Milei e Paraguai se transformam em raro apoio internacional de Netanyahu
Num gesto que rompe com a tradição da América do Sul na defesa da causa palestina, os governos da Argentina e Paraguai se transformaram em um dos poucos apoios do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na ONU e no palco internacional.
Em diferentes votações nas Nações Unidas nos últimos dias, os dois governos sul-americanos promoveram uma guinada inédita em suas respectivas posições diplomáticas e passaram a votar contra resoluções que defendem interesses da Palestina.
Nesta quinta-feira, por exemplo, o governo da Noruega apresentou um projeto de resolução que pedia que a Corte Internacional de Justiça examinasse a obrigação de Israel de permitir que ajuda humanitária fosse entregue em Gaza.
Apenas doze países votaram contra, entre eles os micro-estados de Tonga Nauru, Papua e Palau. Israel e EUA também rejeitaram a proposta, como era esperado. Mas a surpresa foi o voto contrário por parte de Paraguai e Argentina.
Um dia antes, a mesma Assembleia Geral da ONU votou uma resolução condenando a destruição de recursos naturais por parte de Israel em terras palestinas. 162 países votaram pelo texto e apenas oito contra. Um deles foi a Argentina, além de Israel e EUA. O Paraguai, sem explicar, se absteve.
No início da semana, a ONU votou outra resolução, desta vez apoiando o direito à autodeterminação dos palestinos. No total, 172 países votaram pela resolução, incluindo grande parte de europeus.
Israel e EUA votaram contra e, uma vez mais, os governos da Argentina e Paraguai seguiram o mesmo caminho de rejeitar o direito dos palestinos.
Na semana passada, foi a vez de o governo de Javier Milei e do Paraguai de rejeitar um texto na ONU que pedia um cessar fogo imediato em Gaza. Apenas nove países do mundo adotaram tal postura,
A série de apoios sul-americanos ao governo de Israel ainda incluiu o voto contrário de Milei e dos paraguaios a uma resolução que declarava o endosso internacional à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos, a UNRWA. No total, a resolução contou com o apoio de 159 países do mundo.
Voto por Netanyahu tem Trump como objetivo
Para diplomatas sul-americanos consultados pelo UOL, o comportamento de Milei faz parte de uma ofensiva da extrema direita de sair ao resgate de Israel, acusado de genocídio, e contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Mas esse não é o único motivo. Milei quer deixar claro o futuro governo de Donald Trump que estará alinhado à posição internacional da Casa Branca. A esperança do argentino é o de ser acolhido como o principal aliado do americano nas Américas, inclusive com um impacto financeiro e comercial.
No caso do Paraguai, o objetivo do reposicionamento também tem Trump como objetivo. O governo de Assunção tenta emplacar a eleição de um paraguaio como secretário-geral da OEA e, para isso, precisa do apoio de Trump.
Os votos, portanto, são vistos pela diplomacia sul-americana como uma "piscada" ao americano, numa sinalização de que o Paraguai está disposto a se alinhar com Trump caso receba seu apoio.
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