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Amaury Ribeiro Jr

"Casa dos Anjos": grupo aponta 20 novas vítimas e segundo local de festas

Fachada do endereço da Loucos por Aventura, empresa de Rodrigo Fiuza, preso em ação contra "Casa dos Anjos", local onde a polícia suspeita que houvesse exploração sexual de menores - Reprodução/Google Street View
Fachada do endereço da Loucos por Aventura, empresa de Rodrigo Fiuza, preso em ação contra "Casa dos Anjos", local onde a polícia suspeita que houvesse exploração sexual de menores Imagem: Reprodução/Google Street View

03/01/2021 04h02

Conhecido por sua atuação nos casos dos condenados por estupros João de Deus e Roger Abdelmassih, o movimento de mulheres Vítimas Unidas já identificou o que seriam pelo menos 20 vítimas que ainda não foram ouvidas pela polícia e que teriam sido drogadas e abusadas sexualmente em uma casa da Pampulha, em Belo Horizonte, por um grupo supostamente liderado pelo atleta e influenciador digital Rodrigo Fiúza, de 47 anos.

O local passou a ser chamado por mães de vítimas como "Casa dos Anjos". Oficialmente, a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e à Adolescentes (Depca) contabilizava até ontem 13 vítimas.

"Não param de chegar depoimentos de novas vítimas", disse Maria do Carmo dos Santos, presidente do Movimento Vítimas Unidas.

O UOL tenta há duas semanas manter contato com os advogados de Fiúza, sem obter retorno.

O depoimento de uma menina de 14 anos, também ainda não ouvida pela polícia, levou o Vítimas Unidas a descobrir uma outra casa perto do zoológico de Belo Horizonte, na Pampulha, onde meninas teriam sido abusadas sexualmente em 2019.

Segundo Maria do Carmo, essas festas eram organizadas por um promotor de eventos que foi trabalhar em maio deste ano com Fiúza na chamada "Casa dos Anjos", localizado também na Pampulha. O local e o caso são investigados pela Polícia Civil mineira.

Era nesse endereço que, segundo as investigações, Fiúza organizou, durante a pandemia, festas com adolescentes, empresários e outros moradores da cidade.

Esquema da "Casa dos Anjos" pode ter começado em outro endereço

Pesquisando o Instagram e outras redes sociais das pessoas sob investigação, Maria do Carmo disse ter obtido imagens das adolescentes seminuas durante as festas realizadas na casa. O Movimento Unidas disse que já entregou cópia desse material ao promotor e à polícia.

As novas vítimas identificadas também serão encaminhadas para prestar depoimento à delegada do Depca, Renata Ribeiro, que comanda as investigações.

Reconhecido por ter localizado e informado à imprensa e à polícia o paradeiro de Abdelmassih no Paraguai e o esconderijo de armas de João de Deus em Abadiânia (GO), o movimento Vítimas Unidas há um mês acompanha as histórias das adolescentes em Belo Horizonte. Maria do Carmo se diz assustada com a proliferação da pedofilia na capital mineira. "A pedofilia virou uma febre em Belo Horizonte. Cenas de sexo com meninas correm soltas em sites clandestinos", disse a ativista.

A Depca indiciou nove pessoas suspeitas de fazer parte do grupo de Fiúza. Além do influenciador digital, continuam presos Lorraine Stefany, 20 anos, e o engenheiro Leonardo Zambrana, 41 anos. No escritório de Zambrana, a polícia apreendeu grande quantidade de material pornográfico de meninas menores de 10 anos de idade.

Menina afirma ter sido abusada e passou por gravidez de risco

Suspeito de ter drogado e violentado sexualmente uma menina de 13 anos, o DJ Risk Saraiva foi posto em liberdade por ordem da Justiça na semana passada. A Justiça entendeu que o DJ, ao contrário dos demais presos, não dispõe de recursos financeiros para fugir do país.

A coluna buscou as defesas de Risk e Lorraine. Procurado pela coluna, o advogado de Zambrana, Rodrigo Suzana, disse que as investigações correm sob segredo e que os familiares de seu cliente acreditam que a polícia esclarecerá os fatos e que a inocência de Leonardo ficará comprovada ao final do processo.

A soltura de Risk deixou em pânico a adolescente L. (inicial fictícia), uma das vítimas das "Casa dos Anjos". Ela disse à polícia e ao UOL ter sido drogada, violentada sexualmente e engravidada supostamente por Risk em uma dessas festas. "Tenho medo que ele venha querer se vingar da minha família", disse à coluna.

L. contou ainda que nas festas promovidas por Fiúza, além de bebidas destiladas, eram vendidas aos convidados loló, maconha, cocaína e "balinhas", um preparado de drogas que era colocado na bebida. Segundo a família, devido ao consumo de drogas L. emagreceu cerca de 10 quilos e teve que fazer o parto precocemente aos sete meses, pois os médicos alertavam que ela corria risco de morrer se continuasse a gravidez.

L. disse ter reconhecido a foto do promotor de eventos — localizado pelo movimento Vítimas Unidas — que realizava festas em outra casa da Pampulha. "Ele era amigo do Fiúza e foi trabalhar depois na 'Casa do Anjos'", confirmou a menina.

O suposto esquema de prostituição infantil na casa da Pampulha veio à tona no dia 18 de novembro, quando a Polícia Civil desencadeou a "Operação Anjo". Fotos de uma vítima foram acessadas na internet pela mãe da menor, que procurou a polícia. "Denunciei o fato porque minha filha se sentia ameaçada. Até hoje está traumatizada", disse ao UOL.