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Trump x Clinton: quem venceu o debate presidencial nos EUA?

Trump e Clinton falam durante o segundo debate presidencial, em St. Louis, EUA - John Locher/ AP
Trump e Clinton falam durante o segundo debate presidencial, em St. Louis, EUA Imagem: John Locher/ AP

Da BBC Mundo

10/10/2016 08h28

O segundo debate da campanha presidencial dos Estados Unidos, realizado no último domingo (9) entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump, foi marcado por acusações de cunho sexual, troca de farpas sobre o caráter dos candidatos e discordância sobre imigração.

Marcado para dois dias após a revelação de um vídeo de 2005 em que Trump faz comentários machistas sobre mulheres, o debate prometia ser uma guerra nuclear marcada por acusações sobre abuso sexual e não demorou muito para a bomba explodir.

Porém, ao contrário de uma guerra nuclear com garantia de destruição súbita, os participantes tiveram que continuar debatendo sobre variados assuntos por mais uma hora. O resultado foi um lamaçal no qual ambos os candidatos se afundaram, porém sem um nocaute, segundo o correspondente da BBC em Washington Anthony Zurcher.

Considerando que o apoio a Trump entrou em queda livre nas últimas 48 horas após a divulgação do vídeo, na mais grave crise de sua campanha, e a apenas um mês das eleições presidenciais, qualquer performance que não fosse um completo constrangimento seria um sucesso, e foi isso o que aconteceu.

No entanto, apesar da extraordinária audiência do evento, é pouco provável que sua performance no debate mude a opinião pública a seu respeito. Se o objetivo de Trump era garantir a maioria dos votos no dia da eleição, sua performance agressiva provavelmente não dará certo.

Já o time Clinton perdeu uma ótima oportunidade de esmagar Trump. Seus apoiadores esperavam um tiro certeiro para mandar o republicano de volta para casa, porém, apesar de ter dado bons golpes, Clinton está longe de ter vencido o debate.

Na verdade, os dois candidatos saíram sangrando, mas ainda não derrotados. Clinton continua à frente de Trump nas pesquisas, com 47% dos votos favoráveis a ela contra 42% apoiando Trump, segundo apuração da organização YouGov. Para garantir a Casa Branca, contudo, ela ainda terá de dar duro.

Principais momentos do debate

Clinton aproveitou a explosão do vídeo em que se refere a mulheres com palavras degradantes para questionar já na segunda pergunta se ele de fato havia agarrado mulheres "por ser uma estrela".

O republicano respondeu dizendo que "ninguém tem mais respeito pelas mulheres do que eu", uma frase que fez os repórteres abafarem o riso na sala de imprensa.

"Eu acho que ficou claro para todos que ouviram [a gravação] que isso representa exatamente quem ele é. Porque vimos isso durante a campanha", rebateu Clinton.

As luvas de pelica caíram neste momento e, depois de se desculpar pela frase constrangedora, Trump utilizou os mais ardilosos rumores que tinha, acusando o ex-presidente e marido da democrata, Bill Clinton, de estupro e a própria candidata de acobertar um estuprador.

Trump chegou a dizer que, caso seja eleito, fará uma investigação federal que a colocará na cadeia na mais escandolosa troca de farpas dos 56 anos de debates presidenciais dos Estados Unidos.

E esse foi apenas o começo. Clinton foi obrigada, mais uma vez, a explicar o uso de um servidor de e-mails particular enquanto era Secretária de Estado.

Em vez de dizer que se arrepende disso, como no primeiro debate, Clinton deu uma explicação mais elaborada a respeito e Trump aproveitou para repetir que ela deveria ser presa por isso.

Essa foi apenas uma das vezes em que Trump insistiu na tecla da confiança, uma de suas maiores fraquezas, de acordo com pesquisas de opinião. Durante boa parte do debate, o caráter de Hillary Clinton foi questionado por Trump, mas na hora de falar sobre política, o despreparo do republicano ficou óbvio.

Na questão sobre reforma do sistema de saúde, Clinton falou sobe sua vontade de mudar a lei, uma utopia se o Congresso continuar dominado por republicanos.

Trump deu uma resposta confusa se posicionando contra o que chamou de "lei desastrosa", sem dar detalhes sobre como garantiria que condições pré-existentes de saúde seriam cobertas sem seguros. Ao falar de impostos, ele apenas disse que os cortaria e que Clinton aumentaria.

Em termos de política externa, Trump se meteu em um bate-boca com uma das moderadoras do debate, Martha Raddatz, dizendo que lançaria ataques surpresa à Síria e que Alepo já é uma causa perdida.

Ao falar sobre islamofobia, o republicano classificou o preconceito como "uma vergonha", mas quando questionado sobre sua proposta de banir o véu muçulmano, que continua de pé em seu site, ele disse que está em processo de "investigação".

A respeito de imigração, Donald Trump disse que os refugiados sírios poderiam ser um "cavalo de Troia" e que muitos migrantes sem documentos são criminosos.

O interesse pela eleição nos Estados Unidos vai muito além das fronteiras do país.

Clinton contra-atacou defendendo o aumento do número de refugiadops nos Estados Unidos e falando sobre a proibição do véu.

"Donald disse que quer excluir pesoas com base em sua religião. Como você faz isso? Somos um país fundado em autonomia e liberdade religiosa", afirmou. A proposta de Trump é popular entre os mais ferrenhos apoiadores republicanos, mas não faz sucesso entre a maioria dos americanos.

Houve ainda uma menção rápida a mudanças climáticas que se transformou em um debate sobre políticas relacionadas a energia. Parece inútil esperar o retorno desse assunto tão cedo, pelo menos enquanto as acusações de cunho sexual permanecerem em evidência.