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Camilo Vannuchi

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Passa logo essa faixa presidencial, bicho!

O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), pede que militantes liberem rodovias - 2.nov.2022 - Reprodução/Twitter/Jairbolsonaro
O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), pede que militantes liberem rodovias Imagem: 2.nov.2022 - Reprodução/Twitter/Jairbolsonaro

Colunista do UOL

03/11/2022 17h06

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Mano do céu, que vergonha. Tá chatão, já. Primeiro aquela palhaçada do silêncio. Autoridades do mundo inteiro ligando pro Lula antes mesmo do Fantástico acabar e tu aí, na maior fossa, passando leite condensado no pão e enchendo o colo de migalha. Logo quem? O presidente das lives, que não podia ver uma câmera ligada sem ficar todo pimpão.

Dois dias inteiros sem falar um "a", presidente? Sério? Pra chegar lá, fazer um discurso ridículo e sair sem pronunciar o nome de seu adversário? Cadê aquele cara que se dizia humilde, gente como a gente? Eu, hein. Tua mãe e teu pai não te deram educação? Não sei que tipo de cristão é tu, mas digo uma coisa: tu tá fazendo isso errado.

Quando a gente acha que as coisas vão voltar à normalidade, bingo! Estradas paradas, caminhoneiros irritadiços orientados pelo agronegócio, eleitores aos prantos. Uma pouca vergonha. Até aquela atriz que matou a Odete Roitman entrou na onda do fanatismo e acabou rezando sabe-se lá quantas ave-marias ajoelhada no meio da rua. Pensa numa turma maluca, do tipo que reza pra Nossa Senhora ao mesmo tempo em que pede intervenção militar. Não orna.

Põe reparo no roteiro: um casal de refugiados, pobre e sem-teto, tem seu filho que ainda nem nasceu ameaçado de morte pelas tropas do imperador, passa um par de dias viajando até que a mulher entra em trabalho de parto e, sem assistência à saúde, sem SUS nem um mísero médico cubano, acaba invadindo uma propriedade privada para dar à luz numa manjedoura. Aí a turma que não bate bem faz o quê? Canta para essa mãe enquanto homenageia os soldados romanos. Em Santa Catarina, teve até saudação nazista. Só falta rasgar dinheiro.

Mas, voltando ao assunto, aí vem tu, depois desse silêncio todo, pedir a teus soldados que liberem as estradas. E por qual motivo? Porque a alternância de poder é saudável? Porque seu oponente foi vitorioso nas urnas e não faz sentido contestar o resultado? Porque o processo eleitoral foi conduzido com lisura e não há razões para um "terceiro turno", como parte da imprensa gosta de repetir? Não. Simplesmente porque, nas tuas palavras, obstruir rodovias atrapalha a vida das pessoas e causa prejuízo. O que tu fez foi estimular novos e mais protestos, desde que em outros espaços. "Outras manifestações que vocês estão fazendo, em praças, fazem parte do jogo democrático", disse. "O apelo que eu faço a você é: desobstrua as rodovias, proteste de outra forma."
Na moral? Ridículo é pouco.

Aí o panaca aqui resolve te ouvir mais um pouco. Ah, a liberdade de expressão, pipipi popopó. Ah, o comunismo, patati patatá. Velho, tu gosta de golpe, tu gosta de torturador safado e corrupto, tu gosta de sigilo de 100 anos, tu gosta de emparedar o Legislativo e de fechar o Judiciário, tu queria mesmo era mudar as regras do jogo para nomear novos ministros e transformar o STF num puxadinho do teu palácio, tu não consegue nem dar uma resposta que preste às suspeitas de rachadinha e de compra de 51 imóveis com uso de dinheiro vivo e valores incompatíveis com tua renda e a dos teus parentes.

Tua campanha fez de tudo para impedir transporte gratuito no dia da eleição, capitão. Tu não gosta que o povo vote. Tu iria comemorar se ninguém votasse.

O Brasil está de luto? Então deixa eu te contar duas coisas. A primeira é que não é o Brasil que está de luto, nem sequer a maioria. Teus eleitores somaram 37% do eleitorado - e nem todos eles são fora da casinha nesse grau. A outra coisa é a seguinte: luto, no Brasil, dura três dias. Sete, no máximo, em caso de falecimento de autoridades com notáveis e relevantes serviços prestados ao país. Tá na hora do Jaiiiir...

Cara, o Brasil amanheceu melhor na última segunda-feira. Era como se nuvens se dissipassem e o ar ficasse menos pesado, menos denso. Condições normais de temperatura e pressão, sabe? Uma coisa que muitos de nós não sentíamos havia alguns anos (mais de quatro, certamente).

Na faculdade em que dou aula, havia muita gente vestindo camiseta vermelha ou com praguinhas do teu adversário coladas na camisa. Era o dia seguinte e, mesmo assim, a moçada quis mostrar sua posição, ou melhor, sua oposição. Voltei à faculdade nesta quinta-feira e ainda havia gente com adesivos na roupa. Pois é.

Na terça-feira, fui a um café no centro da cidade, dentro de uma livraria, e reparei numa moça com três estrelinhas vermelhas fixadas na lapela. Um rapaz usava um boné do MST. Sentiam-se seguros e acolhidos como havia muito tempo não se sentiam.

Sabe por quê? Porque a fila andou, meu chapa. Simples assim. Lá em Genebra já está todo mundo com os olhos voltados para 2 de janeiro, parabenizando os brasileiros por terem feito a coisa certa, conforme informou meu colega Jamil Chade. Na Alemanha e na Noruega, os governos disseram que estão prontos para voltar a financiar o Fundo Amazônico, repasse que havia sido interrompido em agosto de 2019, diante das evidências de que teu governo não tinha compromisso com a redução do desmatamento.

Por tudo isso, mano, casca fora logo, vai o quanto antes. Monta na tua moto e vaza, pelo menos enquanto teu passaporte não é retido pela Polícia Federal. A faixa? Transfere essa faixa de uma vez! Tu já não tá governando muita coisa, mesmo.