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Marcelo Rebelo de Sousa, um presidente carismático para Portugal

Hugo Correia/Reuters
Imagem: Hugo Correia/Reuters

Antonio Torres do Cerro

24/01/2016 21h34

Nunca nos 40 anos de sua democracia, Portugal teve um presidente tão carismático como Marcelo Rebelo de Sousa, um comunicador nato cujo grande trampolim foi seu sucesso durante anos como comentarista político na televisão.

O centro-direitista, de 67 anos, foi eleito para suceder o também conservador Aníbal Cavaco Silva como presidente ainda no primeiro turno, no qual venceu com 52% dos votos, contra quase 23% do segundo colocado, António Sampaio da Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa, e membro do Partido Socialista (PS).

Os ataques de seus rivais, que o consideram como um produto de marketing pouco confiável, não evitaram uma clara vitória já anunciada nas pesquisas. Mas quem é Rebelo de Souza? Além de um excelente comunicador, é um veterano político, jurista e professor universitário, além de um convencido defensor da União Europeia e católico admirador do papa Francisco.

E, apesar de também ser do Partido Social Democrata (PSD), de orientação conservadora, ele mesmo se define como mais à esquerda do que à direita.

No dia em que apresentou sua candidatura, no dia 9 de outubro do ano passado, Rebelo de Sousa disse que será o presidente que mais lutará pela "justiça social" e contra as "desigualdades" em Portugal, país para o qual prometer devolver tudo o que ele tem.

Divorciado, com dois filhos e cinco netos, Rebelo de Sousa (Lisboa, 1948) é filho de uma assistente social e de um médico que foi ministro do regime salazarista nos últimos anos da ditadura e que lhe ensinou desde pequeno a paixão pela política.

Militante e um dos fundadores do PSD, chegou a liderar o partido 20 anos depois, durante três anos.

A política o levou a ser vereador de Lisboa e Cascais. Depois, chegou ao parlamento como deputado, foi ministro, secretário de Estado, vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE) e membro do Conselho de Estado.

Mas o que realmente fez Rebelo de Sousa se tornar conhecido foi a presença dominical nas telinhas. Seu programa no canal "TVI", com enorme apelo midiático, foi líder indiscutível de audiência no país.

Suas declarações eram com frequência manchetes dos principais jornais no dia seguinte e, em algumas ocasiões, antecipavam informações desconhecidas até o momento.

Inteligente, simpática, divertido e afável são algumas das qualidades atribuídas ao novo presidente, características que contrastam com outros atributos não tão positivos, como os de pouco confiável, instável e imprevisível.

Sua campanha para as eleições presidenciais, a mais barata entre os principais candidatos, foi de "proximidade e convergência" com todos os portugueses, segundo o próprio Rebelo Sousa, que conta com o apoio dos dois partidos conservadores, o próprio PSD e os democratas-cristãos do CDS-PP.

Não provocou grandes manchetes, não falou frases de efeito, nem fez ataques desmedidos aos seus rivais de esquerda, que o tentaram provocar de todas as maneiras.

Sua relação de amizade com o outrora um dos homens mais poderosos do país, o banqueiro Ricardo Salgado, ex-líder do falido Banco Espírito Santo (BES), acusado de vários crimes, foi um dos pontos fracos que seus críticos tentaram explorar.

Tudo em vão. Rebelo Sousa conseguiu rentabilizar sua popularidade com moderação e carisma, deixando ao mesmo tempo deixando mensagens de paz em direção ao gabinete do primeiro-ministro socialista António Costa, com quem terá que lidar nos próximos anos.

Sua popularidade é tão grande que ele ganhou o respeito e a admiração do povo e de personalidades e líderes de diferentes setores da sociedade.

Em 2014, ele entrevistou o atacante Cristiano Ronaldo em sua casa em Madri. Nessa semana, o técnico José Mourinho mandou um vídeo de apoio a sua candidatura.