Libaneses parabenizam Temer e ironizam 'único libanês' no comando de uma nação
Sem presidente há dois anos, libaneses festejaram a substituição interina de Dilma Rousseff por Michel Temer e aproveitaram para ironizar o "único libanês" no comando de uma nação.
Temer, que tem origens libaneses da pacata cidade de Btaaboura, no norte do país, assumiu a Presidência interinamente nesta quinta-feira depois de o Senado aprovar, por 55 votos a favor e 22 contra, a abertura do processo de impeachment contra a petista.
Em entrevista à BBC Brasil, Bassam Barbar, prefeito de Btaaboura e primo em segundo grau de Temer, disse esperar que o vice-presidente "una o país".
"Agora que ele [Temer] virou presidente, eu desejo que ele una o Brasil e siga o exemplo de sua cidade ancestral Btaaboura, onde a população é unida e um filho desta cidade sempre busca o melhor. Desejo que ele resolva os problemas dos brasileiros, que estão divididos e precisam de alguém que os una", disse ele.
"Mandarei uma mensagem para ele dizendo o quanto nós aqui da cidade estamos orgulhosos dele, e esperamos que ele venha nos visitar pela terceira vez, agora como presidente".
Comemoração
Barbar prometeu organizar uma festa para comemorar a chegada à Presidência de Temer.
"Aqui na cidade organizaremos uma festa com dança, música (Dabke), distribuiremos flores e doces para a população", acrescentou.
Políticos e ativistas libaneses também usaram as redes sociais para parabenizar o vice-presidente.
Em sua página no Facebook, Samy Gemayel, líder do partido cristão Kataeb (Falangistas), publicou uma foto de Temer com a frase: "Parabéns ao Líbano pelo novo presidente no Brasil".
Já a ativista Lara Sakr escreveu "Temer é novo presidente do Brasil" acompanhado de emoticons com palmas.
A substituição interina de Dilma por Temer também foi repercutida pela imprensa local. "Michel Temer é novo presidente do Brasil", publicou o jornal "An Nahar".
Ironia
Libaneses também ironizaram a chegada de Temer à Presidência como o único “libanês” no comando de um país. Isso porque o Líbano não tem um presidente desde maio de 2014, quando o então chefe de Estado, Michel Suleiman, terminou o mandato que havia iniciado seis anos antes.
Essa talvez seja a principal razão pela qual o pequeno país árabe tenha acompanhado de perto os desdobramentos da crise política no Brasil.
Desde o início do processo de impeachment agora em curso no Senado, a possibilidade de Temer assumir a Presidência foi assunto constante na imprensa local e entre muitos libaneses.
Mergulhado em uma crise desde 2005 e sem perspectivas de melhoras, o Líbano foi abalado um ano depois por uma guerra entre o grupo xiita libanês Hezbollah e Israel e vem enfrentando constantes problemas econômicos e sociais.
O curioso é que nas manchetes em jornais e emissoras do país, a origem libanesa de Temer é sempre lembrada, e em algumas vezes ele é chamado de libanês em vez de brasileiro.
Comentaristas chegam a dizer que a frustração pelo fracasso do Parlamento libanês em eleger um presidente, pelo desemprego, pelos cortes constantes de eletricidade, serviços básicos ineficientes, como a coleta de lixo, e a guerra na vizinha Síria, que afeta o país, faz com que libaneses olhem para a ascensão de Temer como um exemplo de "sucesso" fora do Líbano.
"Um libanês pode assumir a Presidência do Brasil", foi a manchete de 19 de abril de uma reportagem do The Daily Star, o mais importante diário em língua inglesa no Líbano, ignorando o fato de que o peemedebista é, na verdade, natural de Tietê, no interior paulista.
"Michel Temer, um vice-presidente brasileiro de origem libanesa, vê sua hora chegar", definiu o diário libanês L’Orient Le Jour, publicado em francês, em sua edição de 17 de abril.
Recentemente, em um programa de política na emissora libanesa LBC, um comentarista chegou a dizer que era irônico que "um libanês possa assumir a Presidência de um dos países mais importantes do mundo, enquanto o Líbano não tem um presidente há dois anos".
Crises intermináveis
Enquanto no Brasil tamanho vácuo no poder é impensável, no Líbano a ausência de presidente não é novidade.
Em 2004, o então presidente Émile Lahoud - apoiado pela Síria, que controlava a vida política e mantinha tropas no Líbano desde sua intervenção no país durante a guerra civil, em 1976 - teve seu cargo estendido por mais três anos, levando a uma tensão com o então primeiro-ministro Rafik Hariri e outros partidos políticos.
Hariri foi assassinado em fevereiro de 2005, em um atentado a bomba, o que desencadeou uma profunda polarização do Líbano. De um lado, movimentos políticos acusavam a Síria de estar por trás do atentado e pediam a retirada das tropas sírias. De um outro, havia o movimento liderado pelo Hezbollah e que mantinha estreitas relações com o regime sírio do presidente Bashar al-Assad.
A autoria do atentado sempre foi negada pelo governo sírio, mas amplos protestos em março de 2005, e pressões internacionais, levaram a Síria a encerrar sua presença militar no Líbano após 29 anos. O assassinato de Hariri permanece sendo investigado por um tribunal especial internacional.
Em julho de 2006, o Hezbollah se viu envolvido em uma guerra com Israel que levou à destruição de grande parte da infraestrutura do país, gerando críticas de partidos políticos opositores, aprofundando a polarização política entre movimentos pró e anti-Síria e paralisando o governo. O Parlamento ficou fechado por diversos meses, enquanto o país ainda passava por reconstrução após o combate com Israel.
Lahoud terminou seu mandato em novembro de 2007 e o Parlamento não conseguiu chegar a um acordo para eleger o presidente. No Líbano, um candidato precisa obter dois terços dos votos de 128 deputados para ser eleito. Em 2008, o general Michel Suleiman, ex-comandante das Forças Armadas, foi finalmente eleito após seis meses sem presidente, e governou até 2014. Depois dele, veio o vácuo político.
Muitos libaneses acreditavam que o governo poderia resolver os diversos problemas urgentes: os cortes constantes de eletricidade, a coleta ineficiente de lixo, a distribuição de água, o desemprego e a corrupção. Mas a guerra na vizinha Síria colocou ainda mais pressão sobre um país com poucos recursos e um governo disfuncional.
Em 2011, a Síria viu um levante popular contra o regime de Assad, na onda da Primavera Árabe, se transformar em uma guerra civil, que até o momento já matou mais de 250 mil sírios e levou a um fluxo de refugiados para países vizinhos como a Turquia, Líbano e Jordânia, entre outros.
Somente no Líbano, há mais de 1 milhão de refugiados, o que aumenta a pressão sobre a infraestrutura do país.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.