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Lula e Xi acertam apoio mútuo a plano de paz na Ucrânia
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Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era recebido com pompas pelo governo chinês e acordos eram assinados entre os dois governos, negociadores de Brasília e de Pequim se debruçaram na busca de um entendimento sobre uma declaração conjunta que tratasse da guerra na Ucrânia.
No texto, costurado entre os dois países durante os últimos dias e antecipado pelo UOL, ficou previsto:
- Uma defesa da paz por parte de Brasil e China. "As partes afirmam que o diálogo e negociação são a única saída viável para a crise na Ucrânia e que todos os esforços conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados".
- O Brasil assume publicamente que "recebeu positivamente " o plano de paz de Pequim, proposto para lidar com as demandas russas e ucranianas
- A China também "recebeu positivamente" os esforços do Brasil para buscar caminhos para promover a paz na Ucrânia
Um dos pontos principais da declaração é um apelo para que outros países se unam à defesa de um caminho de paz para o conflito.
Processo negociador
Enquanto a comitiva brasileira estava em Xangai, no dia 13 de abril, o assessor especial da presidência, Celso Amorim, embarcou para Pequim. Lá, negociou com os chineses o texto, em especial as referências sobre a guerra na Ucrânia.
No dia seguinte, horas antes de Lula encontrar com Xi, uma nova reunião foi marcada para alinhar alguns dos trechos mais delicados da declaração. Diplomatas brasileiros confirmaram que os negociadores chineses concluíram o processo em um tom de satisfação, indicando que apenas precisariam de uma chancela final.
A aproximação entre China e Brasil sobre a questão ucraniana é vista com suspeitas por parte das capitais ocidentais, que temem que a versão de um acerto entre os emergentes possa beneficiar a Rússia.
Documentos do Pentágono, vazados nos últimos dias nas redes sociais, sinalizaram que o governo do russo Vladimir Putin considerou a proposta brasileira para criar um grupo de negociação para a guerra na Ucrânia como forma de reduzir a pressão do Ocidente contra o Kremlin.
Os documentos foram divulgados nas redes sociais, sem que o responsável pela exposição dos textos fosse identificado. No governo americano, o vazamento abriu uma crise e apelos para que investigações fossem realizadas. Alguns dos papéis foram confirmados pela inteligência americana como verdadeiros.
Procurado pelo UOL, o Itamaraty sinalizou que não comentaria.
Entre as diferentes informações reveladas, uma se refere ao Brasil e à proposta do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para criar uma espécie de grupo de contato para permitir que países que não fazem parte da guerra pudessem facilitar um diálogo e colocar fim à guerra.
De acordo com os documentos da inteligência americana, Moscou iria fazer uso da proposta de Lula a seu favor.
Segundo o vazamento, diplomatas russos sinalizaram que estavam dispostos a considerar a proposta de Lula. Moscou acreditava, segundo a inteligência americana, que o plano "para criar um clube de mediadores supostamente neutros para lidar com a guerra na Ucrânia rejeitaria o paradigma do Ocidente de agressor-vítima". A informação foi primeiro revelada pelo Miami Herald, na terça-feira.
Moscou vive um cerco diplomático, econômico, financeiro e até esportivo, com embargos e sanções. Na ONU, o esforço do Ocidente é o de designar os russos como os únicos responsáveis pela guerra, na condição de agressor.
Nos primeiros meses de seu governo, o presidente brasileiro fez declarações sugerindo equiparar a situação de Rússia e Ucrânia, o que deixou capitais ocidentais em estado de alerta. Ainda que Lula tenha conversado por telefone com Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, algumas de suas votações na ONU também geraram preocupação entre as potências ocidentais.
Uma delas ocorreu há duas semanas, quando o Brasil foi um dos únicos países a ficar ao lado de uma proposta da Rússia de criar um grupo de investigação na ONU para examinar as explosões nos gasodutos no mar do Norte. Ao lado de Brasil estavam apenas a China e a própria Rússia.
Em março, quando Lula esteve em Washington, o governo de Joe Biden recebeu com frieza a proposta do brasileiro de criar um grupo de negociadores. Naquele momento, a Casa Branca deixou claro que qualquer iniciativa apenas poderia contar com países que declarassem que a Rússia havia sido a única agressora e que a Carta das Nações Unidas havia sido violada por Moscou.
Lula, porém, saiu de Washington tendo assinado um documento conjunto no qual condenava a agressão russa. Para experientes embaixadores brasileiros, era esse o objetivo de Biden com a visita de Lula. "Os americanos conseguiram o que queriam", disse um deles.
Os documentos vazados também apontavam que, segundo os americanos, o governo brasileiro planejava enviar para Moscou uma delegação de alto escalão na primeira quinzena de abril. De fato, no começo de abril, o assessor especial de Lula para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, viajou para Moscou e manteve uma reunião com Putin. No dia 17, será a vez de Sergei Lavrov, chanceler russo, de visitar o Brasil. Uma reunião com o presidente Lula está sendo planejada.
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