Rascunho do discurso de Lula na ONU cita ameaça das redes sociais
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá citar as ameaças das redes sociais para a democracia em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Rascunho do texto que circulou no governo nos últimos dias trazia referências ao tema e seu impacto na difusão de desinformação e mentiras.
O UOL apurou que, por mais de dez dias, o texto tem sido construído a partir de avaliações envolvendo diferentes departamentos do Itamaraty, assim como a missão do Brasil junto à ONU, em Nova York.
A referência às plataformas digitais foi incluída diante do tom usado por Lula, principalmente ao colocar em questão o comportamento do bilionário Elon Musk diante do uso do X (ex-Twitter).
A decisão final sobre o que permanecerá no discurso ou não cabe ao Palácio do Planalto que, nesta semana, está concluindo a redação e determinando as últimas orientações sobre a participação de Lula em Nova York. O presidente desembarca na noite de sábado e, a partir de domingo, terá reuniões e eventos diários.
No domingo, Lula é um dos primeiros a discursar na Cúpula do Futuro, organizada pela ONU como forma de resgatar a própria entidade e compromissos dos governos com um sistema multilateral baseado em regras. Nessa participação, o presidente deve reforçar o apelo por uma reforma do sistema internacional de poder, de organismos como a ONU e o FMI, além de insistir sobre a questão ambiental.
Na segunda-feira, o brasileiro será um dos convidados de um evento organizado por Bill Clinton, ex-presidente dos EUA.
"Nenhuma empresa está acima da lei", disse Amorim
A abertura da Assembleia Geral, e ponto culminante da viagem, ocorre na terça-feira. Lula aproveitará que é o primeiro a discursar e conta com uma sala lotada para dar uma mensagem ainda como presidente do G20 e convocar os países para a COP30, em 2025.
Numa reunião do Brics organizada pelo governo de Vladimir Putin, na semana passada, o assessor especial da presidência do governo Lula (PT), Celso Amorim, já mandou um recado indireto ao bilionário Elon Musk.
"Nenhuma empresa ou indivíduo deve pensar que está acima da lei só porque está conduzindo seus negócios internacionalmente pela Internet", afirmou. "Nossa soberania não está à venda", disse Amorim, sem mencionar diretamente o nome de Musk.
"A liberdade de expressão, que respeitamos totalmente, não pode ser usada indevidamente como licença para agressão contra nossas instituições democráticas", afirmou. "Precisamos promover um espaço cibernético que seja aberto, seguro, estável, acessível e pacífico. Temos que trabalhar para diminuir as lacunas digitais, superar a desigualdade e promover o desenvolvimento sustentável", defendeu.
Os riscos da IA
Amorim ainda afirmou que "mais cooperação é essencial para garantir que a Inteligência Artificial cumpra sua promessa de aprimorar o progresso humano". Mas alertou para o risco de que ela esteja apenas nas mãos de poucos países.
"Devemos estar alertas para que a IA não seja controlada por apenas alguns centros de poder", disse.
"Tampouco desejamos que a IA substitua os seres humanos nas decisões sobre o uso de força letal. As implicações morais e éticas são graves e merecem nossa atenção", afirmou.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receber30 pedidos de encontros
No mesmo dia 24, Lula ainda presidente uma reunião com cerca de 20 países para fazer frente à extrema direita e às ameaças à democracia.
Durante a passagem do presidente por Nova York, o governo brasileiro recebeu mais de 30 pedidos de chefes de estado estrangeiros, solicitando encontros com Lula. A preferência será dada para governos que não fazem parte do G20, já que o brasileiro encontrará os chefes de estado do grupo no Brasil, para a cúpula organizada em novembro.
Nova York ainda receberá a partir do fim de semana a ex-presidente e atual chefe do banco dos Brics, Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e Arthur Lira, presidente da Câmara.
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