Heróis ou prevaricadores, qual o papel dos comandantes no golpe?
As quase 900 páginas do relatório final da Polícia Federal trazem evidências de que altos oficiais das Forças Armadas, sobretudo dois dos três comandantes, não embarcaram no golpe e com isso desencorajaram o então presidente Jair Bolsonaro (PL) a ir até o fim.
Foram, por isso, louvados como heróis da democracia, por parte da opinião pública. Mas fica a questão: se souberam do golpismo em curso, como prova a PF, não deveriam tê-lo parado ou ao menos denunciado sob pena de, ao se omitirem, prevaricarem?
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
O depoimento mais contundente nesse sentido é o do então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, colhido pela PF. Ele descreveu a reunião dos três chefes das Forças com Bolsonaro, em 28 de novembro de 2022, na qual o presidente tentou convencê-los a aderir. Somente o almirante Almir Garnier, chefe da Marinha, se dispôs a seguir com os planos, de acordo com a investigação.
Baptista e Marco Antonio Freire Gomes, então comandante do Exército, recusaram-se. Disse Baptista à PF que, diante da proposta de Bolsonaro, "o general Freire Gomes afirmou que, caso tentasse tal ato, teria que prender o presidente da República".
Se a resistência serviu para demover Bolsonaro, tampouco se pode dizer que os dois comandantes e outros generais atuaram para denunciar a empreitada e punir os insubordinados.
E se isso restar comprovado, os comandantes poderiam até ser acusados de prevaricação, ou seja, a omissão de um servidor público que constata prejuízo ao Estado.
Estudiosos das Forças Armadas aventam a hipótese de os comandantes terem permanecido inertes por um cálculo de que qualquer movimento poderia tê-los deposto. Com isso, o presidente teria a oportunidade de nomear militares afinados com o plano de golpe e finalmente consumá-lo.
Podem também os generais ter resistido simplesmente por perceberem que uma tentativa de golpe custaria caro demais à instituição militar, e não estavam dispostos a pagar para ver.
Qualquer que tenha sido a motivação, a atitude de não agir ativamente contra o plano que estava em curso precisará ser esmiuçada pelas autoridades e esclarecida para se evitar exageros para o bem ou para o mal.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.
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