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Eventos climáticos extremos se multiplicarão, diz painel científico global
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Resumo da notícia
- Informe do IPCC que será lançado na próxima semana vai constatar relação entre mudanças climáticas e as atividades humanas
- UOL obteve com exclusividade rascunho do texto que está sendo alvo de negociações nesta semana
- Verões mais longos e mais quentes, secas e chuvas torrenciais vão se intensificar, mesmo se humanidade frear emissões de CO2
A frequência de eventos climáticos extremos - chuvas torrenciais, elevação do nível do mar, secas e elevadas temperaturas em locais tradicionalmente frios - será multiplicada ao longo do século 21, mesmo que a humanidade consiga frear o aumento das emissões de CO2. E isso já é o resultado da ação humana no planeta.
A constatação fará parte do novo informe do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e que será lançado na próxima segunda-feira. Há mais de uma década, o grupo que recebeu o prêmio Nobel da Paz constatou que as mudanças climáticas já eram uma realidade. Agora, apontam que tal cenário está intimamente relacionado com a atividade humana e que não se trata de um ciclo do planeta.
O documento, o primeiro de tal dimensão em sete anos, está sendo negociado por cientistas e representantes de governos nesta semana. Mas de acordo com o rascunho do informe obtido pelo UOL, todos os indicadores e previsões apontam para um cenário mais grave do que se imaginava há apenas dez anos.
O texto elaborado por mais de 240 cientistas e com mais de 3,9 mil páginas também deixa claro: "influência humana aqueceu o sistema climático a uma taxa que não tem precedentes nos últimos 2 mil anos".
O informe vem em um momento em que a Europa descobre o impacto mortal das chuvas, que o Canadá registra 49 graus Celsius e temporais assolam a China.
"É praticamente certo que a frequência e intensidade do calor extremo e a intensidade e duração das ondas de calor aumentaram na maioria das regiões terrestres desde 1950, enquanto os extremos frios se tornaram menos frequentes e severos", diz o informe.
"As ondas de calor marítimas se tornaram mais frequentes no século 20 e a influência humana contribuiu muito provavelmente para 84-90% desses casos desde pelo menos 2006", indicou.
De acordo com o IPCC, a influência humana contribuiu também para a seca e "é provável que a proporção de ciclones tropicais que são categorizados como intensos tenha aumentado mais nas últimas quatro décadas". "Esta mudança não pode ser explicada apenas pela variabilidade natural", confirma.
Emissões de CO2 estão relacionadas com temperaturas
Na avaliação do IPCC, há uma relação direta entre as emissões de CO2 e as temperaturas do planeta para o restante do século. O grupo acredita que, em comparação ao nível médio entre 1850 e 1900, a temperatura média global da superfície entre os anos 2080 e 2100 será entre 1,0°C e 1,8°C acima, mesmo com a taxa mais baixa de emissões.
Mas se nada for feito em termos de emissões, as temperaturas ficarão 3.3°C a 5,7°C acima. Tal transformação apenas foi registrada há mais de 3 milhões de anos.
"Há uma relação linear entre as emissões cumulativas de CO2 e o aquecimento global que elas provocam", aponta. Para cada 1000 PgC de CO2 acumulado pode causar um aumento de temperatura de 1,0°C -2,3°C.
Esta relação implica, segundo o IPCC, que estabilizar a relação entre a atividade humana e o aumento de emissões é fundamental para frear o aumento da temperatura global.
Cada meio grau adicional de aquecimento global ainda causa aumentos estatisticamente significativos em temperaturas extremas, na intensidade da precipitação forte e a severidade das secas.
"A ocorrência de eventos extremos que são raros no presente aumentará com o aquecimento global adicional, mesmo a 1,5°C", alerta.
De acordo com o IPCC, portanto, mesmo com a situação se estabilizando, a frequência e intensidade de calor extremo e a duração das ondas de calor vão aumentar. Em algumas regiões, a incidência de eventos extremos pode ser duas ou três vezes maior ao longo do século.
Recordes sendo batidos
Ao longo do informe, todos os dados apontam como recordes foram batidos nos últimos anos, seja em termos de temperaturas, cobertura de gelo ou transformações climáticas.
"Nos últimos 50 anos, a temperatura da superfície global observada aumentou a uma taxa sem precedentes pelo menos nos últimos 2000 anos", diz. "É mais provável que a década mais recente tenha sido globalmente mais quente do que qualquer outra década desde o auge da última interglacial, cerca de 125 mil anos atrás", afirma.
De acordo com o IPCC, durante a última década, a cobertura anual de gelo do mar Ártico atingiu seu nível mais baixo desde pelo menos 1850, e a cobertura no final do verão foi menor do que em qualquer outra época durante pelo menos os últimos 1000 anos. A recente retirada global das geleiras é sem precedentes, pelo menos nos últimos 2000 anos", constatam.
O documento também aponta que a taxa de elevação do nível médio global do mar a partir de 1900 subiu mais rapidamente do que em qualquer outra época em pelo menos os últimos 3 mil anos. Já a taxa de "ganho de calor do oceano foi maior no século passado do que em qualquer outra época desde o fim da última era glacial".
A acidificação da superfície do oceano é maior agora, e tem aumentado mais rapidamente, do que em qualquer outra época do século passado.
Para os cientistas, tais extremos "teriam sido extremamente improváveis de ocorrer sem a influência (do homem) sobre o sistema climático".
Sem uma redução drástica de emissões de CO2, a previsão é de que o século 21 veja a temperatura ultrapassar a elevação de 2°C, em relação à média entre o período de1850-1900. Mesmo se o mundo neutralizar as emissões de CO2 até 2050, o risco é de que se atravessa a elevação de 1,5°C.
Aquecimento mais cedo e elevação do nível do mar
Outra constatação dos cientistas é de que o mundo viverá uma transformação de seu clima anos antes do que se previa originalmente. A elevação intensa poderá já ser identificada na 2030. Isso é cerca de dez anos antes das estimativas feitas no início do século.
No informe, a temperatura pode exceder na década de 2030 a marca de 1,5°C em relação ao período de 1850-1900, com uma probabilidade entre 40% e 60%.
Os glaciais continuarão a perder massa por pelo menos várias décadas, mesmo que a temperatura global esteja estabilizada. Há uma alta confiança de que tanto a Groenlândia quanto as placas de gelo da Antártida continuarão a perder massa ao longo deste século. "Os processos de desestabilização das placas de gelo poderão contribuir com mais de um metro adicional de aumento do nível do mar até 2100", dizem.
O IPCC também desfaz qualquer ilusão sobre a questão das cidades costeiras. "É praticamente certo que o nível médio global do mar continuará a subir ao longo do século 21, com uma provável elevação de 0,28-0,55 m (no cenário mais baixo) e 0,63-1,02 m (no cenário mais pessimista) em relação à média de 1995-2014", diz.
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