas, Herat foi palco de intensos combates entre insurgentes e o Exército, apoiado pelas milícias de Ismail Khan, um conhecido senhor de guerra local.

Os talibãs já haviam tomado grande parte da província, inclusive a passagem fronteiriça de Islam Wala, um importante ponto de troca comercial com o Irã.

Horas antes, o governo confirmou a queda de Ghazni, a capital provincial mais próxima a Cabul tomada até agora e um ponto de comunicação entre a capital e Kandahar, a segunda cidade afegã.

"O inimigo se apoderou de Ghazni", disse o porta-voz do ministério do Interior Mirwais Stanikzai, que depois informou a detenção do governador da província pelas forças armadas.

Aparentemente, o responsável teria tentado fugir da cidade com a autorização dos talibãs. Essas informações ainda não puderam ser verificadas.

Diante do agravamento da situação, o governo propôs "aos talibãs uma distribuição de poder em troca do fim da violência", disse à AFP um dos negociadores do Executivo em Doha, onde as tratativas de paz entre o governo e os insurgentes iniciadas em setembro de 2020 continuam.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, rejeitou a ideia de um governo que inclua os talibãs. Neste momento, os insurgentes - que antes contemplavam essa proposta - poderiam rejeitá-la, já que sua ofensiva avançou a um ritmo vertiginoso nesses últimos dias.

Em apenas uma semana, assumiram o controle de dez das 34 capitais provinciais afegãs. Sete delas ficam no norte do país, uma região que conseguiu oferecer-lhes resistência no passado.

Também cercaram Mazar-i-Sharif, a cidade mais importante do norte, onde o presidente afegão reuniu-se, na quarta-feira (11), com diversas autoridades para tentar reativar o Exército e as milícias leais ao governo.

Conquistas de alto valor

Herat e Ghazni são conquistas de alto valor para os talibãs, que em maio iniciaram uma rápida ofensiva contra as posições do governo, aproveitando a retirada final das forças estrangeiras.

Em Ghazni, os insurgentes podem cortar as linhas de abastecimento terrestres do Exército entre Cabul e Kandahar.

Tudo isso aumentará a pressão sobre a Força Aérea afegã, que terá de bombardear posições dos talibãs e transportar material e reforços, caso os acessos por terra sejam tomados pelos talibãs.

Kandahar, capital da província de mesmo nome, e Lashkar Gah, capital da região de Helmand, também estão há meses sitiadas pelos talibãs, que as consideram seus feudos tradicionais.

Ontem, os talibãs anunciaram no Twitter que haviam tomado a prisão de Kandahar, situada na periferia da cidade, para libertar "centenas de prisioneiros", como fazem a cada vez que entram em uma cidade.

Crise humanitária

Os confrontos têm um custo terrível para a população civil. Em um mês, pelo menos 183 civis, incluindo crianças, foram mortos em Lashkar Gah, Kandahar, Herat (oeste) e Kunduz, e cerca de 360.000 pessoas fugiram de suas casas desde o início de 2021, de acordo com a ONU.

Vários civis chegaram a Cabul nos últimos dias, onde teme-se uma grave crise humanitária. Ainda traumatizados pelas atrocidades cometidas pelos talibãs diante de seus olhos, muitos afegãos tentam sobreviver em acampamentos de refugiados na capital, em meio ao mais terrível abandono.

As tropas internacionais devem concluir sua partida do Afeganistão no final deste mês. Esse desfecho se dará duas décadas após o início de sua intervenção armada para derrubar os talibãs do poder, na esteira dos ataques do 11 de Setembro nos Estados Unidos.

O governo americano garante que não voltará atrás em sua decisão, mas não escondeu, nos últimos dias, sua frustração com a fraqueza demonstrada pelo Exército afegão. Há anos, estas forças vêm sendo treinadas, financiadas e equipadas pelos EUA.

O ex-presidente Donald Trump, cujo governo negociou em 2020 o acordo de retirada com os talibãs, culpou seu sucessor Joe Biden pela ascensão "inaceitável" dos insurgentes.