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Jamil Chade

Mundo se reúne para reconstruir seu futuro. E Brasil não aparece

O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado do vice presidente Hamilton Mourão e dos ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Abraham Weintraub (Educação), e do governador do DF Ibaneis Rocha, dentre outros, durante cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares, no Palácio do Planalto -  Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado do vice presidente Hamilton Mourão e dos ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Abraham Weintraub (Educação), e do governador do DF Ibaneis Rocha, dentre outros, durante cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares, no Palácio do Planalto Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

28/05/2020 08h41Atualizada em 28/05/2020 16h35

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O governo brasileiro não faz parte de uma lista de mais de 50 países e entidades internacionais que se reuniram nesta quinta-feira para traçar uma estratégia para uma recuperação sustentável do mundo pós-pandemia.

O evento, sob comando da ONU, foi liderado pelo primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e da Jamaica, Andrew Holness. Banco Mundial, FMI e outras instituições também estiveram presentes.

Países como Argentina, Haiti, Costa Rica e Colômbia, além da UE, França, Alemanha, Japão e Reino Unido fazem parte da lista de países que farão parte do debate. O governo de Donald Trump tampouco faz parte da iniciativa.

A coluna apurou que, para participar do encontro, países teriam de ser representados pelo chefe-de-estado ou de governo. Todos, inclusive Jair Bolsonaro, foram convidados.

Seis grupos de trabalho para lidar com diferentes assuntos iniciarão agora uma negociação e avaliação de medidas concretas. Em julho, propostas serão apresentadas sobre financiamento de países em desenvolvimento, suspensão da dívida, clima e a reconstrução do mundo sob novas bases.

"Lançamos uma parceria para pensar em soluções reais", declarou o primeiro-ministro da Jamaica.

Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, confirmou que a reunião foi "o maior evento" entre chefes-de-estado e de governo desde o começo da pandemia. Pedindo "humildade", o chefe da diplomacia das Nações Unidas mandou um recado a líderes que não estejam levando a crise à sério: "recusar a gravidade é arrogância".Trudeu indicou que o mundo "começou uma conversa sobre como sair dessa crise com um mundo mais forte".

Para ele, a crise demonstra que o "mundo precisa multilateralismo como nunca precisou antes". Há duas semanas, numa outra reunião da ONU, o chanceler Ernesto Araújo sugeriu o termo "multilateralismo" deixasse de ser usado, já que ele implicaria uma "ideologia". Para ele, palavras que terminam com "ismo" se referem a uma ideologia.

Araújo aposta numa nova ordem internacional, no momento pós-pandemia, construído a partir de cinco ou seis países. Na reunião ministerial do dia 22 de abril, com Bolsonaro, o chanceler afirmou que estava seguro que o Brasil faria parte dessas novas potências que vão redesenhar o mundo. Nesse projeto, porém, não haveria lugar garantido para a ONU, pelo menos não em seu formato atual.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro tampouco participou da Assembleia Mundial da Saúde, espaço ocupado pela Colômbia e Paraguai. Procurado, o Itamaraty não explicou se Bolsonaro foi ou não convidado.

Em abril, o governo ficou ainda de fora de uma aliança internacional para o desenvolvimento de uma vacina. Mas o governo prepara uma reunião inter-ministerial para avaliar como fazer parte da iniciativa.

Desta vez, documentos revelam que o projeto tem como objetivo pensar na recuperação da economia global, com base em novos pilares e maior foco em questões de justiça social e clima. Trata-se de uma "iniciativa conjunta para acelerar a resposta global aos significativos impactos econômicos e humanos da COVID-19, e avançar soluções concretas para a emergência do desenvolvimento".

"Esta pandemia requer uma resposta multilateral em larga escala, coordenada e abrangente para apoiar os países necessitados, permitindo-lhes uma melhor recuperação para economias e sociedades mais prósperas, resilientes e inclusivas", indicam.

O "Evento de Alto Nível sobre Financiamento para o Desenvolvimento na Era da COVID-19" busca encontrar formas de "focar na recuperação sócio-econômica e nas necessidades de financiamento da pandemia".

"Devemos continuar a coordenar esses esforços para evitar um impacto devastador na vida e na subsistência das pessoas", indica.

Seis áreas de ação serão debatidas para mobilizar o financiamento necessário para a resposta e recuperação. Elas incluem "expandir a liquidez em toda a economia global; lidar com as vulnerabilidades da dívida; conter os fluxos financeiros ilícitos; aumentar o financiamento externo para o crescimento inclusivo e a criação de empregos; e estratégias para que os países se recuperem melhor, enfrentem as mudanças climáticas e restabeleçam o equilíbrio entre a economia e a natureza."

"A pandemia tem demonstrado nossa fragilidade", disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. "Estamos em uma crise humana sem precedentes, por causa de um vírus microscópico. Precisamos responder com unidade e solidariedade, e um aspecto fundamental da solidariedade é o apoio financeiro", completou.

Para Trudeau,"todos os países estão sendo testados pela COVID- 19, e isso ameaça minar nossos ganhos de desenvolvimento duramente conquistados. Sabemos que a melhor maneira de ajudar todos os nossos povos e economias a se recuperarem é trabalhar juntos como uma comunidade global", defendeu.

"Se não agirmos agora, as projeções da ONU indicam que a pandemia poderá cortar quase US$ 8,5 trilhões da economia global nos próximos dois anos, forçando 34,3 milhões de pessoas à pobreza extrema este ano, e potencialmente, mais 130 milhões de pessoas durante esta década", alertou a ONU.