Carlos Madeiro

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Paraíso da elite, praia de Aracaju encolhe 10 m ao ano e deve sumir do mapa

Conhecida por sua paisagem paradisíaca, a praia do Viral é a última de Aracaju, já no litoral sul da capital sergipana, e está com anos contados para desaparecer. Localizada na foz do rio Vaza-Barris, ela está sendo afetada pela erosão e perde 10 metros de faixa de areia ao ano.

O dado faz parte da pesquisa Panorama de Estabilidade Geológica do Litoral Sergipano, da UFS (Universidade Federal de Sergipe). Os estudos no local começaram em março de 2022 e descobriram um processo considerado irreversível, que fará a faixa de cerca de 100 metros de comprimento sumir do mapa ainda nesta década.

No atual ritmo, em até cinco anos ela vai desaparecer. Antes disso, o local ficará inacessível por terra, só se chegará por embarcação.
Júlio César Vieira, pesquisador do Laboratório de Progeologia da UFS

A secretaria do Meio Ambiente de Aracaju respondeu à coluna que "não recebeu detalhes do estudo" e não vai se pronunciar sobre a situação da praia do Viral.

Carros causaram problema

Por suas belezas naturais e cenário paradisíaco, a praia é uma das principais atrações da região. Mas o número de pessoas que vão lá é pequeno, já que para chegar no local é preciso ter um veículo 4x4 para percorrer 3 km de areia fofa. A outra opção é ir de jet ski ou lancha pelo rio.

Para Júlio, foi justamente o excesso de veículos que se tornou determinante para desencadear o processo de erosão.

No caso do Viral, além das mudanças na carga do rio, é notório o impacto desses veículos, causando danos à vegetação de restinga e por consequência na estabilidade do sedimento presente. A areia fica mais vulnerável a qualquer intempérie.

Imagem de 2021 mostra carros na areia da praia do Viral durante ação da PM
Imagem de 2021 mostra carros na areia da praia do Viral durante ação da PM Imagem: Divulgação
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Ruptura

O pesquisador conta que um fato marcante no processo ocorreu no dia 10 de agosto: uma ruptura da praia.

A ruptura nada mais é que a intercomunicação brusca aberta entre a água do estuário e a água que banhava o manguezal adjacente. Outra idêntica deve surgir em outro ponto, o que mostra que o processo não vai parar.

Na quarta-feira passada, ele vistoriou o local novamente e viu que essa quebra cresceu de forma surpreendente.

Em pouco mais de 40 dias, a ruptura —que era rasa e tinha 15 metros de largura nas marés altas— já alcança cerca de 80 metros. Percebemos que a areia mais próxima do oceano está muito fofa. Mesmo com uma caminhonete de maior tração, tivemos dificuldade de passar. Isto indica que o fluxo de sedimentos está indo para o oceano.

Praia em 2021:

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Praia do Viral, em Aracaju, em 2021, sem a ruptura
Praia do Viral, em Aracaju, em 2021, sem a ruptura Imagem: Júlio César Vieira/UFS

Praia em 2023:

Praia do Viral, em Aracaju, em 2023, com uma ruptura para passagem de água
Praia do Viral, em Aracaju, em 2023, com uma ruptura para passagem de água Imagem: Júlio César Vieira/UFS

Pequenas ilhas

Com as rupturas, o local terá pequenas ilhas, que ficarão suscetíveis a uma série de problemas. Isso vai diminuir o tamanho delas cada dia mais, até ser engolida pelo mar.

Segundo Júlio, o processo de perda de sedimentos que também está associado à forte erosão observada no município vizinho de Itaporanga D'Ajuda.

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A praia do Viral é uma barra arenosa, um pedaço de areia depositado pela confluência entre o rio e o mar. Nesse cenário, é muito difícil falar em uma recuperação natural.

Júlio conta ainda que a perda de sedimentos também vai afetar o mangue que fica antes da praia.

Percebemos areia entrando na parte do manguezal, e geralmente eles não toleram areia em excesso. Podemos observar uma mortandade pontual de manguezal.

Praia do Viral, em Aracaju
Praia do Viral, em Aracaju Imagem: Júlio César Vieira/UFS

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