Brasil vê Caracas como obstáculo à influência regional e ameaça à segurança
A crise na Venezuela é considerada como uma ameaça à segurança nacional, às fronteiras do país e que impede que o Brasil recupere seus projetos de reunir, uma vez mais, a América do Sul.
Com essas considerações geopolíticas, o governo brasileiro aposta no esforço de encerrar a turbulência na Venezuela como forma de permitir a retomada da integração na América do Sul, uma das promessas de política externa de Luiz Inácio Lula da Silva.
O UOL apurou que a situação venezuelana é considerado, dentro do governo brasileiro, como estratégica para destravar a construção de novos projetos na região.
A visão do governo Lula é que, enquanto não houver uma mudança na situação em Caracas e uma normalização diante do mundo, é a própria região que continuará em um impasse. As acusações sobre o presidente Nicolás Maduro, o envolvimento de potências estrangeiras e a guerra estabelecida entre grupos progressistas e a extrema direita pelo continente paralisam os objetivos da política externa brasileira na região.
Antes da posse de Lula, um documento preparado pela equipe de transição concluiu que a postura do ex-presidente Jair Bolsonaro na Venezuela não havia funcionado. A aposta em Juan Guaidó —que se autodeclarou presidente venezuelano— foi considerada internamente como um erro e incapaz de modificar a relação de poder de Maduro.
Disputa entre hegemonias
Mas, acima de tudo, a avaliação da equipe de transição foi que, ao tentar isolar a Venezuela, fechar sua embaixada e assumir a postura de Donald Trump, o governo Bolsonaro havia criado as condições para que o país vizinho ao Brasil se transformasse num campo de batalha entre hegemonias por seu controle. Os EUA, a China e a Rússia passaram a disputar abertamente a influência na região. E tudo isso em uma das maiores fronteiras que o Brasil tem com um vizinho.
A repressão impetrada pelo governo Maduro ainda é vista no governo brasileiro como um elemento que alimenta os argumentos da extrema direita na América do Sul e impede que haja um acordo regional para a retomada dos processos de integração e a volta da institucionalização dessa reaproximação.
O Brasil considera que a reconstrução do plano sul-americano é estratégica, tanto para sua projeção no mundo quanto para a estabilização regional. Lula ensaiou algumas ações para reunir os presidentes do continente e costurar posições comuns.
Mas mesmo dentro do Palácio do Planalto, a percepção é de que, enquanto não houver uma normalização da situação da Venezuela, pouco conseguirá avançar nesse sentido.
Durante a gestão de Bolsonaro, projetos como a Unasul foram esvaziados, e governos que compartilhavam da mesma ideologia tentaram estabelecer iniciativas, sem sucesso.
A esperança é que, com a normalização da situação internacional da Venezuela, a sonhada retomada da política externa sul-americana de Lula possa ocorrer.
Segurança nacional
Outro aspecto central é o impacto que a crise venezuelana vem tendo na segurança nacional. De acordo com dados da ONU, o país é responsável por um dos três maiores fluxos de refugiados do mundo, chegando a 6,1 milhões de pessoas e superando os ucranianos.
A estimativa do Brasil é que meio milhão de venezuelanos possam estar em território nacional, sem qualquer perspectiva de retorno.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberA instabilidade também é vista como uma ameaça à região de fronteira, com o fluxo de garimpeiros, crime organizado e grupos indígenas circulando entre os dois países.
A fronteira brasileira passou a ser um dos caminhos para o contrabando de ouro venezuelano, usado pelo governo Maduro para driblar as sanções impostas pelas potências ocidentais.
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