Talibã avança, e mais de 300 mil pessoas abandonam casas no Afeganistão
Desde o anúncio da retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão, em maio, os talibãs avançam pelo país e já tomaram dez das 34 capitais provinciais.
Ao menos 183 pessoas morreram e quase 360 mil abandonaram suas casas devido aos confrontos do grupo com as forças armadas do país.
"Os talibãs capturaram os homens da minha família e eu fugi com minhas noras e minhas crianças", relata uma mulher em um parque público no centro da capital Cabul.
Em entrevista à RFI, ela conta que não tem mais notícias do marido e dos irmãos, todos eles policiais, tomados como reféns pelo movimento.
Vários civis chegaram a Cabul nos últimos dias, dando início ao que pode se tornar mais uma crise humanitária.
Ainda traumatizados pelas atrocidades cometidas pelos talibãs, muitos afegãos tentam sobreviver em acampamentos de refugiados improvisados na capital, em meio ao abandono.
"Estamos dormindo debaixo de uma árvore. Não temos nada para comer. Nos deram duas porções de arroz, mas continuamos com fome e sede", diz à RFI outra mulher alojada no local.
Voluntários distribuem mantimentos a dezenas de famílias aglomeradas no parque. Apesar da grande quantidade de pessoas no local, a cada dia mais afegãos chegam em busca de ajuda.
Muitos estão dormindo sobre toalhas e tapetes. Alguns banheiros femininos foram instalados, mas chegam rapidamente ao limite de utilização.
Azra, que abandonou sua casa em Kunduz, está traumatizada e teme que o acampamento improvisado seja alvo de um atentado. "Faz três dias que as pessoas começaram a falar que algo pode acontecer aqui. Tem muita gente neste parque. Ontem queimaram fogos de artifício em uma rua aqui perto, ficamos aterrorizados pensando que um homem-bomba tinha se explodido", diz.
Ghazni: a décima capital conquistada
Os talibãs conquistaram hoje a cidade de Ghazni, 150 km a sudoeste de Cabul. Essa é a 10ª das 34 capitais provinciais do Afeganistão a ser tomada pelo movimento.
"Eles assumiram o controle de áreas-chave da cidade: o gabinete do governador, a sede da polícia e a prisão", indicou o chefe do Conselho da Província de Ghazni, Nasir Ahmad Faqiri. A informação foi confirmada pelo Ministério do Interior.
Ghazni é a capital provincial mais próxima de Cabul de todas as conquistadas pelos insurgentes desde o lançamento de sua ofensiva em maio, após o início da retirada das tropas estrangeiras do país.
O avanço se intensificou há cerca de um mês, quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou que os últimos soldados norte-americanos deixarão o Afeganistão no final de agosto.
Na noite de da última terça-feira (10), os talibãs tomaram Pul-e-Khumri, capital da província de Baghlan, 200 km ao norte de Cabul.
Também cercaram Mazar-i-Sharif, a cidade mais importante do norte, onde o presidente afegão, Ashraf Ghani, se reuniu ontem com diversas autoridades para tentar mobilizar o Exército e as milícias favoráveis ao governo.
EUA prometem não voltar atrás
A saída das tropas internacionais do Afeganistão se dará duas décadas após o início da intervenção armada para derrubar os talibãs do poder, na esteira dos ataques do 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Na terça-feira, o presidente norte-americano garantiu que não voltará atrás na decisão de retirar as tropas do Afeganistão. "Os afegãos devem ter vontade de lutar e devem lutar eles mesmos por sua nação", completou.
Alguns representantes não escondem a frustração com a fragilidade do Exército afegão. Há anos, estas forças vêm sendo treinadas, financiadas e equipadas pelos Estados Unidos.
"Vemos uma deterioração da situação em matéria de segurança", admitiu o porta-voz do Pentágono, John Kirby, ontem. Segundo ele, há "lugares e momentos" em que as tropas afegãs estão "lutando de verdade".
Na esfera diplomática, o enviado norte-americano Zalmay Khalilzad se reuniu nos últimos dois dias, em Doha, no Catar, com líderes talibãs na tentativa de relançar um processo de paz com o governo afegão. No entanto, há semanas, esta negociação se encontra paralisada.
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