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Nigéria elege presidente muçulmano com fama de 'mão-de-ferro'

1.abr.2015 - O presidente eleito da Nigéria, Muhammadu Buhari (esq), é o primeiro muçulmano a vencer eleições presidenciais no país - AFP
1.abr.2015 - O presidente eleito da Nigéria, Muhammadu Buhari (esq), é o primeiro muçulmano a vencer eleições presidenciais no país Imagem: AFP

01/04/2015 07h49

Muhamadu Buhari tornou-se o primeiro muçulmano a ganhar a eleição presidencial na Nigéria, derrotando o presidente, Goodluck Jonathan, na primeira vitória de um candidato da oposição na história do país.

Buhari, de 72 anos, é ex-general e já tinha governado o país, a maior economia da África, entre janeiro de 1984 e agosto de 1985, após um golpe militar em dezembro de 1983. O lema de seu regime era "guerra contra a indisciplina", e ficou marcado, na memória de muitos nigerianos, pela campanha contra corrupção e por abusos de direitos humanos. Ele acabou deposto e preso.

A eleição de Buhari é um fato histórico, já que também é a primeira vez que um presidente candidato à reeleição é derrotado na Nigéria. Foi a segunda vez que Buhari - que perdeu as últimas três eleições - enfrentou Jonathan.

Buhari derrotou Jonathan por uma diferença de cerca de 2 milhões de votos.

O presidente eleito prometeu acabar com o grupo rebelde islâmico Boko Haram em questão de meses - rejeitando negociar com o grupo - e criticou a ineficiência de Jonathan diante do avanço da milícia. Em julho de 2014, Buhari sobreviveu a um atentado que tinha sinais do Boko Haram.

Desde a independência da Nigéria da Grã-Bretanha, em 1960, o país teve diversos golpes e a maioria das eleições foi fraudada.

Buhari teve a vantagem de ser o candidato da oposição agrupada no Congresso de Todos os Progressistas (APC, na sigla em inglês). O APC atraiu importantes dissidentes do Partido Democrático do Povo (PDP), que dominou a cena política desde o fim do regime militar, em 1999.

Ele é popular no norte do país e há os que acreditam que seu passado militar é justamente o que o país precisa para enfrentar a insurgência do Boko Haram, que é forte justamente naquela região e no nordeste do país.

Buhari, que se mostrou a favor da lei islâmica (sharia) no norte, nega que teria uma agenda radical oculta. Sua condição de muçulmano havia sido um problema nas urnas desde 2003, por nunca conseguir o apoio dos cristãos no sul.

'Guerra contra a indisciplina'

As opiniões sobre o regime de Buhari são conflitantes. Cerca de 500 políticos e empresários foram detidos e alguns o veem como um militar que governa com mão-de-ferro.

Mas outros o elogiam pela tentativa de lutar com a corrupção endêmica que impedia o desenvolvimento da Nigéria. De fato, Buhari mantém uma reputação de honestidade rara entre políticos nigerianos.

Sob a campanha conhecida como "Guerra contra a indisciplina", durante seu governo nigerianos eram forçados a fazer fila para pegar ônibus sob a mira de soldados armados e funcionários que chegavam tarde ao trabalho eram humilhados em público.

Além disso, ele aprovou decreto que restringia a liberdade de imprensa - e que levou à prisão de jornalistas.

Seus esforços de reequilibrar as finanças públicas reduzindo as importações levou à demissão de muitos funcionários e ao fechamento de diversos negócios e, como parte das medidas contra a corrupção, ordenou que a moeda fosse substituída.

Os preços subiram e o nível de vida caiu, o que levou a um golpe do general Ibrahim Babangida, em agosto de 1985. Buhari passou mais de três anos preso. Babangida queria acelerar a restauração de um regime civil, o que não era uma prioridade para Buhari.