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Perto de acertar com PP, Bolsonaro pode atrair deputados, mas provocar racha no partido

Imagem mostra o presidente Jair Bolsonaro durante discurso - Anderson Riedel/PR
Imagem mostra o presidente Jair Bolsonaro durante discurso Imagem: Anderson Riedel/PR

Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello

Da Reuters, em Brasília

07/10/2021 17h15

Com sua filiação praticamente acertada no PP, o presidente Jair Bolsonaro está próximo de definir seu futuro político, mas pode causar um terremoto no novo partido e não conseguir os palanques para a eleição presidencial que deseja, especialmente na região Nordeste, disseram fontes ouvidas pela Reuters.

Depois do fracasso da tentativa de criar sua própria sigla, o Aliança pelo Brasil, Bolsonaro está sem partido desde o final de 2019. O acerto com o PP —ao qual já foi filiado— teve altos e baixos, chegou a ser descartado, mas ganhou força com o apoio do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, mesmo com uma parte considerável do partido sendo contra.

Duas fontes ouvidas pela Reuters explicam que, apesar da filiação do presidente dificultar a situação do partido no Nordeste —de onde vem o próprio ministro, que é do Piauí— Ciro vê uma chance de fazer crescer o PP nas regiões Sul e Sudeste sem esforço.

"Ele me disse pessoalmente, para o PP crescer no Sul e Sudeste só estando com Bolsonaro, e que esse é o interesse do partido, apesar de reconhecer que cria uma contraposição com Nordeste", disse uma das fontes, próxima a Bolsonaro.

O atual ministro da Casa Civil conta com a possibilidade de eleger cerca de 20 deputados entre Rio de Janeiro e São Paulo, contando com a atual base bolsonarista que sairia do PSL na janela partidária para acompanhar a ida de Bolsonaro ao PP. São nomes como Carla Zambelli e o filho do presidente, Eduardo, em São Paulo, Carlos Jordy e Hélio Lopes, no Rio de Janeiro.

"Ele acha que Bolsonaro vai conseguir eleger outra bancada dessas, mas é uma avaliação que tenho muitas dúvidas que possa se confirmar", disse uma fonte parlamentar que acompanha as negociações.

Se pode ajudar o partido no Sul e Sudeste, a entrada de Bolsonaro no PP pode provocar uma debandada na região Nordeste —ou ao menos uma dificuldade de Bolsonaro ter palanques que agreguem muito do seu próprio partido. Em vários Estados da região, o PP está em alianças com o PT e não pretende abrir mão de trabalhar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na Bahia, por exemplo, é do PP o vice-governador João Leão, em uma aliança com o governador petista Rui Costa. Em Pernambuco, o PP faz parte do governo do PSB, que já se acertou com Lula para um eventual apoio em 2022, e parte da bancada não quer nem pensar em palanque com Bolsonaro. O próprio Ciro Nogueira se elegeu senador, em 2018, em uma aliança com o PT e fazia campanha para Fernando Haddad.

As últimas pesquisas eleitorais mostram Lula bem à frente de Bolsonaro nas eleições de 2022 e, no Nordeste, essa diferença se amplia ainda mais. A última pesquisa Datafolha mostra que, na região, Lula teria 61% dos votos contra 16% de Bolsonaro. Além disso, 70% dos nordestinos não votariam no atual presidente de jeito nenhum, enquanto esse índice nacional é de 59%,

Uma rejeição nesse nível atrapalha diretamente os planos de candidatos aos governos estaduais, Senado e Câmara.

De acordo com uma terceira fonte ouvia pela Reuters, já há inclusive conversas de alguns parlamentares deixarem o partido se a filiação de Bolsonaro for de fato confirmada —o que deve acontecer em breve.

Na formação do União Brasil, com a fusão do DEM com o PSL, deputados insatisfeitos começaram já a ser sondados para trocar de partido. Ao mesmo tempo, em uma cruzada para aumentar o seu PSD, Gilberto Kassab também abriu os braços para os insatisfeitos do PP.

A insatisfação estaria por trás, por exemplo, da reação do PP ao imbróglio envolvendo as empresas offshore do ministro da Economia, Paulo Guedes. O partido deu apoio majoritário para que Guedes fosse chamado a se explicar no plenário da Casa —um recado da insatisfação com Ciro e a falta de intenção de parte da bancada de apoiar Bolsonaro.

"Ele (Ciro Nogueira) vai crescer o partido numa região e esvaziar na outra. O melhor para o partido era que o presidente não entrasse. Mas se entrar, vai ser o candidato de uma parte só do PP. O resto vai continuar com seus planos", disse a fonte parlamentar.

*Colaborou Ricardo Brito