Topo

Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em busca do voto feminino, Bolsonaro toma enquadrada de ministras do STF

As ministras do STF Cármen Lúcia e Rosa Weber durante sessão - José Cruz/Agência Brasil
As ministras do STF Cármen Lúcia e Rosa Weber durante sessão Imagem: José Cruz/Agência Brasil

Colunista do UOL

13/09/2022 15h50

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A menos de três semanas para as eleições, Jair Bolsonaro luta para conquistar o voto feminino. No Sete de Setembro, disse que a esposa, Michelle, era uma "mulher de Deus" e recomendou aos homens solteiros que se casem com uma princesa. Ontem, Bolsonaro preferiu não ir à cerimônia de posse de Rosa Weber na presidência do STF (Supremo Tribunal Federal). Sabia que o discurso poderia conter recados que poderiam deixá-lo em uma saia justa com a terceira mulher a comandar a Corte. Estava certo.

Não apenas Rosa Weber, mas Cármen Lúcia, que discursou antes, escolheu mensagens que atingem Bolsonaro, ainda que o nome dele não tenha sido mencionado e que ele não estivesse no local. Cármen Lúcia disse que a colega era uma "mulher de bem" e que "mecanismos novos ou antigos de sequestro institucional são criminosos, graves e incompatíveis com os ditames constitucionais".

Ainda segundo Cármen Lúcia, "todos os julgamentos levados a efeito pelo Judiciário se baseiam no Direito, respeitando-se o devido processo legal, os direitos e as garantias fundamentais da ampla defesa e do contraditório das partes, mas também preservada sempre a independência para a imparcialidade dos juízes". Com frequência, Bolsonaro critica as decisões do STF, especialmente sobre temas caros a ele.

O embate mais recente entre Bolsonaro e o tribunal foi quando Alexandre de Moraes determinou buscas e apreensões em endereços de empresários apoiadores do presidente que defenderam golpe de Estado caso Lula seja eleito em outubro. Moraes, assim como Edson Fachin, os dois ministros mais alvejados pelas críticas de Bolsonaro, receberam menção honrosa no discurso de Rosa Weber.

Segundo a nova comandante do STF, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) neste ano, "sob o comando firme do ministro Alexandre de Moraes, e em estrada competentemente pavimentada pelo ministro Edson Fachin, mais uma vez garantirá a regularidade do processo eleitoral, a certeza e a legitimidade dos resultados das urnas, e em fiel observância aos postulados de nossa Constituição, o primado da vontade soberana do povo". Bolsonaro tem atacado a credibilidade do sistema eleitoral em quase todas as manifestações públicas.

Rosa Weber também elogiou o papel da imprensa, outra instituição escolhida como inimiga por Bolsonaro. A ministra disse no discurso que "sem imprensa livre não há democracia". Também defendeu a laicidade do Estado brasileiro, pleno exercício da liberdade religiosa, rejeição aos discursos de ódio e repúdio a práticas de intolerância.

A nova presidente do Supremo considera que "vivemos tempos particularmente difíceis da vida institucional do país, tempos verdadeiramente perturbadores, de maniqueísmos indesejáveis". Segundo ela, o STF não pode desconhecer esta realidade, "até porque tem sido alvo de ataques injustos e reiterados, inclusive sob a pecha de um mal compreendido ativismo judicial, por parte de quem, a mais das vezes, desconhece o texto constitucional e ignora as atribuições cometidas a esta Suprema Corte pela Constituição".

Aliados de Bolsonaro que estiveram na posse afirmaram em caráter reservado à coluna que ele realmente não deveria ter ido, porque ficaria ainda mais irritado com os ministros do STF. No mês passado, o presidente foi à posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE. Saiu de lá contrariado com o discurso, cheio de recados ao presidente. O mesmo aconteceria na posse de Rosa Weber.

De acordo com o Datafolha divulgado na última sexta-feira, o presidente continua sofrendo para arrebanhar o apoio do eleitorado feminino. Bolsonaro foi 51% dos entrevistados como o que mais as ataca mulheres, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 12% das respostas. Não souberam responder 24%. Considerando apenas as mulheres, 54% disseram que Bolsonaro é quem mais as ataca.

Se o Datafolha ouvir as ministras do STF, o mais provável é que a rejeição ao presidente chegue a 100%. Rosa Weber vai comandar a Corte até outubro do ano que vem, quando se aposentará por completar 75 anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL