ParLIRAmentarismo: o legado de Arthur Lira para o Brasil
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Direita bolsonarista ganha espaço com racha político em Minas
Vendedor no sacolão da família e cantor nas horas vagas, Cleiton Gontijo de Azevedo, mais conhecido como Cleitinho, elegeu-se vereador em Divinópolis, em 2016, e depois deputado estadual de Minas Gerais. Na onda bolsonarista de 2022, ele explodiu de voto, derrotou o status quo e se tornou senador. Fez um irmão prefeito da cidade natal e o outro, deputado estadual.
Agora em 2024 ele mesmo não disputa cargo, mas o resultado das eleições municipais vão indicar o seu futuro na política. Cleitinho, filiado ao Republicanos, já é apontado como o favorito para ser o próximo governador de Minas Gerais.
Seu grupo político tem o deputado estadual Bruno Engler, do PL, como pré-candidato a prefeito de Belo Horizonte, o deputado federal Nikolas Ferreira, também do PL, como principal cabo eleitoral, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como patrono. A direita bolsonarista está organizada em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país.
Nomes ligados ao governador Romeu Zema, do Novo, não estão despertando empolgação da classe política por ora.
A análise completa está no quinto episódio do podcast A Hora, apresentado por José Roberto de Toledo e Thais Bilenky, no UOL.
Do outro lado, o centro e a esquerda ainda têm arestas a aparar. A eleição para prefeito de Belo Horizonte é o retrato disso.
O prefeito Fuad Noman, do PSD, tenta fechar acordo com o PT, mas o partido mantém a pré-candidatura de Rogério Corrêa. A deputada Duda Salabert, do PDT, também resiste a sair da disputa.
Corre por fora o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo, pelo MDB, com apoio do PSB e negociações com PSDB/Cidadania.
O resultado das articulações terá impacto na formação da chapa que deve disputar o governo de Minas com Cleitinho em dois anos. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD, tem apoio do presidente Lula (PT) para sair candidato, mas falta pavimentar a estrada que levará a 2026.
Ouça a análise completa no podcast A Hora.
O maior legado de Arthur Lira para o Brasil
"Parliramentarismo" - ou ParLIRAmentarismo - é o sistema de governo em voga no Brasil. Não é o parlamentarismo clássico, mas tampouco é o presidencialismo que Lula conheceu em seus dois primeiros mandatos.
O presidente ganhou um sócio. Ou melhor, 594 associados: 513 deputados e 81 senadores. Eles compartilham o orçamento da União em proporções jamais vistas. Em apenas sete meses, já destinaram mais de R$ 37 bilhões do seu, do meu, do nosso para os redutos eleitorais deles este ano.
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Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberO resultado desse volume inédito de recursos públicos canalizados mais para alguns lugares do que para outros em um ano eleitoral só será conhecido depois que os votos para prefeito e vereador forem contabilizados em outubro. Mas não é difícil imaginar as consequências da enchente de emendas:
1) prefeitos apadrinhados por deputados e senadores se reelegerão com mais facilidade do que os sem-padrinho;
2) candidatos de oposição aos apadrinhados terão muito mais dificuldade para derrotá-los do que em pleitos anteriores.
Esses prováveis efeitos favoráveis a uma taxa inédita de reeleição e ao continuísmo dos atuais prefeitos não é igual para todos os partidos, porém.
As sete legendas que mais detêm prefeituras em cidades médias e grandes são também as que mais distribuíram verbas do orçamento federal para seus redutos eleitorais. Devem crescer mais que as outras. Mas, mesmo entre os Top 7 o crescimento será desigual.
Os partidos que acumulam as duas principais vantagens eleitorais - ou seja, gordas fatias orçamentárias e um grande número de prefeituras já sob seu domínio - são as siglas do que eu chamo de Arenão. Os fãs do "é dando que se recebe": PSD (do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco), União Brasil, MDB, PL (de Bolsonaro), PP (de Arthur Lira) e Republicanos (de Tarcísio de Freitas).
O PT também abocanhou um par de bilhões do orçamento, mas tem muito menos prefeitos no poder do que seus concorrentes.
E daí?
Os partidos do Arenão devem crescer em prefeituras e vereadores em outubro próximo. Daqui dois anos, em 2026, os eleitos em 2024 serão cabos eleitorais fundamentais para eleger mais deputados e senadores do PSD, do União Brasil, do MDB, do PL, do PP, do Republicanos. Com bancadas maiores no Congresso, o Arenão terá direito a uma fatia ainda mais gorda do orçamento da União. Mais verba do fundo partidário. Mais poder.
O presidente que for eleito em 2026 estará ainda mais suscetível à pressão do Arenão. E, se nada mudar, o eleito em 2030 estará em situação ainda mais precária. Isto é o "parliramentalismo", nome dado em homenagem àquele que se consolidou como um ministro sem pasta do governo, de qualquer governo. E que deixará esse legado aos seus sucessores na presidência da Câmara: Arthur Lira.
Kamala é a melhor anti-Trump que democratas poderiam escolher
A hora e a vez é de Kamala Harris, vice-presidente dos EUA e provável candidata à Presidência pelo Partido Democrata depois que Joe Biden desistiu de sua candidatura à reeleição no último domingo (21).
"Harris é o oposto de Trump em absolutamente tudo", disse o colunista José Roberto de Toledo no podcast A Hora desta semana.
Além das diferenças óbvias, como os fatos dela ser mulher e filha de imigrantes (mãe indiana e pai negro e jamaicano), temos ainda outras discrepâncias importantes. Enquanto Kamala vem de uma família de cientistas, Trump é um antivacina negacionista.
A democrata fez carreira como promotora de Justiça, processando criminosos, e ele é um condenado pela Justiça. Ela ocupou cargos públicos e ganhou todas as eleições que concorreu, sendo quatro para promotora, duas para senadora e uma para vice-presidente, e ele é um paraquedista da política, concorrendo somente à Presidência dos EUA (ganhando na primeira eleição em 2016 e perdendo na reeleição, em 2020).
Do ponto de vista simbólico, a eleição norte-americana hoje é completamente diferente do que era uma semana atrás, com um pré-candidato octogenário, com sinais que colocavam em dúvida suas capacidades cognitivas e que não empolgava ninguém. Agora, há uma possível candidata levanta a bandeira dos imigrantes e fala abertamente sobre aborto e crimes financeiros.
Enfim, mudou completamente o cenário. Virou essa polarização que não existia antes contra o Biden, porque ninguém se empolgava com o Biden. Ela [Kamala] incutiu essa empolgação fundamental para levar alguns segmentos do eleitorado a votar, já que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos, principalmente jovens e a comunidade negra.
José Roberto de Toledo
Para o colunista, "dadas as circunstâncias - o tiro na orelha do Trump, a escolha do vice e a renúncia do Biden -, tudo tão perto e tão embolado, fez basicamente com que ela [Kamala] fosse ungida candidata. Todos os outros pré-candidatos democratas, que poderiam se colocar como candidatos, já a apoiaram de saída e ela se tornou consensual dada a urgência do enfrentamento ao Trump".
Não dá para falar em favoritismo, mas Toledo acredita que "pelo menos alguma chance os democratas passaram a ter". Além disso, os republicanos já estão dando sinais de que estão preocupados com a disputa. O primeiro sinal são os ataques misóginos e racistas contra Kamala nas redes sociais com mentiras do tipo: não é cidadã americana, subiu na vida devido à política de cotas e por ter relacionamentos com homens poderosos na política (Willie Brown, deputado e prefeito, quatro anos mais velho que o pai de Kamala).
O outro sinal é o aparente receio de Trump de enfrentar a adversária na TV, argumentando que não quer fazer o debate na ABC, uma das três maiores do país, e sim na Fox News, emissora republicana. "Com o Biden ele queria ir porque queria passar o trator por cima, como passou no primeiro e único debate que houve entre os dois nessa eleição. Com a Kamala Harris, que tem um estilo inquisitorial, treinada como promotora, ele já tirou o time de campo", finalizou Toledo.
A cifra da semana: 21,8 bilhões de reais
É quanto foi liberado em emendas da Saúde entre janeiro e julho de 2024. É um valor inédito: 44% maior do que tudo o que foi empenhado em 2023, e mais do que o dobro de 2020. É um dinheiro muito difícil de fiscalizar, ou mesmo de saber como foi gasto.
A grande maioria dessas emendas vai do Fundo Nacional de Saúde do governo federal diretamente para os fundos de saúde das prefeituras e dos governos estaduais. Lá, esses muitos bilhões se misturam a outras verbas e não se sabe exatamente como o dinheiro das emendas foi gasto, nem quem vai se apropriar dele.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.
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