Covid gerou perda equivalente a 11 milhões de postos de trabalho no Brasil
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Resumo da notícia
- OIT indica que trabalhadores brasileiros sofreram duas vez mais que média global em 2020
- Perda de renda foi de 21% no Brasil no primeiro semestre
- Crise mundial no mercado de trabalho é a maior desde a Grande Depressão, de 1929
- No mundo, 81 milhões abandonaram a busca por trabalho e 33 milhões perderam seus empregos
- Outras 141 milhões de pessoas tiveram suas horas de trabalho reduzidas
A pandemia da covid-19 teve um impacto no desemprego no Brasil quase duas vezes superior que a média mundial. A constatação é da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, nesta segunda-feira, publica seu informe anual em meio ao debate sobre como resgatar o crescimento. O debate está no centro da agenda da reunião do Fórum Econômico Mundial, que ocorre nesta semana de maneira virtual.
De acordo com o levantamento, "o continente americano é a região mais afetada pela crise da covid-19, registrando uma perda total de 13,7% em termos de horas de trabalho durante 2020".
Dentro da região, a América Latina e o Caribe registraram a maior perda, com 16,2%. Já as perdas de horas de trabalho no Brasil seriam de 15%, contra 12% no México.
As perdas no Brasil seriam equivalentes a 11,1 milhões de postos de trabalho, o quarto número mais elevado do mundo em termos absolutos.
Esse número inclui as pessoas que foram demitidas, as pessoas que abandonaram o mercado de trabalho e aqueles que tiveram suas horas de trabalho reduzidas.
Os dados brasileiros revelam um tombo bem maior que a média global. No mundo, a OIT estima que 8,8% das horas de trabalho globais foram perdidas durante todo o ano passado, o que seria o equivalente a 255 milhões de empregos em tempo integral. A crise, portanto, é quatro vezes maior que aquela sofrida por trabalhadores durante a crise financeira global de 2009.
"Trata-se da maior crise no mercado de trabalho desde os anos 30", alertou Guy Ryder, diretor-geral da OIT.
Essas horas de trabalho perdidas são contabilizadas ou pela redução do horário de trabalho para aqueles com emprego ou por níveis "sem precedentes" de perda de emprego.
A estimativa é de que 33 milhões de pessoas no mundo foram afetadas pela perda completa de emprego, elevando o desemprego global para 220 milhões de pessoas. Mas a avaliação da OIT é de que olhar apenas para as taxas de desemprego subestima drasticamente o impacto da COVID-19 no mercado de trabalho.
Um número ainda maior de pessoas desistiu de trabalhar. 81 milhões de pessoas pelo mundo deixaram o mercado de trabalho porque não puderam trabalhar, talvez por causa de restrições pandêmicas, ou simplesmente deixaram de procurar trabalho.
O impacto sobre o trabalhador brasileiro foi bem superior ao que enfrentaram em 2020 a classe trabalhadora no Canadá e os Estados Unidos, com quedas em horas trabalhadas de 9,2% e 9,3%, respectivamente.
A Europa, o declínio estimado foi de 9,2% no horário de trabalho, com perdas na Itália e Espanha de 13,5% e 13,2%, respectivamente. Já na Ásia o declínio anual estimado em horas de trabalho é de 7,9%. Os dois maiores países da região, China e Índia, registraram perdas médias anuais estimadas de 4,1% e 13,7%, respectivamente.
Perda de renda do trabalhador no Brasil também foi superior à média global
Se o discurso do governo de Jair Bolsonaro era de que precisava manter o foco na garantir da renda do trabalhador durante a crise sanitária, a realidade é que o país não teve êxito nem em controlar o vírus e nem em proteger a situação econômica das famílias.
Dados ainda referentes ao primeiro semestre de 2020 revelam a dimensão do impacto da covid-19 no mercado de trabalho no Brasil.
De acordo com a OIT, o Brasil experimentou um declínio na renda do trabalho de 21% no segundo trimestre de 2020, juntamente com uma perda de 22% em horas de trabalho. No Reino Unido, a queda da renda foi de apenas 3%, contra 4% na Itália.
No mundo, a perda média de renda foi de 8,3% na renda global do trabalho, equivalente a US$ 3,7 trilhões ou 4,4% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
Quem mais perdeu foi a camada de trabalhadores de baixa e média qualificação. No Brasil, a queda na renda desse segmento foi de 28%, contra uma redução de 17,9% entre os trabalhadores mais qualificados.
"Isso em parte reflete o maior escopo de teletrabalho entre os trabalhadores altamente qualificados. Os trabalhadores em ocupações de média qualificação (administrativos, de serviços e de vendas, agrícolas, artesanais e afins, e trabalhadores de máquinas e instalações) e de baixa qualificação sofreram perdas comparativamente maiores na renda do trabalho pós-suporte do que os trabalhadores altamente qualificados", explicou a OIT.
No Brasil, Peru, Itália, Estados Unidos e Vietnã, as mulheres sofreram maiores perdas na renda do trabalho pós-apoio do que os homens, enquanto o inverso foi observado no Reino Unido. A taxa de perda para as brasileiras foi de 22%, contra 20% para os homens.
Já os jovens viram sua renda desabar em 30%, o que poderia criar um risco real de uma geração perdida no País.
Perdas vão continuar em 2021 e pacotes de resgate precisam continuar
Para a OIT, governos precisam manter os pacotes de apoio a trabalhadores, inclusive no Brasil. O Planalto indicou que o auxílio emergencial era "caro". Mas, para Ryder, governos não podem se dar ao luxo de não socorrer os trabalhadores.
"Sim, são caras. Mas não temos como não aplica-las", disse o chefe da OIT. Para ele, se os pacotes de ajuda forem retirados há um risco de uma pressão ainda maior para a integridade do tecido social. "Não vai ser surpresa se isso atingir a política e afeta a confiança na democracia. Há muito em jogo", completou.
De acordo com a OIT, existem sinais no cenário global de recuperação no mercado de trabalho em 2021. Mas essa retomada não virá nem para todos e nem para todas as regiões.
A projeção é de que ainda haverá uma perda de 3% das horas de trabalho neste ano, equivalente a 90 milhões de empregos em tempo integral.
Mas um cenário mais pessimista, que pressupõe um progresso lento na vacinação em particular, veria as horas de trabalho cair 4,6%.
A entidade teme que, ao final da pandemia, países como o Brasil se encontrem com taxas de desigualdade ainda maiores. "Estamos em uma encruzilhada na estrada. Um caminho leva a uma recuperação desigual, insustentável, com desigualdade e instabilidade crescentes, e a perspectiva de mais crises. O outro concentra-se em uma recuperação centrada no ser humano para reconstruir melhor, priorizando o emprego, a renda", disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.
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