Conteúdo publicado há 1 mês
A Hora

A Hora

Reportagem

A picanha de Lula e o capital de Bolsonaro

Esta é a newsletter A Hora. Inscreva-se para receber diretamente no seu email todo sábado.

Lula acende a churrasqueira; Bolsonaro apaga incêndio

Foi uma semana de notícias boas para Lula e de notícias ruins para Bolsonaro. Mas essa é só uma parte da história.

O atual presidente colheu melhoras nas pesquisas de avaliação e conseguiu aprovar a regulamentação da reforma tributária como ele queria: com direito a isenção de impostos para a carne do churrasco.

Já o ex-presidente viu a polícia chegar cada vez mais perto de sua porta. Depois de Bolsonaro ter sido indiciado por falsificar certificados de vacinação, policiais federais prenderam esta semana assessores suspeitos de fazerem parte do "gabinete do ódio" durante o governo bolsonarista.

Mas essa história é mais complexa do que parece. Se a marola no noticiário favoreceu Lula, a maré de extrema direita continua forte aqui e no mundo. A força dessa onda é tão grande que, apesar do cerco jurídico, Bolsonaro não perdeu capital político. Continua sendo um eleitor importante, tanto para a sucessão da presidência da Câmara dos Deputados quanto para ajudar candidatos a prefeito. Mesmo indiciado, recebeu o candidato governista à sucessão de Arthur Lira para um beija-mão.

O episódio #3 do podcast A Hora descomplica essas complexidades para você.

Bolsonaro sofre revés na polícia e se segura na política

O cerco policial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se fechou um pouco mais na última semana com o indiciamento dele no caso das joias sauditas. Mas, ao mesmo tempo, no universo político, em sentido oposto, Bolsonaro deu demonstrações de força.

A análise foi feita no podcast A Hora, apresentado por José Roberto de Toledo e Thais Bilenky, no UOL. O episódio vai ao ar na sexta-feira (12) nas plataformas de podcast e no Youtube.

Continua após a publicidade

Pelo menos três movimentos nos últimos dias mostram que o capital político do ex-presidente permanece alto. Ainda no final de semana, o mais governista dos postulantes a presidente da Câmara, Antonio Brito (PSD), foi até a sede do PL em Brasília para falar com Bolsonaro.

Brito pretendia quebrar resistências do ex-presidente e angariar apoio de seu partido na Câmara —com 93 deputados, o PL tem a maior bancada da Casa. O beija-mão reforçou a leitura de que Bolsonaro ainda dá as cartas no PL.

Em outra frente, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), recorreu a Bolsonaro nas articulações da regulamentação da reforma tributária. Lira queria convencer Bolsonaro a não apoiar a isenção tributária da carne como forma de demover a bancada ruralista de insistir na medida.

Lira não conseguiu o apoio de Bolsonaro no pleito, e a posição do ex-presidente de deixar a proteína animal na cesta básica prevaleceu —foi aprovada na Câmara.

Outra evidência da força política de Bolsonaro são as pré-campanhas de candidatos municipais, que tentam colar sua imagem à do ex-presidente, acreditando no potencial de votos que trará, mesmo com inquéritos policiais nas costas.

Um exemplo eloquente foi dado por Pablo Marçal (PRTB) na sabatina promovida pelo UOL/Folha na quarta-feira (10). Sem ter apoio formal de Bolsonaro, Marçal sugeriu que pode vir a ter, apostando no ex-presidente como um valioso cabo eleitoral.

Continua após a publicidade

Continuísmo fala mais alto que polarização

Tradicionalmente, nas eleições municipais o eleitor se preocupa mais com o posto de saúde do seu bairro, com a escola dos seus filhos, e com o transporte para ir e voltar para casa do que com questões puramente ideológicas.

Por essa lógica, a eleição se transforma em um plebiscito sobre a atuação do prefeito que está comandando a cidade, seja ela qual for. Se a gestão é bem avaliada, o incumbente tende a se reeleger ou fazer o sucessor. Se não é, ganha a oposição.

Duas das melhores manifestações dessa maneira de escolher o candidato são as eleições de prefeito no Recife e no Rio de Janeiro.

Na capital pernambucana, o atual prefeito, João Campos (PSB), tem 69% de aprovação de seu governo e 75% das intenções de voto para reelegê-lo, segundo o Datafolha. Plebiscito local. Nada a ver com o jogo de poder federal entre Lula e Bolsonaro.

Ajuda também o fato de Campos ser a quarta geração de políticos da poderosa família Arraes (bisneto de Miguel Arraes e filho de Eduardo Campos - ambos foram governadores de Pernambuco) e de ter milhões de seguidores no Instagram. Se fosse mal avaliado pelos recifenses, porém, não teria chances de se reeleger.

Continua após a publicidade

No Rio, o prefeito Eduardo Paes tem 46% de aprovação a este seu terceiro mandato e 53% das intenções de voto. Outro plebiscito.

Essa lógica plebiscitária continua valendo para a maioria das cidades do país. Em 2024, mais até do que em pleitos anteriores, por uma razão: uma enchente de verbas públicas.

Deputados e senadores conseguiram empenhar quase R$ 36 bilhões em emendas orçamentárias para seus quintais eleitorais antes da eleição - muito mais do que em qualquer outro pleito anterior. Esse dinheiro vai ajudar prefeitos, mais do que nunca, a se reelegerem ou fazerem seus sucessores. Farra do continuísmo.

Isso não quer dizer que Lula e Bolsonaro não joguem um papel importante na eleição. Jogam. Mas, na maioria dos lugares, quem define é o morador satisfeito ou insatisfeito com a gestão do prefeito da sua cidade.

A cifra da semana: 1.450 reais

Esse é o valor que deve beneficiar cada um dos cerca de 30 mil habitantes de Vassouras, no Rio de Janeiro, este ano - tudo graças a emendas parlamentares para a área de saúde. É o maior valor per capita do Brasil. As verbas sairão do Fundo Nacional de Saúde para a prefeitura do município fluminense por obra e graça do senador Romário (PL-RJ).

Continua após a publicidade

No total, Vassouras deve receber R$ 49 milhões em emendas. Enquanto isso, municípios maiores e com índice de desenvolvimento humano mais baixo não receberão nada. É o caso de Ipojuca, em Pernambuco, que tem três vezes mais habitantes do que Vassouras.

A desigualdade é resultado da distribuição de fatias cada vez maiores do orçamento da União por deputados e senadores, deixando cada vez menos recursos para as políticas públicas do governo federal.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes