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América Latina vive ano de crise gerada por queda do preço de matérias-primas

15/12/2015 20h19

Ana Mengotti.

Bogotá, 15 dez (EFE).- A excessiva dependência das matérias-primas e o fortalecimento colocaram a América Latina em uma situação difícil em 2015, após uma inusitada década de bonança cujos efeitos evaporaram em alguns países.

A economia da região registrará uma contração de 0,8% neste ano, divulgou em novembro Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), órgão que começou o ano com previsões positivas, reduzidas paulatinamente até entrar em território negativo.

Há países que fecharão o ano com crescimento, mas em ritmo menor do que no ano passado. Outros terão uma estagnação, como Argentina e Equador. Já o Brasil, em grave crise política e economica, e a Venezuela, prejudicada pela queda internacional dos preços do petróleo, sofrerão fortes retrações do Produto Interno Bruto (PIB).

Em diferentes medidas, todos foram afetados pela diminuição das cotações das matérias-primas, a desaceleração da China e da Europa, além das perspectivas de alta das taxas de juros nos Estados Unidos.

Em geral, pode-se dizer que o oeste da região, mais próxima ao Pacífico, foi melhor do que a leste, banhada pelo Atlântico, uma vez terminada a bonança.

A "festa", como definiu Enrique Iglesias, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Cepal, deixou um gosto amargo e muitos comentários de que a década será perdida na região.

O mal-estar pode aumentar à medida que a população sinta os efeitos dos exigidos ajustes econômicos, que foram postergados em alguns países para não prejudicar os governos nas urnas.

Mas, sobretudo, esse novo descalabro econômico colocou em evidência que os países latino-americanos seguem sendo dependentes das exportações de matérias-primas.

Com os elevados preços da última década, em grande parte devido ao crescimento da China, as matérias-primas foram as grandes geradoras do "boom", mas agora derrubam as economias com o fim da bonança e queda das cotações, como ocorreu com o petróleo, a soja e o cobre, além de outros produtos de interesse para a região.

Os analistas consideram que a redução da demanda chinesa e as perspectivas de um maior fortalecimento do dólar se as taxas de juros subirem nos EUA provocarão uma fraqueza sustentada nos mercados de matérias-primas.

Enquanto muitos criticam que os governos latino-americanos não aproveitaram a oportunidade para diversificar a economia e fazer mais para erradicar a pobreza, apesar de os índices terem descido notoriamente, outros alertam sobre a necessidade de não chorar sobre o leite derramado.

Esse é o caso do executivo Merrill Lynch Juan Pablo Cuevas, que em recentes declarações ao jornal "El Nuevo Herald", de Miami, destacou que o grande desafio dos países latino-americanos é "olhar para frente" e estudar como fazer para que suas economias sejam mais equilibradas entre matérias-primas e produtos finalizados.

Em um recente relatório, o grupo dinarmaquês Maersk, líder mundial de transporte decarga, afirmou que a desaceleração começou a ser sentida há quatro anos. Porém, não significa que "toda a região esteja envolvida em uma espiral de crescimento negativo".

"Alguns países estão bastante maduros para liderar uma mudança em direção a economias mais sustentáveis", indicou o documento.

Diversificar as economias para torná-las menos dependentes das matérias-primas, buscar novos mercados por meio de acordos comerciais e investir mais em infraestruturas são os ingredientes da receita da Maersk para sobreviver à crise.

No México, por exemplo, governo manteve até o fim de novembro uma previsão de crescimento entre 2% e 2,8%, graças ao empurrão do "motor interno", especialmente do investimento e do consumo. A economia mexicana cresceu 2,6% no último trimeste em relação ao mesmo período do ano passado.

O outro lado da moeda é o Brasil, cuja economia contraiu 1,7% no terceiro trimestre se comparado para o segundo e 4,5% em relação ao mesmo período de 2014. Analistas de mercado preveem que o país fechará o ano com uma retração de 3,19% e uma inflação de 10,38%, muito acima da meta determinada pelo governo.