Jamil Chade

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Chanceler venezuelano já tinha mandado governo Bolsonaro 'tomar chá'

A recomendação de Nicolas Maduro para que um chá de camomila fosse servido a quem estiver preocupado com a eleição na Venezuela foi interpretada como um recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um dia antes, o brasileiro disse que ficou assustado ao escutar de Maduro que havia um risco de um "banho de sangue" em Caracas caso ele não vencesse a eleição.

Mas essa não é a primeira vez que o governo Maduro recomenda chá às autoridades brasileiras. Ainda com Ernesto Araújo no comando do Itamaraty, o então chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, adotou a mesma receita.

Naquele momento, uma reunião ministerial extraordinária da Conferência Iberoamericana se transformou por alguns minutos em um palco de troca de farpas entre os governos do Brasil e da Venezuela. O encontro organizado tinha como objetivo tratar da resposta à pandemia da covid-19. Mas Caracas acusou o Itamaraty de usar seu tempo de discurso para atacar o governo de Nicolás Maduro.

Ernesto Araújo criticou de forma dura o governo venezuelano, chamando-o de ilegítimo. O chanceler também insistiu que o grupo de países deveria se unir para lidar com temas como democracia e liberdade e sugeriu uma espécie de cláusula pela qual apenas democracias pudessem estar presentes, uma forma de tentar excluir o regime venezuelano.

A fala do brasileiro levou o então chanceler venezuelano Jorge Arreaza a pedir aos organizadores do encontro um direito de resposta. Repleto de ironias, o ministro de Caracas não poupou provocações.

"Ficamos muito surpresos. Na verdade, não nos surpreendemos com a intervenção do chanceler Ernesto Araújo. Ficamos preocupados. Sentimos ele um pouco alterado", disse. "Além disso, que ele tenha dedicado os sete minutos de sua intervenção a um dos 22 países dessa comunidade ibero-americana, chama a atenção", afirmou.

Arreaza indicou que, enquanto o Brasil falava, ele se lembrava das palavras de Jair Bolsonaro como deputado, "quando dizia que o erro da ditadura foi torturar, e não matar". "Isso ficou para a história", apontou.

Ele também lembrou como os generais brasileiros "torturaram e mataram brasileiros que lutavam por sua liberdade". Arreaza ainda criticou a gestão brasileira da pandemia. "Sao 6,3 milhões de casos e 173 mil mortos. Isso são os direitos humanos?", questionou.

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Receita de Fidel: chá

Arreaza completou sua resposta com uma sugestão ao brasileiro. "Queria recomendar ao chanceler do Brasil uma receita. O comandante Fidel Castro estudou muito a moringa, uma planta extraordinária, com propriedades curativas e também tranquilizante", disse. "Eu quero recomendar um chá de moringa, com um pouco de valeriana. Já vai ver como se abre o espaço para a tolerância ideológica, para que possamos inclusive debater", disse.

"Podemos inclusive debater eu e o senhor, sozinhos. Eu desafio. Moringa, nos sentamos, falamos de democracia, direitos humanos, da Amazônia, de mudanças climáticas, de geopolítica", afirmou.

O então chanceler ainda mandou uma mensagem aos diplomatas brasileiros. "Sei que você estão em resistência, que têm vergonha das posições de seu chanceler. Mas, tranquilos. Isso é temporal e que, no final, nenhum governo, nenhum chanceler pode derrotar a excelência do que representa o Itamaraty. No final, esses anos serão apenas uma má lembrança e nada mais", completou.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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