Topo

Ameaça incontrolável, ebola mata mais de 7 mil em 2014

22/12/2014 12h56

Por Moreno Bastos SÃO PAULO, 22 DEZ (ANSA) - Quase 40 anos depois de ser descoberto no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo (RDC), o vírus ebola atingiu seu mais alto grau de devastação em 2014. Durante o ano, a doença se aproveitou de fatores como a fragilidade econômica e a precariedade dos sistemas de saúde de países africanos, além de obstáculos para lidar com profundas tradições culturais. Segundo o último boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS), foram registrados mais de 17 mil casos da doença, com sete mil vítimas fatais, na pior epidemia da história desde a Aids.   

Considerada um ameaça global pela entidade, o ebola extrapolou as fronteiras do continente africano. Iniciada em um vilarejo da Guiné, o surto do vírus se alastrou rapidamente por Libéria, Nigéria, Serra Leoa e Senegal. Pelo seu alto grau de contaminação e mortalidade, o ebola rapidamente deixou em colapso os hospitais dos países afetados.   

Em entrevista à ANSA, Maria Rado, diretora de unidade da organização Médico sem Fronteiras (MSF), afirmou que o vírus fez com que pacientes de outras doenças perdessem espaço nos tratamentos, tornando-se vítimas indiretas da febre hemorrágica.   

"As pessoas morrem de doenças como malária e diarreia na medida em que centros de saúde fecham, trabalhadores da área ficam doentes ou são forçados a parar de trabalhar. Os pacientes, por sua vez, evitam procurar ajuda com medo de infecção", disse.   

Do Paciente zero à ameaça global - O chamado "paciente zero" foi uma criança de dois anos, que morreu em 6 de dezembro de 2013.   

Era o começo da proliferação. Apesar disso, as primeiras confirmações da OMS de que se tratava do ebola foram divulgadas somente no final de março de 2014, quando 59 pessoas já haviam perdido a vida na Guiné. Neste momento, a febre hemorrágica já tinha atravessado a fronteira para Libéria e Serra Leoa, que revelavam os primeiros casos. Poucas semanas depois, ao enviar equipes de combate à doença para a África, a OMS emitiu um alerta sobre o aumento dos casos de infecção em 60%.   

No dia 20 de junho, a epidemia fez 337 vítimas fatais e se tornou a mais mortal na história. Um mês depois, o número de mortos duplicou. Após reunião com 11 países africanos e organizações não governamentais, como MSF e Cruz Vermelha (CV), o vice-diretor da OMS, Keiji Fukuda, previu uma longa jornada de combate ao ebola. Porém, mesmo com campanhas de conscientização, os governos dos países afetados sofreram com a rejeição de parte da população aos métodos preventivos. "A resposta internacional para o ebola na África Ocidental tem sido lenta, com sérios problemas em termos de pessoal", afirmou a diretora da MSF.   

Segundo Maria Rado, enquanto os esforços miram o financiamento para construção de centros de combate ao vírus, há pouca preocupação no gerenciamento destes postos. "Geralmente ficam a cargo de ONGs e profissionais de saúde local, que não têm experiência e treinamento para isso", explicou. No dia 3 de setembro, em alerta feito por sua diretora, Margareth Chan, a OMS declarou que a epidemia do ebola "é uma ameaça que precisa de resposta global e coordenada." Em meio aos números cada vez mais alarmantes de vítimas na África, o governo de Cuba anunciou o envio de quase 300 profissionais de saúde para Serra Leoa, a maior oferta de médicos feita por um único país. Já os EUA enviaram três mil militares para a África Ocidental. No fim de setembro, com o crescimento acelerado dos casos de febre hemorrágica no oeste africano, surgiram os primeiros diagnósticos fora da África. Nos EUA, o liberiano Thomas Duncan, contaminado em uma viagem ao seu país, foi isolado em hospital do Texas, mas não resistiu e morreu no dia 8 de outubro. Este e os outros casos de contágio na Europa e nos EUA causaram grande impacto na opinião pública, que passaram a criticar os sistemas de fiscalização e segurança dos profissionais de saúde.   

No Brasil, a suspeita com o possível caso do africano Souleymane Bah foi logo descartada, após dias de exames e isolamento no Rio de Janeiro.   

Entre entre outubro e novembro, três países africanos declararam o fim da proliferação do ebola. Senegal, Nigéria e Congo conseguiram controlar a contaminação da doença. No entanto, Guiné, Libéria e principalmente Serra Leoa, enfrentam séria dificuldades em conter o progresso do vírus. Para a representante da MSF, o ano de 2014 marcou o início de uma longa batalha contra o ebola, que começou no oeste africano.   

Mas que, para vencê-la, deve se tornar cada vez mais uma luta internacional.   

"A epidemia é imprevisível, ainda está em constante evolução e exige uma resposta robusta e fluida. Não temos uma visão clara da extensão do surto, pois as estimativas não são absolutamente confiáveis", disse Maria Rado. "O que sabemos com certeza é que o surto está longe de terminar, e ainda é extremamente necessário que chegue mais ajuda". (ANSA)
Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.