Pesquisa Ipsos-Ipec tem boa notícia para Lula; e má também
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Boa notícia para Lula: popularidade do presidente parou de cair.
Má notícia: causa da queda não foi só o preço do ovo que subiu. Nem foi só a inflação. Foi o conjunto da obra do governo.
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
A boa notícia para o governo é que o saldo negativo de 14 pontos encontrado pelo Ipsos-Ipec em março é virtualmente igual ao saldo negativo de fevereiro. Numa maré de más notícias, parar de afundar é alívio, mesmo que a água tenha chegado ao pescoço.
Esse não foi o enfoque das notícias sobre a Ipsos-Ipec de março porque a comparação foi feita com a mais recente pesquisa divulgada pelo instituto, a de dezembro. Na comparação de dezembro com março, a popularidade do governo sai de saldo zero para 14 pontos negativos. Parece uma nova má notícia, mas é velha.
Outras pesquisas comparáveis - divulgadas ou não - já tinham identificado a mesma queda semanas antes. O mesmo saldo negativo de dois dígitos apareceu nas pesquisas feitas em fevereiro. O Datafolha, por exemplo, encontrou saldo de -17 pontos no mês passado.
Quando se olha o filme todo e não apenas duas fotografias distantes entre si, a cena fica mais clara. Foi um movimento contínuo, que pode ser separado em três tempos:
1. Entre dezembro e janeiro, a popularidade de Lula tomou um tombo de cerca de 10 pontos;
2. Entre janeiro e fevereiro, a popularidade continuou escorregando, mas mais devagar;
3. Em março, parou de cair.
Isso significa que parou de cair em definitivo? Não sabemos. Popularidade não é foto, é filme. Um chuchu, um café ou um ovo em disparada inflacionária pode mudar tudo.
Vale a mesma mineirice atribuída à política. Popularidade é como nuvem: olha agora, está de um jeito; olha de novo, já mudou.
A despeito da instabilidade do humor da opinião pública, a pesquisa Ipsos-Ipec é importante para governo, seus aliados e opositores saberem que a hemorragia de popularidade de Lula foi contida por ora. Mas isso nem é a coisa mais relevante que o instituto tem a mostrar.
O Ipsos-Ipec investigou as causas da hemorragia e foi ainda foi mais fundo, ao fazer uma análise estatística que mede quais fatores explicam melhor a perda de popularidade de Lula e companhia. O resultado aparece aqui em primeira mão.
A conclusão principal é que nem inflação, nem educação, nem política externa, nem pobreza, nem meio ambiente explicam, sozinhos, a avaliação negativa do governo. É o conjunto.
Todas as nove áreas avaliadas pelo Ipsos-Ipec sofreram piora de avaliação de dezembro para março. Algumas, como Educação e Saúde, perderam menos pontos, outras perderam mais:
* Combate à inflação: piorou 14 pontos (saldo negativo foi de -25 pontos para -40 pontos);
* Combate ao desemprego: piorou 12 pontos (de -8 para -20 pontos);
* Política externa: piorou 11 pontos (de -4 para -15);
* Combate à fome: piorou 11 pontos (de -9 para -20);
* Meio Ambiente: piorou 7 pontos (de -7 para -14);
* Controle/corte de gastos: piorou 7 pontos (de -27 para -34);
* Segurança Pública: piorou 4 pontos (de -22 para -26);
* Saúde: piorou 3 pontos (de -18 para -21);
* Educação: piorou 3 pontos (de +3 para zero).
Com inflação e desemprego liderando a lista, uma análise apressada pode concluir que - como gostam de dizer ministros palacianos - a culpa é toda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Não é.
Cruzando as respostas de cada um dos entrevistados sobre avaliação geral do governo com as respostas das mesmas pessoas sobre cada item avaliado, uma análise estatística feita pelo Ipsos-Ipec revelou que dois terços da impopularidade do governo Lula podem ser explicados por sete áreas:
* 18% pelo combate à inflação;
* 18% pela política externa (relação com outros países);
* 15% pela Educação;
* 13% pelo corte de gastos públicos;
* 12% pelo combate à fome e pobreza;
* 12% pelo Meio Ambiente;
* 12% pelo combate ao desemprego.
Como se vê, as responsabilidades estão bem distribuídas. Mesmo somando-se inflação, corte de gastos e desemprego, a conta de Haddad explica menos da metade do problema.
O mau humor é generalizado e cresceu rapidamente. O saldo negativo da pergunta sobre se o governo está indo melhor ou pior do que os brasileiros esperavam dobrou entre dezembro e março, de -16 para -32 pontos (subtração de quem diz "melhor" por quem diz "pior").
Logo, se não há causa única, tampouco a solução para o governo, se houver, será mágica. Não basta só o dólar parar de subir, ou só o desmatamento diminuir, ou só celebrar acordos internacionais vantajosos ao Brasil, ou a taxa de desemprego bater novo recordo positivo.
Para o bom humor e o otimismo voltarem a superar o mau humor e o pessimismo, o governo vai ter que fazer (quase) tudo certo e ao mesmo tempo. Não precisa ser necessariamente já, mas não pode passar de daqui a pouco - para ter chances eleitorais em 2026.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.
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61 comentários
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Felipe Teixeira
lula não presta
Anibal Bertolla Jr
O governo morreu, segundo as pesquisas anteriores. Como ele continua morto na última pesquisa, isso é uma boa noticia! Entenderam?
Eduardo Fernando de Campos
Deixa eu ver se entendi. A avaliação do desemprego negativou em 12 pontos, de 8 para 20 pontos negativos. No entanto, o IBGE aponta bons resultados, é isso ? Então o IBGE está apresentando dados fake.