Minúscula comunidade judaica da Índia começa a ganhar reconhecimento
Noemí Jabois.
Mumbai (Índia), 17 ago (EFE).- O grande êxodo para Israel há cinco décadas deixou na Índia uma minúscula comunidade judaica que luta para manter suas tradições à medida que sua população diminui, missão que será facilitada pelo seu reconhecimento oficial como minoria pelo estado indiano com maior número de hebreus.
O único precedente era o do estado de Bengala, que há uma década concedeu o título de minoria à sua simbólica população de oito judeus. Agora, Maharashtra (no oeste da Índia) fez o mesmo reconhecimento aos seus, adiantando-se ao governo central do país das mil e uma religiões.
Da mesma forma que muitos outros países, a Índia viu seu número de judeus residentes diminuir nas décadas seguintes à formação do Estado de Israel, em 1948, quando 90% dos cerca de 30 mil fiéis que moravam no país asiáticos decidiram que era "mais conveniente" a mudança para a Terra Prometida.
A sinagoga Knesset Eliyahoo, de Mumbai, capital de Maharashtra, anda completamente deserta. O segurança do local diz que a frequência limita-se a um par de dezenas de pessoas que costumam comparecer aos cultos de sexta e sábado.
O magnífico interior com tetos altos e inúmeras lâmpadas penduradas contrasta com uma desconexa fachada branca e celeste protegida por quatro policiais.
Para o diretor do centro judaico Nariman House da cidade, o rabino Israel Kozcovsky, a "dificuldade" de manter um estilo de vida judeu numa comunidade que se "desintegra" desde a década de 1950 foi o principal motor da migração.
"É a mesma razão que faz, ainda hoje, muitos jovens indianos judeus desejarem partir rumo a Israel", assinalou o rabino.
"O número (de judeus) continua caindo, embora não tão rapidamente como antes", comentou o religioso à Agência Efe.
No último censo, realizado em 2011, o governo indiano contou apenas 4.429 judeus entre os pouco mais de 1,2 bilhão de habitantes do país. A maior parte deles, 1.574, é de residentes em Maharashtra, embora autoridades religiosas locais estipulem esse número entre 2.200 e 3.000.
Por isso, o rabino acredita que o reconhecimento pelo governo do estado no fim de junho pode ajudar "a reconstruir a estrutura que a comunidade precisa".
"Existem diversos desafios que enfrentamos ao vivermos como judeus em um país estrangeiro, em relação às nossas tradições e, sobretudo, para manter o sabat (o dia de descanso judeu)", explicou.
Kozcovsky espera que o reconhecimento ajude também os judeus nas justificativas para as ausências na escola e no trabalho durante as festividades judaicas em um país normalmente muito sensível em relação aos feriados ditados pelas demais religiões.
Outras preocupações são a importação de alimentos "kosher" ou permitidos pelo judaísmo, que atualmente são produzidos pelos próprios judeus, e o registro das instituições religiosas.
Kozcovsky lamenta os "muitos anos" que demorou para conseguir fundar uma escola judaica graças à burocracia do país, muito mais simples quando se trata de religião já reconhecida.
A secretária de minorias do governo de Maharashtra, Jayshree Mukherjee, explicou à Agência Efe que os benefícios do título giram em torno da obtenção de "financiamento especial", como bolsas de estudo ou fundos para a urbanização das áreas em que residem as minorias.
A funcionária argumentou que não há "nenhuma razão particular" que tenha causado a demora na concessão do status de minoria para os judeus ou na tomada de outras medidas de apoio à comunidade, que tem cerca de 2.000 anos de história no país.
Em 2008, o centro dirigido por Kozcovsky foi um dos alvos de radicais islâmicos que mataram 166 pessoas em ataques a diferentes pontos da cidade de Mumbai, como hotéis de luxo e a principal estação ferroviária local.
Quase oito anos depois, as várias câmeras de vigilância, portas de segurança e a entrada fortificada não deixam esquecer as seis mortes que aconteceram ali naquele dia 26 de novembro.
Ainda assim, o rabino garante que os judeus vivem "cômoda e pacificamente" no país de marcante "tolerância religiosa e cultural" e lembra que os ataques (perpetrados pelo grupo paquistanês Lashkar-e-Taiba) "não foram realizados por indianos, mas, sobretudo, para atacar a Índia".
Na fachada blindada do centro dirigido por Kozcovsky, cujo antecessor foi morto naquele atentado, mulçumanos (principal minoria de Mumbai) passeiam tranquilamente entre as lojas comandadas por hindus, a religião majoritária no país.
Mumbai (Índia), 17 ago (EFE).- O grande êxodo para Israel há cinco décadas deixou na Índia uma minúscula comunidade judaica que luta para manter suas tradições à medida que sua população diminui, missão que será facilitada pelo seu reconhecimento oficial como minoria pelo estado indiano com maior número de hebreus.
O único precedente era o do estado de Bengala, que há uma década concedeu o título de minoria à sua simbólica população de oito judeus. Agora, Maharashtra (no oeste da Índia) fez o mesmo reconhecimento aos seus, adiantando-se ao governo central do país das mil e uma religiões.
Da mesma forma que muitos outros países, a Índia viu seu número de judeus residentes diminuir nas décadas seguintes à formação do Estado de Israel, em 1948, quando 90% dos cerca de 30 mil fiéis que moravam no país asiáticos decidiram que era "mais conveniente" a mudança para a Terra Prometida.
A sinagoga Knesset Eliyahoo, de Mumbai, capital de Maharashtra, anda completamente deserta. O segurança do local diz que a frequência limita-se a um par de dezenas de pessoas que costumam comparecer aos cultos de sexta e sábado.
O magnífico interior com tetos altos e inúmeras lâmpadas penduradas contrasta com uma desconexa fachada branca e celeste protegida por quatro policiais.
Para o diretor do centro judaico Nariman House da cidade, o rabino Israel Kozcovsky, a "dificuldade" de manter um estilo de vida judeu numa comunidade que se "desintegra" desde a década de 1950 foi o principal motor da migração.
"É a mesma razão que faz, ainda hoje, muitos jovens indianos judeus desejarem partir rumo a Israel", assinalou o rabino.
"O número (de judeus) continua caindo, embora não tão rapidamente como antes", comentou o religioso à Agência Efe.
No último censo, realizado em 2011, o governo indiano contou apenas 4.429 judeus entre os pouco mais de 1,2 bilhão de habitantes do país. A maior parte deles, 1.574, é de residentes em Maharashtra, embora autoridades religiosas locais estipulem esse número entre 2.200 e 3.000.
Por isso, o rabino acredita que o reconhecimento pelo governo do estado no fim de junho pode ajudar "a reconstruir a estrutura que a comunidade precisa".
"Existem diversos desafios que enfrentamos ao vivermos como judeus em um país estrangeiro, em relação às nossas tradições e, sobretudo, para manter o sabat (o dia de descanso judeu)", explicou.
Kozcovsky espera que o reconhecimento ajude também os judeus nas justificativas para as ausências na escola e no trabalho durante as festividades judaicas em um país normalmente muito sensível em relação aos feriados ditados pelas demais religiões.
Outras preocupações são a importação de alimentos "kosher" ou permitidos pelo judaísmo, que atualmente são produzidos pelos próprios judeus, e o registro das instituições religiosas.
Kozcovsky lamenta os "muitos anos" que demorou para conseguir fundar uma escola judaica graças à burocracia do país, muito mais simples quando se trata de religião já reconhecida.
A secretária de minorias do governo de Maharashtra, Jayshree Mukherjee, explicou à Agência Efe que os benefícios do título giram em torno da obtenção de "financiamento especial", como bolsas de estudo ou fundos para a urbanização das áreas em que residem as minorias.
A funcionária argumentou que não há "nenhuma razão particular" que tenha causado a demora na concessão do status de minoria para os judeus ou na tomada de outras medidas de apoio à comunidade, que tem cerca de 2.000 anos de história no país.
Em 2008, o centro dirigido por Kozcovsky foi um dos alvos de radicais islâmicos que mataram 166 pessoas em ataques a diferentes pontos da cidade de Mumbai, como hotéis de luxo e a principal estação ferroviária local.
Quase oito anos depois, as várias câmeras de vigilância, portas de segurança e a entrada fortificada não deixam esquecer as seis mortes que aconteceram ali naquele dia 26 de novembro.
Ainda assim, o rabino garante que os judeus vivem "cômoda e pacificamente" no país de marcante "tolerância religiosa e cultural" e lembra que os ataques (perpetrados pelo grupo paquistanês Lashkar-e-Taiba) "não foram realizados por indianos, mas, sobretudo, para atacar a Índia".
Na fachada blindada do centro dirigido por Kozcovsky, cujo antecessor foi morto naquele atentado, mulçumanos (principal minoria de Mumbai) passeiam tranquilamente entre as lojas comandadas por hindus, a religião majoritária no país.
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