Nigéria elege presidente muçulmano com fama de 'mão-de-ferro'
Muhamadu Buhari tornou-se o primeiro muçulmano a ganhar a eleição presidencial na Nigéria, derrotando o presidente, Goodluck Jonathan, na primeira vitória de um candidato da oposição na história do país.
Buhari, de 72 anos, é ex-general e já tinha governado o país, a maior economia da África, entre janeiro de 1984 e agosto de 1985, após um golpe militar em dezembro de 1983. O lema de seu regime era "guerra contra a indisciplina", e ficou marcado, na memória de muitos nigerianos, pela campanha contra corrupção e por abusos de direitos humanos. Ele acabou deposto e preso.
A eleição de Buhari é um fato histórico, já que também é a primeira vez que um presidente candidato à reeleição é derrotado na Nigéria. Foi a segunda vez que Buhari - que perdeu as últimas três eleições - enfrentou Jonathan.
Buhari derrotou Jonathan por uma diferença de cerca de 2 milhões de votos.
O presidente eleito prometeu acabar com o grupo rebelde islâmico Boko Haram em questão de meses - rejeitando negociar com o grupo - e criticou a ineficiência de Jonathan diante do avanço da milícia. Em julho de 2014, Buhari sobreviveu a um atentado que tinha sinais do Boko Haram.
Desde a independência da Nigéria da Grã-Bretanha, em 1960, o país teve diversos golpes e a maioria das eleições foi fraudada.
Buhari teve a vantagem de ser o candidato da oposição agrupada no Congresso de Todos os Progressistas (APC, na sigla em inglês). O APC atraiu importantes dissidentes do Partido Democrático do Povo (PDP), que dominou a cena política desde o fim do regime militar, em 1999.
Ele é popular no norte do país e há os que acreditam que seu passado militar é justamente o que o país precisa para enfrentar a insurgência do Boko Haram, que é forte justamente naquela região e no nordeste do país.
Buhari, que se mostrou a favor da lei islâmica (sharia) no norte, nega que teria uma agenda radical oculta. Sua condição de muçulmano havia sido um problema nas urnas desde 2003, por nunca conseguir o apoio dos cristãos no sul.
'Guerra contra a indisciplina'
As opiniões sobre o regime de Buhari são conflitantes. Cerca de 500 políticos e empresários foram detidos e alguns o veem como um militar que governa com mão-de-ferro.
Mas outros o elogiam pela tentativa de lutar com a corrupção endêmica que impedia o desenvolvimento da Nigéria. De fato, Buhari mantém uma reputação de honestidade rara entre políticos nigerianos.
Sob a campanha conhecida como "Guerra contra a indisciplina", durante seu governo nigerianos eram forçados a fazer fila para pegar ônibus sob a mira de soldados armados e funcionários que chegavam tarde ao trabalho eram humilhados em público.
Além disso, ele aprovou decreto que restringia a liberdade de imprensa - e que levou à prisão de jornalistas.
Seus esforços de reequilibrar as finanças públicas reduzindo as importações levou à demissão de muitos funcionários e ao fechamento de diversos negócios e, como parte das medidas contra a corrupção, ordenou que a moeda fosse substituída.
Os preços subiram e o nível de vida caiu, o que levou a um golpe do general Ibrahim Babangida, em agosto de 1985. Buhari passou mais de três anos preso. Babangida queria acelerar a restauração de um regime civil, o que não era uma prioridade para Buhari.
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