Topo

Bolívia não repetirá caminho de Argentina e Venezuela, diz partido de Morales

26/12/2015 20h52

La Paz, 26 dez (EFE).- O partido do presidente da Bolívia, Evo Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS), afirmou neste sábado que não permitirá uma repetição no país do que ocorreu na Argentina e na Venezuela, onde aliados do governo perderam nas urnas o controle do Executivo e do Legislativo, respectivamente.

A posição foi anunciada durante uma reunião entre Morales e produtores de folha de coca da região central de Chapare para repassar os resultados obtidos por seu governo em 2015 e definir as linhas de atuação para o próximo ano.

O líder do MAS em Cochabamba, o dirigente Leonardo Loza, sugeriu que os opositores bolivianos "não festejem" o triunfo alheio e garantiu que a Bolívia não permitirá uma repetição do que está ocorrendo na Venezuela, Argentina e outros países.

"Os movimentos sociais do campo e da cidade vão seguir garantindo esse processo. Se estamos no poder político administrando o país dignamente, não somos passageiros, não estamos de inquilinos no Palácio. Os indígenas, os humildes e os trabalhadores governarão para sempre", afirmou Loza.

O dirigente fez assim referência aos resultados das eleições na Argentina, onde o conservador Mauricio Macri derrotou no segundo turno Daniel Scioli, candidato apoiado por Morales, e ao pleito legislativo na Venezuela, onde a oposição obteve a maioria.

O presidente boliviano não abordou o assunto hoje, mas ao saber do resultado das eleições venezuelanas pediu uma reflexão sobre como defender as "revoluções democráticas" na América Latina porque os "imperialistas não dormem".

Loza expressou hoje a confiança de que a "unidade do povo" sobressairá na Bolívia e afirmou que alguns "vendedores da pátria" tentarão dizer que no país ocorrerá o mesmo que nos dois países.

Um dos temas abordados na reunião é a estratégia para a campanha para o referendo do próximo dia 21 de fevereiro, quando a população será questionada se deseja uma reforma na Constituição para permitir que Morales e o vice-presidente Álvaro García Linera possam tentar uma nova reeleição em 2019.

Os bolivianos votarão se estão de acordo ou não com uma modificação no artigo 168 da Constituição para ampliar de dois para três mandatos presidenciais consecutivos permitidos. Se o "sim" vencer, Morales pode ficar no poder até 2025 caso consiga outra vitória nas urnas na próxima eleição.

Ambos iniciaram em janeiro o terceiro mandato após ganhar o pleito geral de 2014. Eles só puderam se candidatar graças a uma decisão do Tribunal Constitucional, que aprovou que a primeira gestão (2006-2010) não era válida para o cálculo porque o pais se "refundou" como "Estado plurinacional" em 2009.

O governo argumenta que Morales deve permanecer na presidência até 2025 para garantir o cumprimento da agenda com metas sociais e econômicas traçadas para celebrar o bicentenário de fundação da Bolívia no mesmo ano.

Segundo uma pesquisa divulgada na imprensa boliviana no início deste mês, 53% da população rejeita uma nova reeleição do líder. Outros 54% não aceitam uma mudança na Constituição para permitir que ele se candidate mais uma vez em 2019.

Loza ressaltou que em seus quase dez anos de governo, Morales libertou a Bolívia política e economicamente dos imperialistas, ressaltando que "essa força continuará".

Morales destacou, por sua parte, as vitórias conseguidas por seu partido na última década, assim como os avanços políticos, econômicos e sociais no país desde que chegou ao poder.

"No dia 18 deste mês fez dez anos que ganhamos as eleições com 54% (dos votos). Agora, no dia 22 de janeiro, estaremos com dez anos de nosso processo. Essa reunião de avaliação será algo inédito e marcará o futuro da Bolívia para seguir mudando", disse.

O presidente pediu aos produtores de coca que debatam propostas para combater a pobreza e opinem sobre a estratégia usada pelo governo no processo que reivindica um acesso marítimo ao Chile.

O governo boliviano apresentou em 2013 um requerimento na Corte Internacional de Justiça de Haia na busca de uma decisão judicial que obrigue o Chile a negociar uma restituição da saída ao mar que a Bolívia perdeu em uma guerra em 1879.

O tribunal negou em setembro um recurso chileno e se declarou competente para julgar o caso, algo que as autoridades bolivianas celebraram como um primeiro triunfo no litígio.

Morales e os produtores de folha de coca também falarão sobre os casos de corrupção na gestão de um fundo para financiar projetos de povos indígenas que atingiu várias figuras do governo.