Paraíso da elite, praia de Aracaju encolhe 10 m ao ano e deve sumir do mapa
Conhecida por sua paisagem paradisíaca, a praia do Viral é a última de Aracaju, já no litoral sul da capital sergipana, e está com anos contados para desaparecer. Localizada na foz do rio Vaza-Barris, ela está sendo afetada pela erosão e perde 10 metros de faixa de areia ao ano.
O dado faz parte da pesquisa Panorama de Estabilidade Geológica do Litoral Sergipano, da UFS (Universidade Federal de Sergipe). Os estudos no local começaram em março de 2022 e descobriram um processo considerado irreversível, que fará a faixa de cerca de 100 metros de comprimento sumir do mapa ainda nesta década.
No atual ritmo, em até cinco anos ela vai desaparecer. Antes disso, o local ficará inacessível por terra, só se chegará por embarcação.
Júlio César Vieira, pesquisador do Laboratório de Progeologia da UFS
A secretaria do Meio Ambiente de Aracaju respondeu à coluna que "não recebeu detalhes do estudo" e não vai se pronunciar sobre a situação da praia do Viral.
Carros causaram problema
Por suas belezas naturais e cenário paradisíaco, a praia é uma das principais atrações da região. Mas o número de pessoas que vão lá é pequeno, já que para chegar no local é preciso ter um veículo 4x4 para percorrer 3 km de areia fofa. A outra opção é ir de jet ski ou lancha pelo rio.
Para Júlio, foi justamente o excesso de veículos que se tornou determinante para desencadear o processo de erosão.
No caso do Viral, além das mudanças na carga do rio, é notório o impacto desses veículos, causando danos à vegetação de restinga e por consequência na estabilidade do sedimento presente. A areia fica mais vulnerável a qualquer intempérie.
Ruptura
O pesquisador conta que um fato marcante no processo ocorreu no dia 10 de agosto: uma ruptura da praia.
A ruptura nada mais é que a intercomunicação brusca aberta entre a água do estuário e a água que banhava o manguezal adjacente. Outra idêntica deve surgir em outro ponto, o que mostra que o processo não vai parar.
Na quarta-feira passada, ele vistoriou o local novamente e viu que essa quebra cresceu de forma surpreendente.
Em pouco mais de 40 dias, a ruptura —que era rasa e tinha 15 metros de largura nas marés altas— já alcança cerca de 80 metros. Percebemos que a areia mais próxima do oceano está muito fofa. Mesmo com uma caminhonete de maior tração, tivemos dificuldade de passar. Isto indica que o fluxo de sedimentos está indo para o oceano.
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Pequenas ilhas
Com as rupturas, o local terá pequenas ilhas, que ficarão suscetíveis a uma série de problemas. Isso vai diminuir o tamanho delas cada dia mais, até ser engolida pelo mar.
Segundo Júlio, o processo de perda de sedimentos que também está associado à forte erosão observada no município vizinho de Itaporanga D'Ajuda.
A praia do Viral é uma barra arenosa, um pedaço de areia depositado pela confluência entre o rio e o mar. Nesse cenário, é muito difícil falar em uma recuperação natural.
Júlio conta ainda que a perda de sedimentos também vai afetar o mangue que fica antes da praia.
Percebemos areia entrando na parte do manguezal, e geralmente eles não toleram areia em excesso. Podemos observar uma mortandade pontual de manguezal.
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