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O voluntário que salvava crianças dos escombros da guerra - e que morreu em bombardeio

Voluntário resgatou bebê de menos de um mês de idade dos escombros de uma casa destruída por um bombardeio em Aleppo - Reprodução
Voluntário resgatou bebê de menos de um mês de idade dos escombros de uma casa destruída por um bombardeio em Aleppo Imagem: Reprodução

13/08/2016 17h22

Um voluntário que ficou famoso após resgatar um bebê de menos de um mês de idade dos escombros de uma casa destruída por um bombardeio em Aleppo, na Síria, morreu na mesma cidade nesta semana, vítima de um ataque aéreo.

Khaled Omar Harrah, de 31 anos, fazia parte do grupo conhecido como "capacetes brancos" e era um dos mais antigos colaboradores da Defesa Civil da Síria. Ele ficou conhecido por salvar crianças dos destroços da guerra civil que assola o país.

Em 2014, um vídeo capturou o momento em que Harrah conseguiu resgatar um bebê de duas semanas de idade de uma casa atingida por bombas em Aleppo. O menino resgatado, Mahmoud, ficou conhecido à época como o "bebê milagroso".

Um dos colegas de Harrah na Defesa Civil, Raed Saleh, classificou a morte do voluntário como uma grande perda "para todos os sírios".

"Ele se importava com os sírios e salvou muita gente. Ele resgatou muitas crianças de escombros", contou Saleh. Para ele, a morte de Khaleb Harrah é "a principal perda dos capacetes brancos" desde que o grupo começou o trabalho, há cinco anos.

"Aquele bebê agora está na Turquia, com a família. Há tantas histórias sobre tantas crianças que ele salvou", afirmou.

Saleh conheceu Harrah justamente no dia do salvamento de Mahmoud. Naquele dia, o voluntário passou nove horas ininterruptas cavando para salvar o bebê. Quase 1 milhão de pessoas assistiram às imagens que o mostram retirando a criança dos escombros.

O colega conta, porém que esse foi apenas um dos inúmeros os salvamentos feitos pelo companheiro na Defesa Civil.

"Uma vez ele salvou cinco crianças de uma escola que foi atingida (por um bombardeio). E então teve o ataque no Hospital Al Kuds, em Aleppo (...). Khaled trabalhou por 72 horas, sem parar, para salvar as pessoas. Ele tirou uma criança dos escombros depois de 30 horas", lembrou Saleh.

'Inferno'

"A vida na Síria, especialmente em lugares como Aleppo, é um inferno", relata Saleh, que passou 25 dias com Harrah e chegou a viajar com ele aos Estados Unidos em uma tentativa de alertar o mundo para as dificuldades que os sírios e os capacetes brancos enfrentam em meio à guerra.

Khaled Harrah nunca quis deixar o país - sua mulher e as duas filhas do casal ainda estão no país.

"Ele não quis sair e perdeu a própria vida tentando salvar outras. Era um homem simples, honesto, uma grande pessoa", diz o colega.

"Todo mundo sabe o perigo, sabe o quanto nosso trabalho é difícil. O que motiva é que estamos salvando vidas e dando esperança às pessoas. Depois de cinco anos de uma guerra sangrenta, estamos dando esperança às pessoas", explicou Saleh.

Segundo ele, os sírios sabem que há pessoas prontas para tirá-los dos escombros em caso de ataque. Mas ele admite que há muito desânimo no país.

"Fizeram tantas campanhas nos últimos anos e ainda estamos na mesma situação. Tivemos tantas reuniões internacionais, tantas reuniões da ONU e ainda não há solução."

"Sei de pessoas dentro e fora da Síria que estão tentando mobilizar forças para salvar os sírios da guerra civil. Mas às vezes, para nós sírios, parece que vivemos em um outro planeta e o resto do mundo não pode nos ouvir."