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Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Sob embargo, Rússia quase dobra exportações ao Brasil e negocia diesel

16.fev.22 - Presidente russo Vladimir Putin e Jair Bolsonaro apertam as mãos durante uma entrevista coletiva após suas conversas em Moscou, Rússia - SPUTNIK/via REUTERS
16.fev.22 - Presidente russo Vladimir Putin e Jair Bolsonaro apertam as mãos durante uma entrevista coletiva após suas conversas em Moscou, Rússia Imagem: SPUTNIK/via REUTERS

Colunista do UOL

08/08/2022 04h00

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Submetida a um dos maiores pacotes de sanções por parte das potências ocidentais, a Rússia registrou um aumento de 95% nas exportações ao Brasil entre janeiro e julho de 2022. Os dados são do Ministério da Economia e apontam ainda que, com o aumento do fluxo, os russos superaram alguns dos tradicionais parceiros comerciais do Brasil.

Desde fevereiro, o governo russo sofre embargos comerciais, financeiros e diplomáticos por parte de EUA e Europa. As medidas foram tomadas por conta da invasão da Ucrânia e na esperança de asfixiar a economia russa.

Mas o presidente Vladimir Putin deixou claro que iria redirecionar suas vendas. De fato, essa foi a mensagem que ele, em junho, passou aos demais países na cúpula dos Brics, formada por China, Índia, Brasil e África do Sul, além da própria Rússia.

No Itamaraty, negociadores relataram ao UOL que, ao longo dos primeiros meses da guerra na Ucrânia, uma forte pressão foi feita por americanos e europeus sobre o Brasil para que o governo de Jair Bolsonaro aderisse às iniciativas para isolar a Rússia.

Houve ainda uma reação de desconfiança em relação ao presidente brasileiro depois que ele, às vésperas da invasão russa ao território ucraniano, visitou o Kremlin. Mais recentemente, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, criticou a postura de Bolsonaro sobre a guerra.

Em meados de julho, os dois presidentes conversaram pelo telefone. "Eu peço que todos os parceiros comerciais se unam às sanções contra o agressor", afirmou Zelensky em sua redes sociais, ao explicar a conversa com Bolsonaro.

O Palácio do Planalto, porém, não atendeu aos pedidos por aderir às sanções e manteve o diálogo com o Kremlin, inclusive optando por abstenções em resoluções na ONU contra Putin. Em certos debates, a diplomacia brasileira chegou mesmo a criticar as sanções contra a Rússia, alertando para o fato que as medidas poderiam causar um aumento substancial da fome no mundo.

Sem qualquer tipo de sanções, os dados oficiais confirmam a expansão no fluxo russo com o Brasil. Entre janeiro e julho de 2021, o país tinha importado da Rússia um total de 2,6 bilhões de dólares. Já nos sete primeiros meses de 2022, a conta subiu para 5,1 bilhões de dólares.

No mesmo período, o Brasil aumentou importações em média de todo o mundo a uma taxa de 32%. Assim, se em 2021 os produtos russos representavam 2,2% de toda a importação brasileira, hoje eles já ocupam 3,3% das compras nacionais.

Da 11ª posição no ranking dos países com maior participação no mercado brasileiro em 2021, a Rússia hoje é a quinta colocada.

Com o aumento no fluxo, a Rússia hoje superou as vendas do México, Coreia do Sul, Japão, Canadá e o acumulado de todos os países da Comunidade Andina. No atual ritmo, não se descarta que o volume possa ultrapassar as compras de produtos argentinos feitas pelo Brasil, avaliada hoje em 7,1 bilhões de dólares nos sete primeiros meses do ano.

Dois aspectos pesaram. O primeiro deles foi o aumento real no preço de combustíveis, o que fez com que, em valores, o aumento na importação ao Brasil fosse registrado. O mesmo fenômeno chegou a ocorrer entre os europeus e outros parceiros.

Mas fontes diplomáticas ainda indicaram que outro aspecto que pesou foi a decisão do Brasil de antecipar a importação de fertilizantes da Rússia, justamente para garantir o abastecimento para a agricultura brasileira.

Um dos temores era de que as sanções afetassem a capacidade de transporte e financiamento das cargas.

Brasil negocia compra de diesel russo

Em Brasília, a expectativa é de que o fluxo comercial continue em um ritmo intenso. De fato, entre julho de 2021 e julho de 2022, o aumento nas importações vindas da Rússia foi de 127%, um dos maiores saltos entre os principais parceiros comerciais do Brasil.

O UOL apurou que o Brasil ainda recebeu uma licença do governo russo para começar a importar também diesel, numa manobra que tem como objetivo contribuir para reduzir os preços dos combustíveis no país.

De acordo com diplomatas, há neste momento uma negociação para estabelecer preços e condições para essa importação.

Em junho, Jair Bolsonaro havia sinalizado que o tema havia feito parte de um diálogo que ele manteve com Vladimir Putin.

Durante o período da guerra, as exportações brasileiras para a Rússia também aumentaram. Mas em uma taxa bem inferior. De acordo com os dados oficiais do Ministério da Economia, o volume passou de 843 milhões de dólares em 2021 para 1,1 bilhão em 2022.