Casa dos Anjos: Adolescente de 15 anos diz ter sido ameaçada por Fiúza
Hoje morando com o pai em uma cidade do interior a 200 km de Belo Horizonte (MG), a adolescente Y. (a inicial é fictícia), de 15 anos, diz tentar esquecer do dia em que foi ameaçada pelo atleta e influenciador digital Rodrigo Fiúza. Conhecido por percorrer o mundo com sua moto, o que lhe valeu dois recordes mundiais, Fiúza está preso sob suspeita de comandar uma quadrilha que explorava sexualmente crianças e adolescentes numa casa no bairro Pampulha, na capital mineira.
Além do atleta, continuam presos outros dois suspeitos: o engenheiro Leonardo Zambrana,42 anos, e Lorraine Stefany, 20 anos. Um quarto suspeito, o DJ Risk Saraiva, foi posto em liberdade por decisão da Justiça. O UOL tenta há duas semanas, sem sucesso, fazer contato com os advogados de Fiúza, Raiane e Risk. Se enviados, seus posicionamentos serão publicados.
Y. não está entre as 13 adolescentes que teriam sido drogadas e abusadas sexualmente e que já prestaram depoimento à delegada Renata Ribeiro, titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), que investiga as denúncias.
A adolescente resolveu contar sua história ao UOL depois de ver o noticiário sobre os abusos supostamente praticados por Fiúza e seus amigos na chamada "Casa dos "Anjos", como o endereço passou a ser chamado pelas famílias das vítimas.
Filha de um zelador, Y. disse ter sido aliciada por Fiúza por meio da internet. "Passei a me relacionar com ele na casa da Pampulha movida por mil promessas, era um cara famoso. Mas eu ia lá na casa da Pampulha só quando não tinha ninguém. Não frequentava as festas."
A adolescente disse que só percebeu o comportamento agressivo de Fiúza quando, um certo dia, retornava com ele de moto de uma viagem ao Rio de Janeiro: "De repente, ele parou a moto e começou a gritar, dizendo que eu era uma idiota e que ia acabar com a minha vida. Ficou agressivo só porque eu não quis postar uma foto que tiramos no Rio no meu Instagram".
Ela disse que só conseguiu conter a fúria de Fiúza quando ligou para o pai que estava no interior de Minas. "Pus ele para falar com meu pai no telefone, que deixou bem claro que iria denunciar o fato à polícia se ele não me deixasse na rodoviária", contou.
Y. revelou ainda que o influenciador voltou a se exaltar ao chegar à rodoviária de Belo Horizonte. "Ele começou a gritar e a me filmar, repetindo de novo que ia acabar com minha vida. Precisou ser contido pelos seguranças, que lhe perguntaram se ele não tinha vergonha de se envolver com uma adolescente."
A adolescente conta que vive com dificuldades ao lado do pai, separado da mãe, que mora em Belo Horizonte. "Meu pai, além de mim, cuida de dois irmãos de outro casamento. Ele está afastado do emprego por causa de uma forte depressão. Tudo isso leva a gente a fazer escolhas erradas."
Ela guarda as fotos da viagem que fez com Fiúza para o Rio. Em uma delas, aparece na garupa da moto. Em outra, desfila de biquíni ao lado do influenciador. Quando for a Belo Horizonte para visitar a mãe, Y. disse que vai procurar a delegada para prestar depoimento e colaborar com as investigações.
"Não sei por que resolvi fazer aquela viagem. Já havia percebido que o Fíuza tinha mil complexos e já não era a mesma celebridade que havia sido entrevistada em programas de auditório, como o Jô Soares e o Faustão. Só não sabia que ele era violento", disse a adolescente.
De acordo com as investigações, foi na "Casa dos Anjos" que, durante a pandemia, Fiúza organizou festas entre adolescentes, empresários e convidados. Segundo as investigações, depois de drogadas e violentadas, as meninas eram fotografadas nuas, e as imagens, expostas na internet. A adolescente L. (inicial fictícia) disse ao UOL que durante uma dessas festas teria sido drogada e violentada sexualmente por Risk.
Aos 13 anos de idade, ela ficou grávida e teve um bebê prematuro. Como "vivia drogada", L. disse não descartar que possa ter sido engravidada por outro frequentador da casa. Segundo L., nas festas promovidas por Fiúza, além de bebidas destiladas, eram vendidas aos convidados loló, maconha, cocaína e "balinhas", um preparado de drogas que era colocado na bebida.
Deputado diz que vai colher assinaturas para uma CPI
O deputado estadual Virgílio Guimarães (PT-MG) disse ao UOL que vai tentar abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a exploração sexual de crianças e adolescentes na chamada "Caso dos Anjos" e outras casas de prostituição de Minas.
O deputado pretende colher assinatura dos deputados para a abertura da CPI logo após o recesso parlamentar. "São fatos graves que precisam ser apurados, inclusive a pedofilia na internet", disse o parlamentar.
A abertura de uma CPI também é defendida por movimentos ativistas feministas . "Somente com a abertura de uma CPI, o nome de gente poderosa virá à tona", disse Maria do Carmo dos Santos, presidente do movimento Vítimas Unidas.
O suposto esquema de prostituição infantil na casa da Pampulha veio à tona no dia 18 de novembro, quando a Polícia Civil desencadeou a "Operação Anjo". Uma das fotos da vítima foi acessada pela mãe na internet, que procurou a polícia.
"Denunciei o fato porque minha filha se sentia ameaçada. Até hoje está traumatizada", disse ao UOL a mãe da menina. No escritório de Leonardo Zambrana, um dos presos e indiciados, foi encontrada grande quantidade de material pornográfico infantil.
Procurado pelo UOL, o advogado de Zambrana, Rodrigo Suzana, disse que as investigações correm sob segredo e que os familiares de seu cliente acreditam que a polícia esclarecerá os fatos e que a inocência de Leonardo ficará comprovada ao final do processo.
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