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No alvo de Obama, prisão em Guantánamo coleciona polêmicas

Brennan Linsley/AP - 15.jul.2009
Imagem: Brennan Linsley/AP - 15.jul.2009

João Fellet - @joaofellet

Da BBC Brasil, em Washington

23/02/2016 17h00

Ao anunciar, nesta terça-feira (23), um plano para fechar a prisão de Guantánamo, o presidente americano Barack Obama disse buscar "encerrar um capítulo da história" dos EUA.

Inaugurado meses após os ataques de 11 de setembro de 2001 para abrigar estrangeiros acusados de atentar contra os Estados Unidos, o centro se tornou objeto de várias controvérsias e denúncias de violações de direitos humanos.

Fechar a prisão era uma das promessas de campanha de Obama em 2008, mas problemas jurídicos e políticos e entraves sobre o destino dos detidos o impediram de cumpri-la até agora. O centro, pela qual já passaram quase 800 prisioneiros, hoje abriga 91 pessoas.

A BBC Brasil listou algumas das principais polêmicas envolvendo Guantánamo.

Denúncias de tortura

Advogados de prisioneiros, reportagens e investigações independentes denunciaram a prática de tortura no centro.

Entre os métodos citados estavam a exposição dos detentos a música muito alta e temperaturas extremas, humilhações de cunho sexual e religioso, privação de sono e espancamentos.

Em 2005, o então vice-presidente Dick Cheney rejeitou as acusações: "Não há nenhuma outra nação no mundo que trate pessoas que estavam determinadas a matar americanos da forma que nós tratamos essas pessoas."

Convenção de Genebra

Ao erguer o complexo, o governo do então presidente George W. Bush argumentou que os presos ali não estariam sujeitos à Convenção de Genebra, tratado internacional de 1929 que definiu as regras para a detenção de prisioneiros de guerra.

Segundo o governo americano, os presos não se enquadravam na convenção porque atuavam à margem da lei, e não como soldados convencionais.

Entre outros pontos, a convenção proíbe o uso de tortura física ou psicológica em interrogatórios.

Em 2006, no entanto, o governo americano passou a considerar a convenção válida para todos os seus prisioneiros após a Suprema Corte condenar políticas que haviam mantido centenas de pessoas detidas por vários anos e sem julgamentos.

Greves de fome e alimentação forçada

Em resposta a prolongadas greves de fome entre prisioneiros, guardas de Guantánamo passaram a alimentá-los à força.

Pelo método, eles eram presos a cadeiras e tinham um tubo inserido até a garganta através das narinas.

O governo americano diz que o método só era usado em casos extremos, quando as várias tentativas de convencimento falhavam e a vida dos detentos corria riscos. A prática é condenada por várias associações médicas e já foi criticada pela Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Detentos jamais julgados

O governo americano diz que alguns detidos em Guantánamo são muito perigosos para serem transferidos, mas jamais poderão ser julgados por cortes nos EUA, já que a Justiça americana não aceitaria as provas ou a forma como foram coletadas.

Obama afirmou que comissões militares serão usadas para resolver os casos desses detentos, mas que a solução não pode criar um precedente para o futuro. Ele defende transferi-los para prisões de segurança máxima nos Estados Unidos.

Há grande pressão contra a soltura de detidos em Guantánamo. Defensores da manutenção da prisão citam casos de ex-prisioneiros que supostamente teriam voltado a planejar e executar atentados após serem soltos.

Território reclamado por Cuba

A base naval onde fica a prisão foi erguida pelos Estados Unidos alguns anos após a vitória do país na Guerra Hispano-Americana (1898), quando Cuba passou a viver sob forte influência americana.

O território, porém, jamais foi considerado formalmente parte dos Estados Unidos. A condição é frequentemente citada pelos que defendem que a prisão não está sujeita às leis americanas.

Após a Revolução Cubana, em 1959, Havana passou a exigir a devolução de Guantánamo, considerado um "território ocupado ilegalmente".

O plano de Obama para fechar a prisão foi anunciado dias após ele definir as datas de sua primeira visita a Cuba, em março, viagem que será um marco no processo de reaproximação entre os dois países.