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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Citando Bruno e Dom, indígenas denunciam Brasil na ONU

Colunista do UOL

20/06/2022 06h33

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Pela primeira vez desde a confirmação dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, o governo brasileiro é alvo de uma denúncia na ONU (Organização das Nações Unidas) citando o episódio no Vale do Javari (AM). Grupos representando diferentes povos indígenas vão alertar que os crimes da semana passada fazem parte de um quadro geral de execuções contra lideranças.

Nesta segunda-feira, numa declaração conjunta submetida à Secretaria do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) destacaram a violência contra as terras indígenas.

A denúncia foi lida em um vídeo por Lunici de Almeida, do povo Guaraní-Kaiowá, ao relator da ONU para liberdade de associação, Clément Nyaletossi Voule. O ato faz parte de uma ofensiva de grupos indígenas, de defensores de direitos humanos e ambientalistas contra o governo de Jair Bolsonaro.

Conforme o UOL revelou na semana passada, as mortes dos dois homens no Vale do Javari foram consideradas dentro do Itamaraty como uma "bomba" para a imagem internacional do país. Diplomatas chegaram a alertar que a nova crise praticamente "sepulta" qualquer esforço internacional do governo para ser aceito entre a ala democrática no mundo.

Por falta de tempo no encontro em Genebra, o vídeo com a denúncia não foi exibido aos demais governos. Mas o alerta consta do material final da reunião e é apenas o primeiro de diversas denúncias que serão entregues para a ONU nos próximos dias. Se a iniciativa não acarreta numa ação imediata por parte da comunidade internacional ou por parte das entidades estrangeiras, a meta é de ampliar o constrangimento do governo Bolsonaro no exterior.

"Retomadas, uma forma de protesto indígena para ocupar nossos territórios tradicionais, demarcados ou não, são reprimidos com grave violência pela polícia", disse a líder indígena, no material submetido ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

"Como mulher, minhas irmãs e eu lideramos a recuperação de nosso território tradicional", contou. "O governo ruralista tentou libertar nossas terras para a exploração não indígena e fomos violentamente expulsos, em uma ação totalmente ilegal", denunciou Lunici, num ato que também contou com o apoio do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL).

A liderança apresentou o caso de mais um assassinato. "Neste momento um jovem de nossa aldeia, Alex Lopes, foi executado em uma fazenda que invade nosso território", disse. "Indignada com a crueldade, a comunidade retomou o território e está em risco de ser despejada", contou.

Citando os casos de Bruno e Dom, ela insistiu em rejeitar a violência. "Não às execuções, torturas e desaparecimentos. É nosso direito de recuperar nossas terras. Pertencemos à terra, e lutaremos por ela até o final", declarou.