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ParLIRAmentarismo: o legado de Arthur Lira para o Brasil

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Direita bolsonarista ganha espaço com racha político em Minas

O senador Cleitinho, o governador Romeu Zema e o deputado Nikolas Ferreira
O senador Cleitinho, o governador Romeu Zema e o deputado Nikolas Ferreira Imagem: Reprodução/Instagram/@romeuzemaoficial 4.fev.2024

Vendedor no sacolão da família e cantor nas horas vagas, Cleiton Gontijo de Azevedo, mais conhecido como Cleitinho, elegeu-se vereador em Divinópolis, em 2016, e depois deputado estadual de Minas Gerais. Na onda bolsonarista de 2022, ele explodiu de voto, derrotou o status quo e se tornou senador. Fez um irmão prefeito da cidade natal e o outro, deputado estadual.

Agora em 2024 ele mesmo não disputa cargo, mas o resultado das eleições municipais vão indicar o seu futuro na política. Cleitinho, filiado ao Republicanos, já é apontado como o favorito para ser o próximo governador de Minas Gerais.

Seu grupo político tem o deputado estadual Bruno Engler, do PL, como pré-candidato a prefeito de Belo Horizonte, o deputado federal Nikolas Ferreira, também do PL, como principal cabo eleitoral, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como patrono. A direita bolsonarista está organizada em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país.

Nomes ligados ao governador Romeu Zema, do Novo, não estão despertando empolgação da classe política por ora.

A análise completa está no quinto episódio do podcast A Hora, apresentado por José Roberto de Toledo e Thais Bilenky, no UOL.

Do outro lado, o centro e a esquerda ainda têm arestas a aparar. A eleição para prefeito de Belo Horizonte é o retrato disso.

O prefeito Fuad Noman, do PSD, tenta fechar acordo com o PT, mas o partido mantém a pré-candidatura de Rogério Corrêa. A deputada Duda Salabert, do PDT, também resiste a sair da disputa.

Corre por fora o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo, pelo MDB, com apoio do PSB e negociações com PSDB/Cidadania.

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O resultado das articulações terá impacto na formação da chapa que deve disputar o governo de Minas com Cleitinho em dois anos. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD, tem apoio do presidente Lula (PT) para sair candidato, mas falta pavimentar a estrada que levará a 2026.

Ouça a análise completa no podcast A Hora.

O maior legado de Arthur Lira para o Brasil

Arthur Lira, presidente da Câmara
Arthur Lira, presidente da Câmara Imagem: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

"Parliramentarismo" - ou ParLIRAmentarismo - é o sistema de governo em voga no Brasil. Não é o parlamentarismo clássico, mas tampouco é o presidencialismo que Lula conheceu em seus dois primeiros mandatos.

O presidente ganhou um sócio. Ou melhor, 594 associados: 513 deputados e 81 senadores. Eles compartilham o orçamento da União em proporções jamais vistas. Em apenas sete meses, já destinaram mais de R$ 37 bilhões do seu, do meu, do nosso para os redutos eleitorais deles este ano.

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O resultado desse volume inédito de recursos públicos canalizados mais para alguns lugares do que para outros em um ano eleitoral só será conhecido depois que os votos para prefeito e vereador forem contabilizados em outubro. Mas não é difícil imaginar as consequências da enchente de emendas:

1) prefeitos apadrinhados por deputados e senadores se reelegerão com mais facilidade do que os sem-padrinho;
2) candidatos de oposição aos apadrinhados terão muito mais dificuldade para derrotá-los do que em pleitos anteriores.

Esses prováveis efeitos favoráveis a uma taxa inédita de reeleição e ao continuísmo dos atuais prefeitos não é igual para todos os partidos, porém.

As sete legendas que mais detêm prefeituras em cidades médias e grandes são também as que mais distribuíram verbas do orçamento federal para seus redutos eleitorais. Devem crescer mais que as outras. Mas, mesmo entre os Top 7 o crescimento será desigual.

Os partidos que acumulam as duas principais vantagens eleitorais - ou seja, gordas fatias orçamentárias e um grande número de prefeituras já sob seu domínio - são as siglas do que eu chamo de Arenão. Os fãs do "é dando que se recebe": PSD (do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco), União Brasil, MDB, PL (de Bolsonaro), PP (de Arthur Lira) e Republicanos (de Tarcísio de Freitas).

O PT também abocanhou um par de bilhões do orçamento, mas tem muito menos prefeitos no poder do que seus concorrentes.

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E daí?

Os partidos do Arenão devem crescer em prefeituras e vereadores em outubro próximo. Daqui dois anos, em 2026, os eleitos em 2024 serão cabos eleitorais fundamentais para eleger mais deputados e senadores do PSD, do União Brasil, do MDB, do PL, do PP, do Republicanos. Com bancadas maiores no Congresso, o Arenão terá direito a uma fatia ainda mais gorda do orçamento da União. Mais verba do fundo partidário. Mais poder.

O presidente que for eleito em 2026 estará ainda mais suscetível à pressão do Arenão. E, se nada mudar, o eleito em 2030 estará em situação ainda mais precária. Isto é o "parliramentalismo", nome dado em homenagem àquele que se consolidou como um ministro sem pasta do governo, de qualquer governo. E que deixará esse legado aos seus sucessores na presidência da Câmara: Arthur Lira.

Kamala é a melhor anti-Trump que democratas poderiam escolher

Kamala Harris e Donald Trump
Kamala Harris e Donald Trump Imagem: ABC News/Reuters

A hora e a vez é de Kamala Harris, vice-presidente dos EUA e provável candidata à Presidência pelo Partido Democrata depois que Joe Biden desistiu de sua candidatura à reeleição no último domingo (21).

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"Harris é o oposto de Trump em absolutamente tudo", disse o colunista José Roberto de Toledo no podcast A Hora desta semana.

Além das diferenças óbvias, como os fatos dela ser mulher e filha de imigrantes (mãe indiana e pai negro e jamaicano), temos ainda outras discrepâncias importantes. Enquanto Kamala vem de uma família de cientistas, Trump é um antivacina negacionista.

A democrata fez carreira como promotora de Justiça, processando criminosos, e ele é um condenado pela Justiça. Ela ocupou cargos públicos e ganhou todas as eleições que concorreu, sendo quatro para promotora, duas para senadora e uma para vice-presidente, e ele é um paraquedista da política, concorrendo somente à Presidência dos EUA (ganhando na primeira eleição em 2016 e perdendo na reeleição, em 2020).

Do ponto de vista simbólico, a eleição norte-americana hoje é completamente diferente do que era uma semana atrás, com um pré-candidato octogenário, com sinais que colocavam em dúvida suas capacidades cognitivas e que não empolgava ninguém. Agora, há uma possível candidata levanta a bandeira dos imigrantes e fala abertamente sobre aborto e crimes financeiros.

Enfim, mudou completamente o cenário. Virou essa polarização que não existia antes contra o Biden, porque ninguém se empolgava com o Biden. Ela [Kamala] incutiu essa empolgação fundamental para levar alguns segmentos do eleitorado a votar, já que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos, principalmente jovens e a comunidade negra.
José Roberto de Toledo

Para o colunista, "dadas as circunstâncias - o tiro na orelha do Trump, a escolha do vice e a renúncia do Biden -, tudo tão perto e tão embolado, fez basicamente com que ela [Kamala] fosse ungida candidata. Todos os outros pré-candidatos democratas, que poderiam se colocar como candidatos, já a apoiaram de saída e ela se tornou consensual dada a urgência do enfrentamento ao Trump".

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Não dá para falar em favoritismo, mas Toledo acredita que "pelo menos alguma chance os democratas passaram a ter". Além disso, os republicanos já estão dando sinais de que estão preocupados com a disputa. O primeiro sinal são os ataques misóginos e racistas contra Kamala nas redes sociais com mentiras do tipo: não é cidadã americana, subiu na vida devido à política de cotas e por ter relacionamentos com homens poderosos na política (Willie Brown, deputado e prefeito, quatro anos mais velho que o pai de Kamala).

O outro sinal é o aparente receio de Trump de enfrentar a adversária na TV, argumentando que não quer fazer o debate na ABC, uma das três maiores do país, e sim na Fox News, emissora republicana. "Com o Biden ele queria ir porque queria passar o trator por cima, como passou no primeiro e único debate que houve entre os dois nessa eleição. Com a Kamala Harris, que tem um estilo inquisitorial, treinada como promotora, ele já tirou o time de campo", finalizou Toledo.

A cifra da semana: 21,8 bilhões de reais

É quanto foi liberado em emendas da Saúde entre janeiro e julho de 2024. É um valor inédito: 44% maior do que tudo o que foi empenhado em 2023, e mais do que o dobro de 2020. É um dinheiro muito difícil de fiscalizar, ou mesmo de saber como foi gasto.

A grande maioria dessas emendas vai do Fundo Nacional de Saúde do governo federal diretamente para os fundos de saúde das prefeituras e dos governos estaduais. Lá, esses muitos bilhões se misturam a outras verbas e não se sabe exatamente como o dinheiro das emendas foi gasto, nem quem vai se apropriar dele.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.

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Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.

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