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Deputados usam CPI para investigar delator que acusa Eduardo Cunha

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Em Brasília

30/07/2015 07h42

A cúpula da CPI da Petrobras, formada em sua maioria por aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), solicitou à empresa de espionagem Kroll que dê prioridade às investigações sobre o lobista Júlio Camargo, que acusa o peemedebista de ter pedido propina de US$ 5 milhões no esquema de corrupção da estatal.

Os aliados de Cunha querem receber as informações sobre Camargo até o fim de agosto. A intenção, segundo integrantes da CPI, é apontar contradições na delação premiada e desqualificar o depoimento do lobista mostrando evidências de que ele não contou toda a verdade e, portanto, descumpriu o acordo firmado com as autoridades.

A investigação paralela da CPI procura eventuais contas, movimentações financeiras e ativos patrimoniais no exterior que não foram mencionadas por Camargo na deleção. Com isso, os aliados de Cunha esperam derrubar as acusações de Camargo contra o presidente da Câmara.

O primeiro contrato firmado com a Kroll, no valor de R$ 1,18 milhão, já pago, estabelece que a empresa investigue 15 pessoas. Uma fonte ligada à investigação disse que o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), e um dos sub-relatores da comissão, André Moura (PSC-SE), escolheram 12 pessoas do hall de personagens que figuram na Operação Lava Jato para serem investigadas. Segundo versão oficial divulgada pela CPI, a Kroll já havia encontrado indícios da existência de ativos no exterior vinculados a essas pessoas.

Na lista, há ex-diretores da Petrobras, executivos e operadores do esquema de corrupção. Políticos ficaram de fora. As três vagas restantes foram preservadas para novas "prioridades". Há cerca de um mês, os deputados pediram prioridade na investigação de cinco pessoas. Duas semanas depois, restringiram a lista a quatro. Júlio Camargo é um desses nomes que são mantidos em sigilo. Cunha diz não fazer comentários sobre a CPI.

O peemedebista nega a acusação feita pelo lobista e responsabiliza o governo e a Procuradoria-Geral da República pelas acusações. Segundo ele, Camargo foi pressionado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os advogados de Eduardo Cunha pediram ao Supremo Tribunal Federal a suspensão da ação penal em que Camargo cita o presidente da Câmara dos Deputados.

A defesa diz que houve uma "anomalia jurídica", já que o depoimento do lobista no qual Cunha foi citado foi prestado no Paraná, descumprindo a exigência de que os atos relativos a um parlamentar sejam feitos perante o Supremo Tribunal Federal, devido à prerrogativa de foro privilegiado.

Investigados

O acesso à lista de investigados da Kroll é, em tese, restrito a Eduardo Cunha, Hugo Motta e André Moura. O presidente da Câmara determinou sigilo dos documentos até 2020. Em três meses de atuação, a Kroll investigou 59 contas bancárias fora do país. A Câmara negocia com a empresa uma nova fase das investigações. A segunda etapa, que deve durar nove semanas, culminará com a apresentação do relatório final.

O Legislativo tenta reduzir o novo valor cobrado pela empresa de espionagem, que deve superar R$ 1 milhão. A empresa foi contratada com dispensa de licitação, o que gerou questionamentos. O mistério acerca do trabalho feito pela Kroll é alvo de crítica de parlamentares da CPI.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) acusa Motta de esconder as investigações. Valente chegou a cobrar que os nomes a serem investigados pela empresa fossem submetidos à aprovação da comissão. "Quando o contrato estiver fechado, será divulgado o número de investigados e o valor a ser pago", afirmou Hugo Motta. Questionado sobre o fato de o lobista Júlio Camargo ser um dos alvos, o presidente da CPI da Petrobras afirmou que não faz comentários sobre os investigados.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".