Aposentados desafiam ameaças e reforço policial em protesto contra Milei
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O governo Milei alardeou a mobilização de um grande efetivo policial horas antes do protesto dos aposentados previsto para o fim da tarde de hoje. Foram mobilizados quase três mil agentes federais, controles em estradas, e feitas ameaças sonoras e escritas nas estações de trem e metrô, com os dizeres: "Vamos reprimir todo atentado contra a República".
As ameaças, no entanto, não impediram que milhares de argentinos tomassem as ruas do centro da cidade, em frente ao Congresso Nacional.
Os manifestantes se reuniram em apoio aos aposentados e contra a repressão ao protesto da última quarta-feira passada, que acabou com dezenas de civis e policiais feridos e centenas de detidos.
Para evitar violência, o governo da cidade de Buenos Aires afirmou que retirou as caçambas e entulhos das ruas.

O governo alegou que a repressão foi uma resposta à violência promovida pelos barras bravas, setor da torcida organizada de futebol argentino conhecido por seu histórico de violência e relação com o crime organizado. Os torcedores decidiram apoiar o protesto após um aposentado vestido com a camisa do clube Chacarita ser brutalmente ferido pela polícia há duas semanas, em outro protesto dos aposentados, em Buenos Aires.
No protesto de hoje, diversos cartazes pediam melhorias nas pensões dos aposentados, liberdade para protestar e justiça ao fotógrafo Pablo Grillo, 35, atingido por um projétil de bomba de gás lacrimogêneo enquanto fotografava a ação da polícia. Grillo segue internado em estado grave. Ontem houve um panelaço de fotógrafos e jornalistas em frente ao hospital, na cidade de Ramos Mejia, região metropolitana de Buenos Aires.

Sem barras bravas, mas com Maradona
Apesar de não contar com os barras bravas, dezenas de manifestantes fizeram questão de protestar com bandeiras e camisas com a foto do ídolo do futebol argentino Diego Armando Maradona. No passado, o craque saiu às ruas ao lado dos aposentados.
Uma declaração dele é repetida até os dias de hoje: "É preciso ser muito cagão para não defender os aposentados".Além de camisas com o rosto de Maradona, muitos argentinos protestaram com a camisa e a bandeira da seleção argentina.
Nas ruas, cartazes que chamavam a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, de "ministra de insegurança" e de fascista, em alusão ao protocolo contra protestos de rua, que permite à polícia reprimir manifestações em vias públicas.

O protesto de hoje contou com aposentados, como Mônica, que segurava um cartaz pedindo justiça a Pablo Grilo. À reportagem, ela afirmou que recebe a pensão mínima, de cerca de R$ 1.500.
"Venho todas as quartas feiras no protesto dos aposentados. Vim reclamar os nossos direitos, de termos uma aposentadoria digna e não perdemos o direito de manifestarmos", afirmou.
A reportagem do UOL registrou conflitos pontuais, de manifestantes que insultavam e gritavam com agentes policiais da barreira de proteção em frente ao palácio legislativo. Os ânimos alterados eram contidos por lideranças de organizações sociais que pediam calma, para evitar confrontos. Os policiais, contudo, dispararam gás de pimenta e gás lacrimogêneo.
Dezenas de organizações sociais e sindicatos, além de agrupações peronistas, participaram da manifestação, assim como estudantes e populares que defendiam o direito de protestar.

O medo acompanhou parte dos manifestantes. Entre eles o aposentado Oscar, 70, que disse que não deixaria de se manifestar mesmo com todo o aparato policial.
"Tenho medo. Mas é isso que o governo quer, gerar medo, para que a gente não lute por nossos direitos. Mas medo e dinheiro, nós, os argentinos, nunca tivemos", disse Oscar, em referência a expressão que se tornou uma marca nos protestos na Argentina.

Confusão do lado de dentro do Congresso
Enquanto o clima era de tensão do lado de fora do Congresso Nacional, do lado de dentro, o clima era ainda mais quente. Principalmente após a maioria dos deputados aprovar o DNU (Decreto de Necessidade e Urgência) do presidente Javier Milei, que permite ao governo negociar novo crédito com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Desde que a Argentina adquiriu uma dívida bilionária no governo de Mauricio Macri (2015-2019), a maior da história do FMI, o país criou uma lei que condiciona novos empréstimos à aprovação do Congresso Nacional.
O presidente Javier Milei, que é apoiado por Macri, agradeceu os deputados que aprovaram o decreto. "Compreenderam o mandato das urnas e deram uma mensagem de maturidade e grandeza: a luta contra a inflação é uma política de Estado no nosso país", afirmou o presidente em nota.
Segundo a Casa Rosada, "o acordo vai garantir uma operação de crédito público para que o Tesouro Nacional cancele a dívida com o Banco Central Argentino, implicando uma redução do total da dívida pública".
Para acelerar o processo, Milei assinou um decreto presidencial. Assim, a aprovação por maioria simples na Câmara dos Deputados garantiu a validade do texto. Se tivesse enviado um projeto de lei, o presidente dependeria de aprovação não só na Câmara, mas também no Senado.
A votação foi marcada por gritos, uso de megafone, e muito bate-boca entre os deputados. A Câmara aprovou o DNU por 129 votos a 108, além de seis abstenções.
O novo acordo com o FMI não foi detalhado pelo decreto. Os legisladores da oposição consideram o texto uma espécie de "cheque em branco" que os deputados forneceram ao Executivo.
O objetivo do governo Milei, que há meses negocia um novo acordo com o fundo, é conseguir uma liberação bilionária para pagar a dívida de US$ 41 milhões do Tesouro com o Banco Central da Argentina.
35 comentários
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Sandra Regina Zarpelon
Mas para a imprensa brasileira o sujeitinho é um gênio. Vai repetir o que levou a Argentina a cavar mais um pouco sua desgraça. Uma economia dolarizada sem dólares e um empréstimo externo para pagar dívida interna, ou seja, para dar para os sanguessugas do mercado financeiro. E acha que o argentino, que nunca teve nem medo nem dinheiro, vai fica quieto, assistindo a tudo o que sempre lhe orgulho - o seu aparato social - ser destruído
Ricardo Santa Maria Marins
Acredito que o estopim dos APOSENTADOS se acender para valer, o MILEI cai. OPINIÃO!
Luiz Santos
Parabéns as eleitoras de Milei. Vcs fizeram por merecer