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Maia diz que EUA não defendem Brasil e critica "besteira" de Ernesto Araújo

Rodrigo Maia faz visita a Genebra, na Suíça - Jamil Chade/UOL
Rodrigo Maia faz visita a Genebra, na Suíça Imagem: Jamil Chade/UOL

Colunista do UOL

12/12/2019 17h41

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Resumo da notícia

  • Presidente da Câmara adota tom crítico ao governo em viagem à Suíça
  • Rodrigo Maia critica relação Brasil-EUA e enaltece instituições brasileiras
  • Deputado ataca ainda posições do chanceler Ernesto Araújo no Itamaraty

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, teceu nesta quinta-feira duras críticas contra a política externa de Jair Bolsonaro, a relação estabelecida com os EUA e ao chanceler Ernesto Araújo.

Maia viajou a bordo de um avião da FAB para Genebra, na Suíça, nesta quinta-feira. Com uma comitiva composta por outros deputados, ele manteve reuniões com Roberto Azevedo, o diretor-geral da OMC.

O deputado ainda irá visitar nos próximos dois dias organismos internacionais e a ONU, entidade frequentemente criticada pelo presidente.

Eu acho que há uma relação do Brasil com os EUA e não há uma relação dos EUA com o Brasil. E é normal. O presidente americano já está em campanha. O eleitor dele é nacionalista e basicamente anti-América do Sul, pelo menos é o que vejo à distancia.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados

Nos últimos meses, o governo americano não concretizou seu apoio para a entrada do Brasil na OCDE, não liberou o comércio de carnes nacionais e ameaçou sobretaxas o aço nacional. No mesmo período, o Brasil fez importantes concessões.

Ao ser questionado por jornalistas brasileiros sobre a diplomacia brasileira em seu primeiro ano de gestão de Ernesto Araújo no Itamaraty e a opção por um alinhamento aos EUA, Maia foi duro e alertou que não existe hoje reciprocidade.

Ninguém podia imaginar da parte do presidente americano posições concretas em defesa de uma relação com o Brasil. Não me pareceu uma coisa provável. É claro que os EUA são muito importantes, mais forte na economia mundial, é bom que o Brasil tenha uma boa relação, mas não vejo os americanos retribuindo essa convergência ideológica entre os dois presidentes em ações práticas que beneficiem a economia brasileira, por exemplo.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados

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Band Notí­cias

Na visão de Maia, a prioridade da Casa Branca hoje não é o Brasil e só se interessa pela América Latina por conta da ameaça que pode existir de uma maior implicação chinesa na região.

Questionado se a política externa de Bolsonaro deveria mudar, ele deixou claro sua insatisfação com Araújo.

O presidente foi eleito e a política externa é do governo. Agora a minha posição em relação ao ministro das Relações Exteriores é uma posição muito crítica. Acho que ele é muito ideológico e não defende os interesses práticos, pragmáticos dos brasileiros na relação com outros países. Fez mudanças em embaixadores só do ponto de vista ideológico, só porque tinham sido ministros da Dilma, uma besteira, os embaixadores são funcionários de carreira, vão atender a todos os governos respeitando a orientação do governo eleito.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados

Direitos Humanos

Na sexta-feira, um dos encontros de Maia será com a alta comissária da ONU para Direitos Humano, Michelle Bachelet, duramente questionada pelo governo brasileiro depois de seus comentários sobre a violência policial.

A ex-presidente chilena gerou um dos momentos mais constrangedores para Bolsonaro no cenário internacional. Numa coletiva de imprensa, ela repetiu críticas já realizadas por quase uma dezena de dirigentes internacionais nos últimos anos, questionando a ação policial no Brasil.

Ela também alertou que, sob a gestão de Bolsonaro, o "espaço democrático" estava "encolhendo".

Imediatamente, Bolsonaro a atacou e elogiou Augusto Pinochet, o ex-ditador chileno. O militar foi o responsável por um regime que matou o pai de Bachelet, a deteve e a torturou. Os comentários do brasileiro foram condenados por delegações de esquerda e direita, de todo o mundo.

O encontro de Maia com Bachelet ainda ocorre num momento em que o governo Bolsonaro é alvo de um número inédito de denúncias internacionais na ONU por conta das violações de direitos humanos. Neste ano, já são pelo menos 37 casos apresentados à entidade internacional.

Questionado sobre sua mensagem à chilena, ele deixou claro que vai mostrar que as instituições brasileiras estão funcionando e que a defesa dos direitos humanos é prioridade.

"Acho que as pessoas muitas vezes confundem narrativas com práticas", declarou. "O Brasil tem instituições funcionando, leis que não foram modificadas e que não mudaram marcos de defesa do cidadão, preservação do cidadão", insistiu.

"O que a gente vem aqui fazer também é mostrar que o Congresso Nacional vem cumprindo seu papel, garantindo seu espaço na sociedade, diálogo, uma agenda que tem priorizado uma agenda de reformas econômicas e sociais e não uma agenda que transforma essas narrativas em debates lei", afirmou.

Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia - Antonio Cruz / Agência Brasil - Antonio Cruz / Agência Brasil
Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia
Imagem: Antonio Cruz / Agência Brasil

Globalismo

Maia, que tem uma agenda que percorre justamente as entidades criticadas pela atual administração brasileira, fez questão de destacar a importância da ONU.

O Brasil é um país democrático. Entendemos a importância desses organismos. A importância desses organismos multilaterais.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados

Outro ponto da agenda de Maia é um encontro com Guy Ryder, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho. A agência já fez críticas ao longo do ano às políticas adotadas pelo governo e chegou a colocar o Brasil na lista de países suspeitos de violar convenções trabalhistas.

2020

Para o ano que chega, Maia ainda insistiu que a pauta do Congresso está dada. "A reforma tributária já está andando", disse. Segundo ele, o governo deve mandar também a reforma administrativa. "Tem que ser logo no início do ano. Talvez até o final de janeiro. Nós já temos a nossa bem encaminhada", disse.

Estamos com uma consultoria importante, a Falcone. Estamos com um mapeamento da situação do Congresso. Tem mais de 4 ml funções. Até para colocar broche tem uma estrutura montada. Um desperdício de dinheiro público. Estrutura salarial alta, custo alto. Servidores que custam, entre ativos e inativos, R$ 3,5 bilhões. Há muita coisa para fazer. Não apenas para reduzir custos. Mas para melhorar a qualidade do processo legislativo.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados

"Agora, precisamos que o governo mande a dele. A estrutura salarial que foi construída no Congresso, dos servidores. não é diferente do Judiciário e Executivo. É importante que se construa uma reforma dos Três Poderes para poder construir carreiras que tenham marcos iniciais de salários parecidos e não haja a competição de concursos", completou.