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Almagro diz que Maduro será "mais um ditador" se impedir referendo

18/05/2016 16h13

Washington, 18 mai (EFE).- O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, acusou nesta quarta-feira o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de trair o povo venezuelano e sua ideologia em uma dura mensagem pública, e afirmou que se o governante impedir o referendo revogatório será "mais um ditador".

"Que ninguém cometa o desatino de dar um golpe de Estado, mas que você também não dê. É seu dever. Você tem uma obrigação de decência pública de realizar o referendo revogatório em 2016 porque quando a política está polarizada a decisão deve voltar ao povo, isso é o que sua Constituição diz", argumentou Almagro em declaração divulgada no site da OEA.

"Negar a consulta popular, negar ao povo a possibilidade de decidir, o transforma em mais um ditador, como os vários que o continente teve", acrescentou Almagro.

Esta mensagem, mais dura e pessoal de Almagro contra Maduro, chega após o presidente venezuelano o acusar na terça-feira de ser um "agente da CIA" e dizer: "Sei de tudo, o conheço muito bem. Sei seu segredo".

"Não sou agente da CIA. E a mentira, embora repetida mil vezes, nunca será verdade. De todas formas convém esclarecer, embora isto seja negar o absurdo. Minha consciência está limpa, presidente, e minha conduta muito mais", se defendeu Almagro.

"Não sou traidor de ideias nem de princípios. Mas você é, presidente, trai seu povo e a sua suposta ideologia com seus discursos sem conteúdoo, é traidor da ética da política com suas mentiras e trai o princípio mais sagrado da política, que é se submeter à avaliação de seu povo", prossegue a carta.

Almagro, que publicou várias mensagens no Twitter com o conteúdo desta carta, exigiu que Maduro "devolva a justiça" ao povo, "devolva os presos políticos a suas famílias", "devolva à Assembleia Nacional seu legítimo poder" e "devolva ao povo a decisão sobre seu futuro".

A mensagem de Almagro, a mais dura emitida desde que assumiu o cargo há quase um ano, chega em meio à elaboração de um relatório sobre a situação na Venezuela e à avaliação da possibilidade de se aplicar a Carta Democrática a esse país.

A oposição venezuelana, com maioria no parlamento desde janeiro, quer convocar um referendo revogatório contra Maduro ainda neste ano, o que o governo já disse que não ocorrerá.

Uma delegação opositora visitou Almagro em Washington há três semanas para pedir que a OEA aborde a situação do país, algo que Almagro poderia forçar com o artigo 20 da Carta Democrática.

Este ponto o autoriza a convocar um Conselho Permanente quando em um Estado membro ocorrer "uma alteração da ordem constitucional que afete gravemente sua ordem democrática".

A última consequência da Carta é a suspensão como membro da organização, o que necessita dois terços dos votos em uma Assembleia Geral Extraordinária e que só ocorreu após o golpe de Estado em Honduras, em 2009.